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Uso de pilar personalizado com orifício de parafusamento angulado em reabilitações implantossuportadas unitárias

As reabilitações cimentadas são as mais utilizadas na Implantodontia e têm vantagens. No entanto, são associadas ao maior risco de desenvolvimento de doenças peri-implantares.

Atualmente, implantes osseointegrados mantendo próteses implantossuportadas unitárias são, certamente, a primeira opção de escolha para repor dentes perdidos. Essas restaurações unitárias sobre implantes podem ser cimentadas ou parafusadas1-3 – uma decisão de alta relevância clínica que irá interferir na proservação. Fatores como o posicionamento tridimensional do implante, estética almejada, reversibilidade e performance clínica (que poderia ser traduzida como as complicações biológicas ou mecânicas) devem ser considerados para a seleção do sistema de retenção2.

As reabilitações cimentadas são as mais utilizadas na Implantodontia e têm como vantagens: compensação da inclinação de implantes mal posicionados, maior facilidade em atingir a passividade protética da coroa sobre o pilar, ausência de um orifício de parafusamento na coroa (portanto, superfície oclusal intacta) e menor custo. No entanto, são associadas ao maior risco de desenvolvimento de doenças peri-implantares, além da falta de reversibilidade quando é usado cimento definitivo2-3.

Por outro lado, próteses parafusadas são reversíveis e, portanto, mais fáceis de serem removidas e reinstaladas quando há necessidade de manutenção, higienização, reparos e novas intervenções cirúrgicas. Requerem espaço interoclusal mínimo (4 mm), normalmente são mais caras2 e tecnicamente mais difíceis de serem confeccionadas, por serem obrigatoriamente personalizadas3.

Como resume um estudo3, apesar de nenhum dos métodos de fixação ser claramente melhor do que o outro, reconstruções cimentadas exibem mais complicações biológicas sérias, como perda óssea maior do que 2 mm e até mesmo perda do implante, enquanto reconstruções parafusadas exibem mais complicações técnicas, como afrouxamento ou fratura do parafuso. Por serem reversíveis, as parafusadas permitem maior facilidade de correção de quaisquer complicações e, portanto, são preferíveis.

Tal conclusão poderia esbarrar no fato de que o orifício de parafusamento é antiestético. Assim, implantes posicionados de forma vestibularizada apenas poderiam ser restaurados com próteses cimentadas. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o paciente possui anatomia de rebordo alveolar residual inclinada anteriormente, assim como pouco volume ósseo, em que a única forma de reabilitação é a instalação do implante no longo eixo deste rebordo1. Contudo, recentemente, alguns fabricantes de implantes desenvolveram sistemas protéticos que possibilitam a correção desta inclinação desfavorável, com a angulação personalizada do orifício de parafusamento do pilar implantossuportado e o uso de parafusos e chaves especiais1 em até 30 graus4, com taxas de sucesso similares aos convencionais4.

Um estudo tomográfico recente concluiu que a maioria dos implantes imediatos em região de incisivos centrais superiores necessita de angulação do orifício de parafusamento para atingir sua localização ideal, de 1,5 mm de distância da margem incisal5. Com este sistema, tornou-se possível indicar e confeccionar um número muito maior de restaurações implantossuportadas parafusadas no segmento anterior da maxila5.

Um melhor resultado estético ainda poderá ser obtido quando a cerâmica policristalina à base de zircônia é utilizada em substituição às infraestruturas metálicas6, uma vez que possuem ótimas propriedades físicas e mecânicas7. Uma complicação do uso da zircônia (3Y-TZP) é que, apesar de branca, é monocromática e altamente opaca6,8-9 – portanto, necessita de recobrimento com cerâmica vítrea para atingir harmonia com os dentes naturais adjacentes10.

A fim de diminuir o risco de delaminação da cerâmica de recobrimento sobre a zircônia7,10-11, ao invés de usar cerâmica feldspática, alguns autores têm indicado a fusão de coroas de dissilicato de lítio no pilar de zircônia6,9-10. Esse sistema demonstra resistência à flexão similar e tenacidade à fratura maior do que a coroa monolítica em zircônia12. Também, proporciona variadas formas de finalizações estéticas, como a técnica da maquiagem13, cut-back14 e estratificação total com cerâmica feldspática15 – cada qual com sua indicação para melhor mimetizar os dentes naturais adjacentes. Mesmo optando pela última, a infraestrutura em dissilicato de lítio recoberta com cerâmica feldspática foi mais resistente ao lascamento do que outros sistemas bicamadas, tanto com infraestruturas metálicas como de zircônia15.

Assim sendo, visando à união de estética, resistência e maior flexibilidade nos trabalhos clínico e laboratorial, a preferência dos presentes autores é pela reabilitação unitária de implantes com coroas de dissilicato de lítio fusionadas a pilares personalizados em zircônia, sobre interfaces friccionais de titânio, como relatado no caso a seguir.

Agradecimentos: à equipe Ero Prótese, à Joyce Morais e à Milena Correa, que prontamente disponibilizaram as imagens necessárias para complementar o relato de caso.

Referências

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