“Você considera importante fazer curso de escultura dental em cera antes de iniciar esculturas utilizando softwares (CAD) no laboratório?”. David Morita responde a pergunta de um aluno.
Recentemente, um aluno me fez a seguinte pergunta: “Você considera importante fazer curso de escultura dental em cera antes de iniciar esculturas utilizando softwares (CAD) no laboratório?”. Minha resposta imediata foi não. Tenho em mente que, atualmente, existe uma polarização sobre o conceito entre analógico e digital – o que, para mim, é uma grande bobagem.
Tudo no nosso planeta está em constante mudança. A busca incansável da humanidade em criar mecanismos, máquinas, objetos, ferramentas, entre outras tantas coisas, sempre fez parte da nossa existência. Por exemplo: câmeras fotográficas já foram objetos comuns em quase todas as casas. Hoje, são utilizadas apenas por profissionais que precisam delas como ferramenta de trabalho ou por pessoas que gostam de fotografia. O mesmo aconteceu com os guias impressos de ruas e estradas, que eram facilmente encontrados nos porta-luvas dos carros. Ele era muito útil para que o motorista se localizasse e achasse o caminho mais fácil para chegar ao seu destino. Hoje, tudo isso está integrado nos aparelhos celulares ou pode ser acessado por aplicativo com muito mais eficiência e segurança.
Voltando à pergunta do aluno, eu fui taxativo na resposta. Mas, complementei dizendo que não precisamos utilizar cera, gotejador e instrumentos de desgaste em cera para conseguir fazer o mesmo utilizando sistemas digitais de laboratório. O mais importante é a informação disponível na literatura sobre Anatomia Dental. Ela já está escrita, basta ser estudada, praticada e, principalmente, interpretada.
Existe uma busca constante para obter respostas imediatistas, com pouco esforço e pouco entendimento. Isso acontece por meio de cursos práticos e rápidos, nos quais aprende-se a fazer um dente esculpido em cera, mas não os conceitos descritos na literatura sobre este assunto. Então, quando esse aluno está diante de um software e quer desenvolver uma anatomia dental, não consegue por duas razões: não domina a nova ferramenta (pois está acostumado com Lecron, cera, gotejador e um modelo de gesso nas mãos) e porque não conhece, de fato, a anatomia dental e seus conceitos.
Para explicar: por vista frontal vestibular, o canino tem forma pentagonal (a geometria é usada para definição de forma), em que a aresta longitudinal mesial é mais curta do que a aresta longitudinal distal. A aresta longitudinal distal é mais longa e mais baixa do que a aresta longitudinal mesial. O ângulo formado na junção da aresta longitudinal mesial com a aresta transversal mesial é mais agudo, se comparado ao ângulo formado na junção da aresta longitudinal distal com a aresta transversal distal, que, por sua vez, é obtuso quando comparado ao ângulo mesial.
Outro exemplo é o primeiro molar superior que, em ordem decrescente sobre o tamanho das cúspides, seria assim: cúspide mesiolingual, distovestibular, mesiovestibular e distolingual. Ainda sobre o primeiro molar superior, a aresta transversal lingual da cúspide mesiovestibular está direcionada para a vertente triturante mesial da cúspide mesiolingual. A aresta transversal lingual da cúspide distovestibular está direcionada para a ponte de esmalte do primeiro molar superior. A aresta transversal vestibular da cúspide distolingual está direcionada para a vertente triturante distal da cúspide mesiolingual. E assim por diante.
Isso significa que devemos compreender e interpretar a literatura para construir anatomias condizentes com o natural. Os dentes naturais já foram estudados e todas as informações estão nos livros de Anatomia para o desenvolvimento dos trabalhos, seja no modo analógico ou digital.
Agora, imagina se eu propusesse usar um guia impresso para aprender a andar nas ruas para depois utilizar um aplicativo tipo Google Maps ou Waze? Seria o mesmo que afirmar que o software de Anatomia e escultura pode ser usado depois que a pessoa aprender a fazer esculturas no modo analógico.
Daqui a algum tempo, muitos não saberão o que é esculpir de modo analógico. Mas, dominar os conceitos de Anatomia será decisivo para desenvolver com maestria trabalhos realizados em ferramentas digitais. Hoje, quem domina esses conceitos precisa aprender apenas a dominar um mouse e alguns comandos dos softwares. Então, migrar não será difícil. Já os que não conhecem os conceitos de Anatomia, terão não só que aprendê-los como também dominar os softwares.
David Morita
Técnico em Prótese Dentária – Senac; Proprietário do Laboratório e Instituto de Treinamento David Morita; Segundo secretário da Assembleia Administrativa da SBO Digital.