Os dispositivos subperiosteais são feitos sob medida para a anatomia do paciente através de dados tomográficos, o que torna a técnica mais viável e menos invasiva.
O edentulismo, perda total ou parcial dos dentes, corresponde a uma das disfunções orais mais prevalentes na população brasileira e é reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um problema de saúde pública. De acordo com a última pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2016, foi verificado que 11% dos brasileiros são totalmente desdentados, o que corresponde a um total de 16 milhões de pessoas1-2.
Nesta condição, algumas atividades básicas, como fonação e mastigação, são prejudicadas. Além disso, esses pacientes apresentam alterações psicológicas, como redução da autoestima e da integração social, contribuindo para a diminuição da qualidade de vida3. O edentulismo também apresenta relação com déficit cognitivo, havendo uma associação com efeito gradiente, de modo que, quanto menor o número de dentes, maior o risco de apresentar declínio cognitivo4.
A reabilitação dentária de pacientes parcialmente ou totalmente edêntulos com implantes dentários se tornou uma modalidade de tratamento de rotina nas últimas décadas, com resultados previsíveis a longo prazo5-6. Dentre os fatores que contribuem para o sucesso de um implante dentário, temos requisitos que incluem dimensões ósseas apropriadas (vertical, sagital e transversal), juntamente com a presença de tecidos moles adequados para a manutenção da saúde7. No entanto, podem ocorrer casos em que o paciente apresenta uma atrofia óssea severa, sendo impossível a instalação de implantes endósseos sem o uso de técnicas regenerativas complexas realizadas previamente8.
Quando observamos os motivos que justificam a existência dessa atrofia óssea, podemos citar a doença periodontal, traumas e sequelas de ressecção tumoral. Todos esses fatores podem gerar uma relação intermaxilar vertical, horizontal e sagital desfavorável, o que pode acarretar em uma reabilitação limitada do ponto de vista funcional e estético9.
Procedimentos reconstrutivos, como enxerto ósseo autógeno ou regeneração óssea guiada, são frequentemente indicados para ganho ósseo em regiões atróficas. No entanto, muitos fatores negativos estão presentes, como a necessidade de um segundo local doador, o que aumenta a morbidade, a limitação de ganho ósseo, especialmente em aumentos verticais, bem como as possíveis complicações, como riscos de fraturas em mandíbulas extremamente atróficas. Além disso, essas técnicas requerem vários meses de espera para a completa regeneração10.
No passado, a utilização dos implantes subperiosteais era considerada uma opção no tratamento dos casos de atrofia óssea severa. Seu surgimento ocorreu na década de 1940, na Suécia, seguido dos Estados Unidos11-12. Um implante subperiosteal mimetiza um implante dentário, devendo ser instalado entre o periósteo e o osso alveolar residual. Normalmente, eram feitos de cromo-cobalto ou ligas de titânio e geralmente possuíam de dois a quatro elementos transmucosos, projetando-se através da mucosa para a cavidade oral, conectando o implante à prótese13.
No início da utilização desta técnica, era realizada a impressão física da anatomia óssea residual, pois era necessário submeter o paciente a uma esqueletização de grande proporção na fase de tomada de impressão. Por diversas vezes, isso resultava em uma adaptação imprecisa no leito receptor e maior risco de infecções e complicações pós-operatórias14. Com as atuais técnicas de fabricação através da sinterização direta com laser de metal personalizado e tratamento de superfície SLA, tornou-se possível obter uma alta taxa de sucesso desses implantes e baixas taxas de complicações.
O dispositivo é feito sob medida para a anatomia do paciente através de dados tomográficos (DICOM), o que torna a técnica mais viável e menos invasiva, além de permitir a carga protética imediata15.
Referências
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- da Silva IV et al. O impacto do edentulismo na qualidade de vida: autoestima e saúde geral do indivíduo. Revista Pró-UniverSUS 2021;12(2):48-54.
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- Ângelo DF, Ferreira JRV. The role of custom-made subperiosteal implants for rehabilitation of atrophic jaws – a case report. Ann Maxillofac Surg 2020;10(2):507-511.
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- Weiss CM, Reynolds T. Special report: a collective conference on the utilization of subperiosteal implants in implant dentistry. J Oral Implantol 2000;26(2):127-8.
- Cerea M, Dolcini GA. Custom-made direct metal laser sintering titanium subperiosteal implants: a retrospective clinical study on 70 patients. BioMed Res Int 2018:5420391.
Julio Cesar Joly
Mestre e doutor em Periodontia – FOP-Unicamp; Coordenador dos mestrados em Implantodontia e Periodontia – SLMandic; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Paulo Fernando Mesquita de Carvalho
Mestre em Periodontia – SLMandic; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Robert Carvalho da Silva
Mestre e doutor em Periodontia – FOP/Unicamp; Coordenador do Instituto ImplantePerio.
Autor convidado:
Bruno Bezerra de Souza
Especialista em CTBMF– HUOL/UFRN; Mestre em Implantodontia – SLMandic.