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O processo evolutivo do silicato de lítio e do dissilicato de lítio

Autores descrevem a evolução de silicato de lítio e dissilicato de lítio, dois materiais que procuram equilibrar o binômio estética e resistência.

Nos últimos anos, os materiais dentários evoluíram muito nas suas técnicas de manipulação, resistência e translucidez. Hoje, conseguimos resultados mais estéticos e longevos com menor chance de delaminação e maior satisfação dos pacientes. Vamos descrever a evolução de silicato de lítio e dissilicato de lítio, dois materiais que procuram equilibrar o binômio estética e resistência.

Dissilicato de lítio

As cerâmicas à base de dissilicato de lítio são indicadas para restaurações monolíticas nas regiões anterior e posterior, podendo ser utilizadas em preparos parciais, como inlays, onlays e laminados, e também para coroas totais. Uma das grandes vantagens desse material foi o significativo aumento dos níveis de resistência mecânica, em comparação com outros materiais ácido-sensíveis utilizados anteriormente, como as cerâmicas feldspáticas. Dessa forma, obtemos cimentação adesiva e resistência mecânica, além de boa estética.

Esses materiais cerâmicos podem ser confeccionados a partir do processo convencional, quando utilizamos a técnica da cera perdida juntamente com a injeção de pastilhas/lingotes cerâmicos, ou a partir da tecnologia CAD/CAM, utilizando blocos para fresagem. Nesse caso, os elementos são desenhados virtualmente em softwares específicos para, posteriormente, serem usinados em uma unidade de fresagem. Não há diferenças significativas entre os dois processos de confecção no que se refere à adaptação marginal ou resistência à fratura. Após o processo de injeção ou de usinagem estar completo, ocorre a cristalização das peças – processo que ocorre a 840°C de temperatura –, na qual há o aumento da dureza da cerâmica e, segundo os fabricantes, nenhuma alteração dimensional. Este dado vem sendo contrariado por alguns autores que relatam alterações dimensionais diminutas, não perceptíveis clinicamente. Um estudo encontrou uma variação de 42,9 μm para 57,2 μm no gap marginal pré e pós-cristalização, respectivamente1. Outro trabalho relatou uma diferença no gap horizontal de 22,95 μm para 44,80 μm2. Em ambos os estudos, os níveis de gap estavam dentro da aceitabilidade clínica de 120 μm.

Utilizando cerâmicas monolíticas, temos uma estrutura maciça e sem camadas sobrepostas, o que resulta em chances menores de delaminação ou chipping, além de peças com excelentes níveis de adaptação marginal. Essas características se refletem nas altas taxas de sobrevivência de elementos em dissilicato de lítio presentes na literatura, como as apresentadas em uma revisão sistemática e metanálise, que demonstrou uma estimativa de taxa de sobrevivência de 96,6%3.

Os estudos que avaliam as propriedades mecânicas das cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio são heterogêneos e apresentam resultados diversos devido às variações no desenho e método. Fatores como método de cimentação, técnica adesiva e tipo de preparo resultam em diferenças nos desfechos dos trabalhos. Autores avaliaram a resistência à fratura in vitro de coroas totais de dissilicato de lítio em molares após termociclagem. Os níveis de resistência à fratura encontrados foram de 2.639 N4.

Um dos pontos-chave quando trabalhamos com cerâmicas à base de dissilicato de lítio é a capacidade de mascaramento de substratos dentários. Em casos com substratos favoráveis, como esmalte e dentina sadios, com pouca ou nenhuma alteração de cor, espessuras cerâmicas mínimas são capazes de entregar resultados estéticos ideais ou com alterações de cor imperceptíveis5-6, levando sempre em conta a influência que a cor do cimento adesivo exerce, apesar de alguns autores relatarem que, em casos com tons mais saturados – como dentinas muito escurecidas ou substratos metálicos, como núcleos metálicos fundidos e abutments de titânio –, os resultados estéticos aceitáveis podem ser alcançados com o uso de cerâmicas monolíticas à base de dissilicato de lítio6. O bloqueio desses tipos de substrato é o maior desafio quando trabalhamos com cerâmicas à base de dissilicato de lítio e a maior limitação do material, especialmente em casos de maior exigência estética. Além disso, é preconizada uma extensão nos preparos dentários, a fim de criar mais espessura cerâmica para o mascaramento dos substratos citados. Autores sugerem profundidade de, pelo menos, 2 mm da parede axial para alcançar níveis aceitáveis de bloqueio de dentinas escurecidas/acinzentadas e de estruturas metálicas5.

Como maneira de otimizar as características ópticas das cerâmicas à base de dissilicato de lítio, vêm sendo disponibilizados pela indústria blocos e pastilhas em diversos níveis de translucidez e opacidade. Os blocos HT (alta translucidez) e LT (baixa translucidez) são indicados para técnicas de maquiagem ou cut-back em substratos mais favoráveis, enquanto os blocos MO (média opacidade) e HO (alta opacidade) são indicados para técnica de estratificação em elementos posteriores ou com substratos desfavoráveis (Figuras 1 a 5).

