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RAPG e os detalhes que fazem a diferença: a prótese

Guaracilei Maciel Vidigal Jr. destaca as características da prótese na RAPG podem influenciar no sucesso do procedimento.

A prótese utilizada na técnica da reconstrução alveolar proteticamente guiada (RAPG), que permite a regeneração óssea após as exodontias sem o uso de enxertos, membranas e retalhos, possui características únicas e que podem influenciar no sucesso do procedimento.

É importante entender que a prótese para RAPG deverá ocupar fisicamente todo o espaço que era ocupado pelo dente na região do espaço biológico (Figura 1). Sabemos que a distância biológica mede aproximadamente 3 mm e, por isso, a extensão subgengival do pôntico da prótese para RAPG também deverá ter 3 mm (Figura 2).

Isso permitirá que a prótese tenha um assentamento perfeito durante a cimentação, pois não há osso no espaço biológico, e manterá as dimensões do rebordo muito próximas daquelas antes da extração.

Porém, é muito importante que a canaleta do pôntico da prótese para RAPG fique exatamente no milímetro subgengival intermediário (em pacientes com periodonto normal, pela vestibular e pela lingual, são 3 mm no total) e que suas dimensões sejam respeitadas, com 1 mm de altura e 1 mm de profundidade (Figura 3), para permitir a formação do anel o-ring mucoso (Figura 4).

Este anel que se forma dentro da canaleta feita no milímetro subgengival intermediário, impede a retração das margens gengivais, levando à proteção do coágulo que se transformará em osso (Figuras 5 a 7).

Autores¹ descreveram um mecanismo que ocorre em nível celular, a curvotaxia, e que influencia o comportamento de células aderentes, como células epiteliais e fibroblastos. Em seu estudo, os autores mostraram que as células aderentes evitam superfícies convexas durante a migração, posicionando-se em superfícies côncavas. Através de análises funcionais e de um sistema de imagens, observou-se que os núcleos se deslocam no interior das células e sofrem alterações de forma, interagindo com o citoesqueleto celular como um sensor mecânico, em função da topografia da superfície, permitindo a movimentação celular.

Este mecanismo observado em escala nanométrica, se aplicado em uma escala maior, em nível tecidual, sugere que estas células teriam preferência por áreas de concavidade, como a da canaleta da área subgengival da prótese para RAPG, explicando a razão da formação do anel o-ring mucoso na canaleta da prótese da RAPG. Então, provavelmente, os núcleos das células do epitélio e dos fibroblastos do tecido conjuntivo gengival se deslocam em direção à área de concavidade gerada pela canaleta da prótese da RAPG, promovendo o rearranjo do citoesqueleto, permitindo a migração das células com o mínimo de deformação do citoesqueleto (Figura 8).

Ao chegar ao fundo da canaleta, a posição do núcleo da célula muda, assim como a estrutura do citoesqueleto, gerando um estado de quiescência (Figura 9). Isto explicaria o motivo da estabilidade da altura das margens gengivais durante o período de formação óssea de seis meses, em uma região previamente sem osso ou após uma extração com o uso de biomateriais de enxerto.

Ao contrário, as áreas de convexidade são evitadas pelas células durante a sua migração. Se a canaleta ficar posicionada no milímetro subgengival superior, próximo à margem gengival, o anel o-ring mucoso não se formará. Isso também ocorrerá se a canaleta tiver uma altura maior, por exemplo, 2 mm, em um espaço biológico de 3 mm. Nessas situações, o risco de o pico gengival ficar dentro da canaleta é muito grande e, nesta condição, as células epiteliais e os fibroblastos do pico gengival estarão sobre uma superfície convexa. Devido ao fenômeno da curvotaxia, a retração gengival e o consequente insucesso do caso serão inevitáveis. Por isto, é importante que a canaleta do pôntico esteja localizada 1 mm abaixo da margem gengival.

“Essa sequência de eventos identificou a curvotaxia como um mecanismo de direcionamento do crescimento pela migração celular em áreas com topografias bem definidas¹”, e que parece ter relação direta com o que observamos em nossa clínica. Ou seja, as margens gengivais retraem em áreas convexas e crescem em áreas de concavidade.

Estaremos no IN24 para apresentar mais detalhes dos eventos biológicos que regem a boa clínica e como fazer a RAPG de uma forma cada vez mais segura e simples.

Referência

  1. Pieuchot L, Marten J, Guignandon A, Santos T, Brigaud I, Chauvy PF et al. Curvotaxis directs cell migration through cell-scale curvature landscapes. Nat Commun 2018;9(1):3995.