Fábio Bezerra recomenda uma análise aprofundada das características técnicas de cada scanner intraoral antes da aquisição.
A Odontologia Digital é uma realidade cada vez mais presente nos consultórios, e a aquisição de um scanner intraoral (IOS) é uma decisão importante para o fluxo digital. Apesar de não ser mandatória – pois em algumas cidades é possível locar o equipamento –, a compra traz uma série de benefícios para o diagnóstico e o plano de tratamento, facilita a comunicação com pacientes e laboratórios, além de melhorar a velocidade e qualidade dos tratamentos realizados dentro do fluxo digital.
Entretanto, selecionar o melhor scanner não é uma tarefa fácil, uma vez que não existe um equipamento perfeito e a tecnologia muda de maneira rápida e constante. Para tornar esta decisão a mais técnica e objetiva possível, o Institute of Digital Dentistry (IDD) publicou uma análise comparativa multiparâmetros dos scanners intraorais, levando em consideração critérios como fluxo de varredura intraoral, tamanho e peso da ponta do scanner, preço, facilidade geral de uso, necessidade de pagamento de assinaturas anuais, entre outros. Por isso, são altamente recomendadas uma visita ao site do IDD e a leitura do relatório preparado após o IDS 2021, uma das maiores feiras internacionais de Odontologia.
Seguem abaixo alguns dos pontos mais relevantes para a aquisição do IOS:
Fluxo de varredura intraoral: a velocidade de digitalização melhorou significativamente ao longo dos anos e não é mais o objetivo principal do IOS, uma vez que a maioria dos equipamentos realiza atualmente o escaneamento de um arco completo em menos de 60 segundos. Além de ser rápido, o scanner deve apresentar boa fluidez no processo de aquisição de imagem, não perdendo a referência, não interrompendo a captura das imagens e não apresentando dificuldades em retomar o escaneamento do ponto onde parou quando a aquisição de imagens for interrompida por algum motivo.
Tamanho do scanner intraoral: de maneira geral, todos os scanners apresentam boa capacidade de uso clínico, mas o seu tamanho e peso podem variar consideravelmente. Estão disponíveis no mercado equipamentos com o tamanho de uma escova de dentes e outros que pesam mais de 500 g. Neste tópico, temos que avaliar o conforto geral para o profissional e paciente, pois deve haver um ótimo equilíbrio entre o conforto e a capacidade de aquisição de imagens de maneira rápida e altamente qualificada, uma vez que cabeças maiores tendem a adquirir imagens de maneira mais efetiva, sem a necessidade de muitos movimentos realizados pelo profissional. Outro ponto importante é a capacidade de adquirir imagens sem a presença de um número grande de artefatos.
Facilidade geral de uso: esta característica se baseia na interface geral do usuário do software do scanner e na perfeição do processo de digitalização. Alguns softwares são modernos, amigáveis e intuitivos, enquanto outros são complexos, lentos e de difícil entendimento. Como exemplo, alguns recursos de inteligência artificial (IA) conseguem identificar e corrigir imperfeições na aquisição das imagens, identificar e eliminar artefatos indesejados ou ainda realizar alinhamento de pontos, como o registro interoclusal, de maneira rápida, precisa e com grande acurácia.
Software do scanner intraoral: um grande diferencial entre os modelos está na qualidade do software e os recursos disponíveis, que podem tornar a experiência do operador muito mais agradável. Alguns scanners apenas adquirem e exportam arquivos, enquanto outros apresentam recursos como simulações ortodônticas, design do sorriso ou a construção de modelos para impressão, sendo que atualmente todos são coloridos e apresentam velocidade decente de digitalização.
Preço do IOS: este é um fator de decisão muito importante e varia bastante entre os diferentes países. Existe uma tendência em acharmos que o mais caro é o melhor, mas nem sempre isto é verdade. É fundamental realizar uma análise completa das características do equipamento e avaliar se ele se enquadra em suas necessidades clínicas, evitando pagar valores adicionais por modelos que não apresentem as características ideais para o seu negócio.
Assinatura do software: alguns scanners vêm com assinaturas vinculadas ao software e outros não. Isso pode ser uma consideração importante no momento da tomada de decisão pela compra. Esteja atento: algumas empresas afirmam que o scanner não vem com uma “assinatura” e que não há custos contínuos após a compra, mas isso pode não ser totalmente verdade. Muitos têm taxas anuais vinculadas a “pacotes de manutenção” ou “número mínimo de casos clínicos realizados”, cobrindo atualizações de software, manutenção, serviço e suporte técnico. Por outro lado, existem equipamentos que têm assinaturas anuais que, se não forem pagas, resultarão na inutilização de determinados recursos do software.
Pontas do software autoclaváveis: apesar de parecer uma questão óbvia do ponto de vista da biossegurança, existem diferenças entre os equipamentos e é importante saber quantos ciclos de esterilização podem ser realizados antes de precisar ser trocadas ou se devem ser desinfectadas utilizando produtos químicos. Também existem equipamentos com sobreponteiras de uso único.
Software aberto ou fechado: este não é mais um critério relevante, uma vez que atualmente todos os equipamentos são capazes de gerar e exportar arquivos STL, OBJ ou PLY para que os trabalhos possam ser realizados por laboratórios ou empresas parceiras.
Como vimos, é importante uma análise aprofundada das características técnicas de cada equipamento antes da aquisição e, sobretudo, avaliar como ele se enquadra em suas necessidades clínicas e de sua equipe.
Fábio Bezerra
Especialista em Periodontia – FOB/USP; Especialista em Implantodontia – Inepo; Mestre em Periodontia – Universidade Paulista; Doutor em Biotecnologia – Unesp.
Orcid: 0000-0003-0330-2701.