O planejamento faz parte das boas práticas de um cirurgião-dentista. Aqui, Marcelo Abla discorre sobre a importância da análise dos diferentes aspectos faciais.
O planejamento reverso é uma ferramenta eficaz para a reabilitação de pacientes edêntulos e já está totalmente integrado na rotina do implantodontista. No entanto, os aspectos envolvidos no processo de avaliação dos pacientes variam significativamente conforme a experiência de cada profissional, o que pode comprometer o resultado final do tratamento.
A perda de um elemento dentário leva ao colapso do processo alveolar do paciente e dos tecidos duros e moles responsáveis pelo suporte de suas estruturas periorais. Portanto, todos esses elementos devem ser considerados na avaliação do reabilitador ao fazer seu planejamento. No caso clínico a seguir, serão compartilhadas, de maneira breve, algumas sugestões para favorecer a previsibilidade do planejamento e potencializar os resultados estéticos pós-tratamento.
A primeira recomendação diz respeito aos cuidados com as áreas de suporte dos tecidos periorais que, conforme foi dito anteriormente, podem ser comprometidas quando há mudança no processo alveolar. Deve-se dedicar uma atenção especial na observação do nariz e do lábio do paciente. O nariz deve ter uma angulação entre 90° e 95° para os homens e 95° a 100° para as mulheres (Figura 1). Além disso, é necessário observar a disposição do filtro (Figura 2) e proporção labial que deve possuir a relação de um terço para o lábio superior e dois terços para o lábio inferior (Figura 2).
Por esse motivo, o plano de orientação em cera é fundamental para o planejamento, pois ele definirá onde os dentes devem ser posicionados e a distância que deve ser mantida para o processo alveolar. A partir de tais características, ficará definido se a prótese final terá ou não a necessidade de flange. É importante lembrar que a flange não pode ser apoiada sobre o processo alveolar remanescente, pois isso impediria a correta higienização do local e acentuaria a implatiasse (acúmulo de detritos abaixo das próteses).
Outra dica simples para auxiliar o diagnóstico é acrescentar cera sobre a prótese que o paciente utiliza, avaliando a melhora do suporte perioral (Figura 3). Tal medida também pode ser útil para avaliar a possibilidade de converter próteses implantorretidas e mucossuportadas (overdentures) em próteses fixas. Duplicando-se a prótese do paciente e removendo a flange, é possível verificar se os parâmetros citados anteriormente estão corretos (Figuras 4 e 5).
Quando falamos de planejamento de próteses unitárias ou parciais, o primeiro elemento que deve ser observado é a linha do sorriso. Em 70% dos casos, ela definirá onde deve estar a linha de transição da estética branca para a estética vermelha. A observação da linha do sorriso permite observar elementos que estão ausentes no resultado estético.
A linha do sorriso campeão o que alguns autores chamam de “três linhas de ouro da Odontologia”, que são:
• A linha do sorriso alto deve estar sobre a cervical dos dentes superiores, ou seja, marcar a transição da estética branca para a vermelha;
• A incisal dos dentes superiores deve estar alinhada ao lábio inferior em sorriso máximo. Isso irá informar o zênite dental (posicionamento tridimensional).
• O lábio inferior em repouso deve estar alinhado aos incisivos inferiores. Isso permite avaliar a extrusão do processo alveolar inferior.
Nas Figuras 6 e 7, é possível ver o aspecto inicial e final do tratamento, permitindo avaliar os critérios observados no diagnóstico acima.
A observação das três linhas de ouro nos trazem muitas informações e atendem 70% da população. Logo, ao tratar um paciente com sorriso gengival, deve-se avaliar a altura do sorriso supondo 4 mm. Deve-se aumentar a coroa clínica dos dentes adjacentes, se possível, e reposicionar o lábio superior, ou aplicar toxina botulínica, buscando o primeiro alinhamento citado. Deve-se lembrar, contudo, que tais referências estão relacionadas à musculatura do paciente. Dessa forma, podem ocorrer alterações, tais como: desvios, hipertrofias ou hipotrofias.
Adicionalmente, a linha úmida do lábio inferior é um importante aspecto a ser observado para a indicação da preservação ou não dos dentes inferiores anteriores. Quando há muita exposição, o paciente assume um aspecto esteticamente envelhecido e pode-se levar a um aumento da dimensão vertical oclusal (DVO) e sobremordida, provocando a fratura recorrente dos dentes superiores.
Por fim, a observação de tais aspectos pode contribuir significativamente para o resultado final do tratamento. A análise facial permite diagnosticar com antecedência alterações a serem corrigidas no tratamento odontológico como um todo.
Referências
1. Chambrone L, Tatakis DN. Periodontal soft tissue root coverage procedures: a systematic review from the AAP Regeneration Workshop. J Periodontol 2015;86(2 suppl.):8-51.
2. Santamaria MP, Silveira CA, Mathias IF, Neves FLDS, Dos Santos LM, Jardini MAN et al. Treatment of single maxillary gingival recession associated with non-carious cervical lesion: randomized clinical trial comparing connective tissue graft alone to graft plus partial restoration. J Clin Periodontol 2018;45(8):968-76.
3. Zuhr O, Akakpo D, Eickholz P, Vach K, Hürzeler MB, Petsos H et al. Tunnel technique with connective tissue graft versus coronally advanced flap with enamel matrix derivate for root coverage: 5-year results of an RCT using 3D digital measurement technology for volumetric comparison of soft tissue changes. J Clin Periodontol 2021;48(7):949-61
Marcelo Abla
Especialista em Biologia Celular – Escola Paulista de Medicina; Mestre e doutor em Implantodontia – FOA/Unesp; Especialista em Implantodontia – Unisa