Quem nunca parou para apreciar o horizonte durante o entardecer? O momento de transição entre o dia e a noite provoca belas alterações de cores na paisagem. Imagine-se em uma viagem de carro, em que o céu durante o dia se apresenta azul, a montanha verde e o asfalto da estrada cinza. Conforme a tarde cai e a noite chega, no momento do crepúsculo, toda a paisagem passa a ser praticamente da mesma cor, assumindo tons avermelhados e alaranjados. No sentido figurativo, o lusco-fusco é definido como um disfarce, uma dissimulação. Este é um exemplo simples de como a luz pode interferir na nossa relação com o meio ambiente. Apesar de a montanha, o céu e a estrada serem de cores diferentes, quando expostos àquela condição de iluminação, parecem ter a mesma tonalidade. Este fenômeno é chamado de metamerismo.
O metamerismo está presente na rotina clínica dos cirurgiões-dentistas. Ao instalar uma prótese em cerâmica, mesmo sua composição sendo diferente da composição do dente natural, sob determinada iluminação, a prótese se harmoniza com o sorriso e tem-se a percepção de que é um dente natural. Entretanto, podemos ter o metamerismo do observador, no qual uma cor é percebida diferente conforme o seu observador.
A habilidade de interpretação e percepção da cor é diferente entre indivíduos e pode ser influenciada por alguns fatores incontroláveis, como: envelhecimento, inexperiência, emoção, fadiga, deficiência visual do observador, condição de iluminação e principalmente pelo metamerismo.
Com o intuito de minimizar os erros provenientes de processos subjetivos de seleção de cor dos elementos dentários, dispositivos foram desenvolvidos para mensurar numericamente as cores de um dente. No artigo passado, falamos sobre a mais moderna ferramenta digital disponível no mercado para este fim, o Optishade (Smile Line). Dessa vez, sua aplicação em um caso clínico será demonstrada a seguir.
CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 40 anos, recorreu ao consultório com queixa estética no dente 11. Observou-se alteração de cor após tratamento endodôntico (Figura 1). Foi feito o registro de cor inicial do dente em questão com auxílio do Optishade (Figura 2). Seguiu-se então para o preparo dentário e, na sessão seguinte, foi realizado novo registro de cor do substrato com o dispositivo (Figura 3). As informações obtidas no aplicativo foram enviadas ao laboratório responsável pelo caso, juntamente ao registro fotográfico com cartão cinzento (Figura 4) e o escaneamento intraoral do paciente.
Finalizada a confecção da prótese, foi realizado o try-in com uma nova medição registrada com o Optishade. A partir da ferramenta de comparação presente no aplicativo, fez-se a avaliação da acurácia da reprodução de cor da prótese, usando como referência o registro de cor do dente homólogo (21), Figuras 5 e 6. Neste caso, foi possível atingir uma variação de cores satisfatória dentro dos limites de aceitabilidade e perceptibilidade pelo olho humano. O paciente relatou estar bastante satisfeito com o resultado estético obtido (Figura 7).
Referências
1. Bazos P, Magne P. Bio-emulation: biomimetically emulating nature utilizing a histoanatomic approach; visual synthesis. Int J Esthet Dent 2014;9(3):330-52. PMID: 25126615.
2. Berns RS. Billmeyer and Saltzman’s principles of color technology. 4. ed. 2019. New York: [s.n.].
Coordenação:
Diogo Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutor em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – FMDUL, em Portugal.
Autores convidados:
Tatiana Cursino Pereira
Mestranda em Dentística – Universidade Estadual Paulista (Unesp/São José dos Campos); Colaboradora externa em Prótese Dentária – Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL).
Orcid: 0000-0003-2393-0123.
Guilherme Saavedra
Professor assistente do Depto. de Materiais Odontológicos e Prótese, e professor da especialidade de Prótese Dentária do programa de pós-graduação em Odontologia Restauradora – ICT-Unesp; Professor visitante da FMDUL, Portugal.
Orcid: 0000-0001-7108-0544.