Seja presencialmente ou em campanhas para arrecadação, os cirurgiões-dentistas trabalham em conjunto para amenizar o impacto do desastre causado pelas chuvas.
O Rio Grande do Sul está sofrendo as consequências da maior catástrofe climática da história do estado. Entre o final do mês de abril e o início de maio, as fortes chuvas causaram enchentes e destruição, afetando 464 dos 497 municípios, o equivalente a 93,36% de todas as cidades sul-rio-grandenses.
Diante deste cenário de devastação, o Brasil uniu esforços para auxiliar a população gaúcha. A comunidade odontológica tem mostrado sua força, colaborando de maneira efetiva em diversas frentes. Enquanto alguns profissionais da Odontologia se empenharam no trabalho de resgate de pessoas ilhadas, outros divulgaram e se comprometeram com a arrecadação de valores e donativos para a população afetada.
O implantodontista Paulo Abdalla Saad, de Porto Ferreira (SP), foi um dos especialistas que partiram para o Rio Grande do Sul para colaborar nas buscas, após montar uma equipe. “Eu combinei com meu compadre, Dr. Weber, que é cardiologista, um amigo enfermeiro e um adestrador de cães. Buscamos algumas doações, empréstimo de barco e saímos rumo ao Rio Grande do Sul”, conta.
Ao chegar, Saad encontrou um cenário desolador. Desde então, reunia a equipe no barco nas primeiras horas da manhã e seguia nas ruas, cheias de água, até às 20h. “Buscamos nos orientar de acordo com as necessidades, onde um médico, um cirurgião-dentista, um enfermeiro e um adestrador pudessem ajudar, e fomos direto para a linha de frente. Resgatamos pessoas, animais e ofertamos esperança”, relata Saad, que é professor universitário, mestre e doutor em Implantodontia, além de atuar em sua clínica privada.
O implantodontista voltou à Porto Ferreira no dia 18 de maio e fez um balanço da experiência. “A situação é muito mais pesada do que vemos no noticiário. Mas, ao mesmo tempo, é gratificante, especialmente por ver o povo unido e solidário. Saímos maiores como pessoas e profissionais, pois pudemos entender na prática a importância da contribuição do profissional da Saúde nestes momentos”, finaliza Saad.
Outro profissional da Odontologia que esteve na linha de frente foi Rodrigo Beltrão, cirurgião bucomaxilofacial e morador de Porto Alegre. Nos dias que sucederam os resgates, foi necessário encontrar caminhos para auxiliar os atingidos. Assim, após se reunir com amigos e empresários, foi criada a Cozinha Solidária. O grupo se organizou e passou a receber doações financeiras e de insumos para viabilizar a operação.
“A força de trabalho era formada por amigos e colegas, entre eles alguns cirurgiões-dentistas, para a produção de marmitas e sanduíches. Conseguimos entregar cerca de 1.500 marmitas e 800 sanduíches por dia, em quatro refeições, além de água mineral”, descreve Beltrão.
O cirurgião bucomaxilofacial conta que as entregas eram feitas em comunidades desassistidas, como a população em situação de rua, além de locais que abrigavam pessoas que perderam suas casas, incluindo a garagem de um posto de gasolina e dois quilombos. A distribuição acontecia em locais fixos que foram adotados para a entrega diária das refeições.
A Cozinha Solidária funcionou por 15 dias e agora se reúne para forças-tarefas pontuais. “Foi uma atividade gratificante, que mostrou o engajamento de pessoas que estão de fora, e simboliza a forma como cada um pode contribuir. Eu pude participar, como cirurgiãodentista e parte da sociedade civil, em toda a frente, desde o recebimento de insumos, produção e distribuição de alimentos, até arrecadação de valores financeiros com empresários do Brasil todo, que possibilitaram a atividade”, relata Beltrão.
UNIÃO DE FORÇAS PARA RECONSTRUIR
Assim como Paulo Abdalla Saad e Rodrigo Beltrão, muitos outros profissionais da Odontologia puderam contribuir pessoalmente. No entanto, diversas campanhas foram criadas para auxiliar a população e os cirurgiões-dentistas gaúchos com doações. Uma delas foi a “S.O.S. Odonto RS”, uma iniciativa capitaneada pela VMCom que visa unificar os esforços da comunidade odontológica em prol da população. Outras campanhas têm buscado contribuir para a reconstrução dos profissionais gaúchos. A Dental Press organizou, no dia 30 de maio, o congresso “Rio Grande Resiste”, um evento 100% on-line e gratuito sobre Ortodontia, com 14 speakers, com uma arrecadação para atenuar os prejuízos dos cirurgiões-dentistas do estado.
Outra campanha relevante é a “SOS Odonto Rio Grande do Sul”, que também arrecada fundos, mas vai além, oferecendo auxílio jurídico e psicológico. “Após um cadastro de pedido de ajuda, identificamos a segurança física e alimentar para auxiliar com um valor inicial, assim como uma avaliação da necessidade de apoio psicológico. Na sequência, é analisada a condição do consultório e oferecemos limpeza especializada, manutenção de equipamentos, doação de insumos para retorno às atividades e, na medida do possível, a mediação de doações de instrumentais, periféricos e equipamentos. Por fim, o apoio jurídico instrui quanto a relações trabalhistas e com o sistema bancário”, resume Rianne Vilela, cirurgiã-dentista e uma das coordenadoras da campanha, que vem arrecadando valores com doações oficiais, um congresso on-line que já movimentou mais de 150 professores voluntários e a venda de cursos do Dr. Ronaldo Hirata.
A indústria também está mobilizada para ajustar processos em benefício dos cirurgiões-dentistas. Empresas como Geistlich, Olsen, Plenum, Kion e Mandic têm ações estruturadas e um olhar atento para contribuir neste momento. A Neodent, que tem pontos de coleta em lojas e fábricas, lançou uma campanha em que, a cada doação feita, a empresa doou um item de higiene bucal. “Estamos comprometidos em apoiar a comunidade gaúcha e acreditamos que a solidariedade pode fazer a diferença. Já foram arrecadados mais de 20 mil itens e doados 30 mil produtos de higiene bucal”, afirma Matthias Schupp, CEO da Neodent, que também levou ao estado seu maior programa social, a Expedição Novos Sorrisos.
Embora todas as ações desta primeira etapa sejam indispensáveis para oferecer alento à população gaúcha, é importante reforçar que a recuperação total do estado demandará tempo e esforços contínuos, com colaboração da sociedade civil e da iniciativa privada, além de ações governamentais. “Pensando em médio e longo prazo, o objetivo é conectar os cirurgiões-dentistas afetados às ações solidárias, indústrias e bancos, a fim de encontrar linhas de créditos corretas, não apenas no momento atual, mas na reconstrução que será necessária nos próximos meses. Esse é o grande desafio”, finaliza Haroldo Vieira Filho, diretor da VMCom.