Os editores científicos da revista ImplantNews debatem como o engenhoso mecanismo que permite que as criptomoedas existam pode impactar o setor de saúde.
As Bitcoins, Ethereuns e Litecoins tornaram-se extremamente populares nos últimos anos. Você mesmo deve ter ouvido falar bastante sobre o assunto, já que os adeptos mais fervorosos das criptomoedas trabalham arduamente pela sua divulgação e dedicam uma devoção quase religiosa em sua cruzada pelos lucros rápidos.
Obviamente, não vamos aqui tratar deste surpreendente fenômeno financeiro, mas sim do engenhoso mecanismo que permite que as criptomoedas existam: o blockchain. Especificamente, nosso interesse diz respeito a como esta tecnologia pode impactar o setor de saúde.
Como isso seria possível? A oportunidade reside no fato de que as informações criptografadas via blockchain usam uma base compartilhada de dados, que funciona basicamente como uma rede descentralizada de computadores. Desta forma, as informações podem circular de maneira segura por meio de checagens constantes de cada computador diferente.
Fabricantes da indústria farmacêutica, por exemplo, já começaram a utilizar experimentalmente o blockchain para rastrear e acompanhar a distribuição de medicamentos no período da pandemia, desde a saída das linhas de produção, passando pela distribuição entre as empresas de transporte e logística, até a aplicação no paciente. A vantagem de utilizar informações criptografadas é um sistema muito mais eficiente para evitar fraudes, perdas, roubos e falsificações de produtos. Outra vantagem é que todas essas informações sobre o consumo de medicamentos podem circular de forma muito mais segura do que nos sistemas tradicionais, preservando a privacidade dos pacientes.
Dessa forma, temos a perspectiva de uma versão aprimorada do tão falado prontuário eletrônico, que prometia integrar todas as informações médicas dos pacientes em um único sistema, que estaria aberto a todos os profissionais de saúde. Dessa forma, por exemplo, um implantodontista poderia saber se seu paciente fez ou não uso de bifosfonatos antes de uma cirurgia, sem depender unicamente dos questionários de anamnese e da memória falha dos pacientes. Ou seja, um prontuário único de cada paciente, alimentado e compartilhado por diferentes profissionais, em diferentes áreas, de diferentes instituições. Tudo checado e verificado. Quase um sonho.
Atualmente, existem diversas iniciativas de agrupar informações sobre os pacientes e disponibilizá-las a grupos específicos de profissionais. O blockchain ainda não é empregado nessas soluções e elas são restritas a determinadas redes de hospitais ou em segmentos do sistema público. Nenhum projeto conseguiu formar um verdadeiro prontuário universal com informações dos pacientes para todos os profissionais de saúde, extrapolando o espaço dos hospitais, incluindo também clínicas independentes e profissionais liberais. Essa seria a demanda perfeita para uma tecnologia como o blockchain, garantindo o armazenamento descentralizado de informações, com a privacidade protegida por uma forte criptografia e múltiplos pontos de checagem. Ou seja, as tecnologias que precisamos já estão todas aí. O que falta é alguém para amarrar as pontas.
Já que começamos falando em criptomoedas, eis um investimento ainda mais rentável: a oportunidade de integrar as informações de todos os pacientes do Brasil. Afinal, a saúde e o bem-estar da população ainda é um dos nossos ativos mais importantes.
Paulo H. O. Rossetti
Editor científico de Implantodontia.
Orcid: 0000-0002-0868-6022
Antônio Wilson Sallum
Editor científico de Periodontia.
Orcid: 0000-0002-7158-984X
Marco Antonio Bottino
Editor científico de Prótese Dentária.
Orcid: 0000-0003-0077-3161