Flexibilidade vale ouro: especialistas valorizam sistemas que oferecem formatos diferenciados em seu portfólio, incluindo implantes curtos, estreitos e zigomáticos.
Um dos aspectos mais brilhantes da Odontologia é a sua capacidade de oferecer soluções exclusivas para a situação clínica de cada paciente. Trata-se de um feito e tanto, sobretudo quando lembramos que cada indivíduo possui um histórico diferente, com demandas específicas e características anatômicas únicas. Para atender essa necessidade, o profissional de reabilitação precisou transformar-se em um grande planejador para lidar com os casos mais complexos, fazendo o possível para adaptar as técnicas disponíveis sem perder a previsibilidade dos resultados.
A indústria, por sua vez, também compartilha desse mesmo desafio do cirurgião-dentista: cada paciente tem uma necessidade individualizada. No entanto, no caso dos fabricantes de implantes, esse desafio vem com a dificuldade adicional de que ele não pode oferecer um implante diferente para cada paciente, pois isso fere a lógica de diluição de custos com as linhas de produção em massa.
Por isso, com o apoio de pesquisadores, os fabricantes de implante passaram a buscar recursos que pudessem satisfazer esses quadros clínicos desfavoráveis, principalmente no campo cirúrgico, oferecendo modelos diferenciados de sua linha tradicional.
Implantes curtos
Como se sabe, disponibilidade de tecido duro é uma questão-chave na Implantodontia, pois os implantes precisam estar bem fixados no leito ósseo para poderem oferecer a ancoragem adequada das próteses e resistir às cargas oclusais decorrentes da mastigação. Durante muito tempo, essa foi uma dor de cabeça recorrente entre implantodontistas.
Atualmente, a reabilitação de regiões atróficas parece ser um assunto bem resolvido entre os profissionais, com resultados satisfatoriamente previsíveis. Com a evolução dos biomateriais sintéticos e o avanço na curva de aprendizado dos implantodontistas, os procedimentos de enxertia passaram a ser a solução mais buscada nesses casos. No entanto, ainda existem desvantagens associadas a essa opção, tais como: complicações com o risco de infecção, exposição do enxerto, perfuração da membrana sinusal e comprometimento do nervo alveolar inferior. Além disso, esses procedimentos são mais caros, requerem mais intervenções cirúrgicas e tempo de espera.
Nesses casos, uma das alternativas para contornar a necessidade de aumento ósseo é o uso de implantes curtos, embora as condições ideais para sua previsibilidade ainda seja um assunto em discussão entre os pesquisadores. A divergência começa pela própria classificação do comprimento máximo do próprio implante, sendo que alguns autores atribuem medidas inferiores a 10 mm enquanto outros iniciam sua classificação a partir de 8 mm, 7 mm e 6 mm.
Alguns estudos relataram resultados clínicos decepcionantes para implantes curtos, em comparação com o tamanho padrão. No entanto, percebeu-se que os problemas identificados podem estar relacionados a outros fatores, tais como a qualidade do osso onde o implante está ancorado, sua localização anatômica, o tratamento de sua superfície e a relação entre a altura do implante e sua respectiva coroa. Os estudos também mostram que as maiores cargas são aplicadas nos primeiros 5 mm da ancoragem, o que pode indicar a viabilidade dos implantes de menor comprimento, desde que sejam respeitadas outras condições de adequação.
Implantes zigomáticos
Ainda na linha das reabilitações sem enxerto, outra opção da indústria para a reabilitação de maxilares severamente atróficos são os implantes zigomáticos. Eles foram introduzidos pela primeira vez por Brånemark, em 1988, como um tratamento alternativo para pacientes com defeitos extensos da maxila causados por ressecções tumorais, trauma e defeitos congênitos. Posteriormente, o uso desses implantes foi expandido para outras indicações, incluindo a reabilitação de pacientes completamente desdentados com atrofia maxilar severa, pneumatização excessiva do seio maxilar e em casos de falha nos procedimentos de aumento do seio maxilar.
Como o caminho até o osso zigomático é longo, existe uma preocupação no planejamento desses casos com o comprometimento de estruturas anatomicamente vizinhas. Diferentes abordagens cirúrgicas e configurações de colocação de implantes foram propostas, mas o uso de implantes zigomáticos é motivo de grande controvérsia na Implantodontia e hoje existem grupos de ideologias opostas que condenam ou defendem a técnica com bastante empenho.
Implantes estreitos
O desafio dos reabilitadores nem sempre está nas limitações de disponibilidade óssea. Muitas vezes, o problema é a falta de espaço. Diante dessas situações, muitos sistemas incluem implantes estreitos em seu portfólio, indicados para casos unitários de pequeno diâmetro cervical, limitações na distância inter-radicular, crista alveolar pouco espessa e, mais uma vez, em casos de fracasso no aumento ósseo.
Os implantes estreitos são respaldados pela literatura como uma opção de tratamento válida que permite evitar procedimentos mais invasivos e de maior morbidade. As taxas de sobrevivência dos implantes estreitos são semelhantes às dos implantes de diâmetro padrão. A principal limitação desses modelos está em sua reduzida resistência a cargas oclusais mais intensas, o que significa uma contraindicação, por exemplo, em pacientes com bruxismo.
Sugestões de leitura
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