Estudos recentes apoiam consistentemente uma associação epidemiológica entre obesos e risco periodontal, como a periodontite.
A obesidade é um significante fator de risco para numerosas enfermidades do adulto e tem sido relacionada às doenças periodontais, por ser associada com disfunção imunológica e desregulação da resposta inflamatória. Contudo, os mecanismos envolvidos nessa relação ainda não estão totalmente esclarecidos, sendo necessários estudos que envolvam biologia molecular para melhor entendimento de tal associação, assim como estudos longitudinais que possam melhor caracterizá-la. Mesmo assim, não há como não a inserir no contexto das enfermidades que têm relação com a periodontite.
Estudos recentes apoiam consistentemente uma associação epidemiológica entre obesidade e periodontite, sugerindo uma probabilidade de 50% a 80% maior de periodontite em indivíduos obesos quando comparados com indivíduos que não o são1-2. Indivíduos obesos têm um risco 35% maior de desenvolver periodontite, em comparação com indivíduos com peso normal3, e o risco pode ser maior entre mulheres obesas quando comparadas a homens obesos4.
Entre as alterações periodontais associadas ao aumento do índice de massa corporal (IMC), estão o sangramento gengival e o aumento de profundidade à sondagem, que vêm se destacando como características de inflamação tecidual relacionadas à obesidade5-8. Alguns autores8 documentaram que, a cada 1 cm aumentado da circunferência abdominal (CA), houve elevação de 5% no risco de desenvolver periodontite. Vale lembrar que, para os homens saudáveis, a CA deve estar em torno de 102 cm, e para as mulheres em torno de 88 cm5-6. Desta forma, o aumento da circunferência abdominal pode ser considerado uma característica que associa a obesidade com o risco periodontal.
Não estão totalmente definidos os mecanismos biológicos que estabelecem a fisiopatogenia entre obesidade e periodontite. Usualmente, esta inter-relação tem sido baseada na liberação de citocinas e hormônios pelo tecido adiposo, que alteram a resposta inflamatória tecidual8. Na presença de periodontite, a gordura corporal aumentada pode estimular a ocorrência de uma hiper-resposta inflamatória nos tecidos periodontais, pela liberação dessas citocinas em maior quantidade9.
Apesar de haver bons indicativos do aumento do risco periodontal para indivíduos obesos, o tratamento periodontal não difere muito entre indivíduos obesos e indivíduos que não são obesos. O paciente obeso deve receber uma avaliação periodontal criteriosa, buscando identificar se a higiene oral é adequada e em níveis compatíveis com a saúde ou se é deficiente e necessita de intervenções3,9.
Consultas regulares ao periodontista devem ser indicadas para os indivíduos obesos, a fim de auxiliarem na manutenção de níveis adequados do biofilme supragengival e subgengival, o que resultaria em uma redução dos riscos de desenvolvimento de doença periodontal9. Esta terapia provavelmente reduziria a colonização de possíveis periodontopatógenos, como também tornaria possível identificar sinais clínicos de inflamação periodontal, como sangramento gengival e aumento da profundidade de sondagem, o que determinaria uma intervenção precoce, evitando perdas teciduais severas.
Referências
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Marco Bianchini
Professor associado IV do Depto. de Odontologia – Universidade Federal de Santa Catarina; Autor dos livros O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia e Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-implantares.