Editorial: com a Rússia como grande fornecedora e exportadora dos nossos metais, como fica a perspectiva de uso dos materiais já tradicionais na Odontologia?
Os metais na Odontologia: quando o preço (a onça) do ouro subiu muito no final dos anos 1970, as ligas de metais básicos ganharam popularidade no mercado, tanto para próteses parciais fixas quanto para as removíveis. Níquel, cobalto, crômio, manganês e molibdênio – todos metais de transição na tabela periódica – participariam cada vez mais do dia a dia laboratorial, reduzindo o uso de ligas nobres/seminobres contendo ouro, prata, paládio e platina. Assim, milhares de pacientes foram beneficiados por PPRs. O titânio entrou mais tarde, consagrando-se como material endósseo implantar. Entretanto, no passado não se popularizou muito como material para PPR e nem PPF, pela soma de dois fatores: particularidades nas técnicas de obtenção (fundir titânio em atmosfera de gás nobre com forno especial) e custos elevados.
Os metais do Putin: a Rússia é grande fornecedora e exportadora dos nossos metais. Com as sanções econômicas em vigor, os consumidores finais (profissionais, laboratórios e pacientes) poderão sentir logo esses impactos no bolso.
Muito além dos metais: uma nova regulação sobre dispositivos médicos (EU MDR 2017/745) já considera o cobalto um CRM (carcinogênico, mutagênico e com toxicidade à reprodução). Pela nova regulação, somente ligas odontológicas contendo cobalto com menos de 0,1% receberão as marcações CE e NB. Esta regulamentação deve entrar em vigor até 2024. Sim, ela foi atrasada pela pandemia de Covid-19. Obviamente, a EU MDR 2017/145 também permite um período de “adaptação”. Mas, se até 2025 nenhuma alternativa na faixa dos Co 0,1% for proposta, o passo seguinte é que as empresas coloquem no rótulo de seus produtos uma mensagem aos consumidores finais sobre os riscos biológicos do cobalto. Por essa nem o Putin esperava.
Nas perspectivas atuais, sob a tecnologia CAD/CAM, também é possível usinar outras classes de materiais, como PEEK e os compósitos em fibra de vidro. Os últimos são seis vezes menos densos que os metais (sensação maior de leveza em boca), têm uma interação com a camada de revestimento mais duradoura (tratamentos adesivos de superfície) e aspecto mais estético (pela ausência do aspecto metálico acinzentado).
E para você, leitor, não pensar que estamos em uma “guerra de narrativas”, deixamos abaixo os links que mostram a complexidade do momento. Boas reflexões e boa leitura!
Saiba mais
Cobalto: DOI 10.3390/cryst10121151
PEEK: DOI 10.1016/j.prosdent.2017.09.008
Compósitos com fibras 3D: https://bit.ly/3tPfbBp
Paulo H. O. Rossetti
Editor científico de Implantodontia.
Orcid: 0000-0002-0868-6022
Antônio Wilson Sallum
Editor científico de Periodontia.
Orcid: 0000-0002-7158-984X
Marco Antonio Bottino
Editor científico de Prótese Dentária.
Orcid: 0000-0003-0077-3161