Silicato de lítio

Essas cerâmicas são caracterizadas pela combinação de silicato de lítio reforçado por dióxido de zircônia, envoltos por matriz vítrea, representada pela sílica (dióxido de sílica). O desenvolvimento desse novo material tem como objetivo a união das propriedades estéticas do silicato de lítio com as excelentes propriedades mecânicas da zircônia.

Nestas cerâmicas, a quantidade de dióxido de zircônia representa 8-10% de seu peso total (em contraste com menos de 1% do peso total nas reforçadas por dissilicato de lítio), o que aumenta significativamente a sua resistência, mantendo também excelentes níveis de translucidez, fluorescência e opalescência, de acordo com os fabricantes. Seu uso está indicado para coroas anteriores e posteriores, assim como inlays e onlays.

A relação entre translucidez e resistência mecânica se mostrou inversamente proporcional para os materiais cerâmicos ao longo dos anos. Cerâmicas feldspáticas apresentam excelentes propriedades ópticas, porém são as que demonstram os menores índices de resistência à fratura. Por outro lado, as zircônias monolíticas se caracterizam pelo excelente comportamento mecânico, mas com baixos níveis de translucidez e opalescência. Um dos maiores desafios é justamente encontrar um equilíbrio entre as propriedades ópticas e mecânicas. As cerâmicas à base de dissilicato de lítio representam um ponto de partida nesse caminho, o que aumenta a sua aplicabilidade clínica.

De forma muito interessante, um estudo avaliou a transparência e a resistência flexural das cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio e silicato de lítio reforçado por zircônia7. Os melhores índices, em ambos os parâmetros, foram apresentados pelo silicato de lítio reforçado por zircônia7 – o que, mecanicamente, é explicado pela adição de dióxido de zircônia na composição do material. Esteticamente, os autores sugerem que a maior transparência do material se deve ao tamanho dos cristais da estrutura cristalina, na ordem de 500 nm a 700 nm, em média, de quatro a oito vezes menor em comparação com os cristais das cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio7.

O processo de manufatura dessas peças é, necessariamente, digital, já que as cerâmicas reforçadas por zircônia são disponibilizadas em blocos para fresagem. Após usinagem, também passam por um processo de cristalização, que confere dureza, resistência e translucidez. O preparo interno das peças reforçadas por zircônia é feito da mesma maneira que as peças em dissilicato de lítio: aplicação de ácido hidrofluorídrico a 10% durante 20 segundos, seguida por banho ultrassônico de cinco minutos, secagem, aplicação ativa do agente de união silano e aplicação do sistema adesivo de escolha.

Devido à maior quantidade de dióxido de zircônia em sua composição, deve-se dar ainda mais importância para o ajuste oclusal e para um excelente polimento superficial. O uso de kits clínicos e laboratoriais disponíveis para esse material cerâmico garante essa lisura superficial adequada após o refinamento oclusal (Figuras 6 a 17).

Referências

1. Gold SA, Ferracane JL, da Costa J. Effect of crystallization firing on marginal gap of CAD/CAM fabricated lithium disilicate crowns. J Prosthodont 2018;27(1):63-6.
2. De Freitas BN, Tonin BSH, Macedo AP, dos Santos TMP, De Mattos MDGC, Hotta TH et al. Adaptation accuracy of milled lithium disilicate crowns: a 2D and 3D microCT analysis. J Esthet Restor Dent 2020;32(4):403-9.
3. Sailer I, Makarov NA, Thoma DS, Zwahlen M, Pjetursson BE. All-ceramic or metal-ceramic tooth-supported fixed dental prostheses (FDPs)? A systematic review of the survival and complication rates. Part I: single crowns (SCs). Dent Mater 2015;31(6):603-23. Erratum in: Dent Mater 2016;32(12):e389-e90.
4. Bankoğlu Güngör M, Karakoca Nemli S. Fracture resistance of CAD-CAM monolithic ceramic and veneered zirconia molar crowns after aging in a mastication simulator. J Prosthet Dent 2018;119(3):473-80.
5. Basso GR, Kodama AB, Pimentel AH, Kaizer MR, Bona AD, Moraes RR et al. Masking colored substrates using monolithic and bilayer CAD-CAM ceramic structures. Oper Dent 2017;42(4):387-95.
6. Basegio MM, Pecho OE, Ghinea R, Perez MM, Della Bona A. Masking ability of indirect restorative systems on tooth-colored resin substrates. Dent Mater 2019;35(6):e122-e30.
7. Sen N, Us YO. Mechanical and optical properties of monolithic CAD-CAM restorative materials. J Prosthet Dent 2018;119(4):593-9.