O uso regular de cigarros eletrônicos contendo nicotina e sabores artificiais leva a uma resposta inflamatória aumentada.
Os cigarros eletrônicos (e-cigs) foram introduzidos primeiramente no mercado dos Estados Unidos no meio dos anos 2000 e, apesar da falta de maiores evidências científicas com estudos clínicos de maior acompanhamento sobre seu impacto na saúde em geral e na área da Odontologia, eles foram considerados uma alternativa ao cigarro convencional ou como um auxiliar para para quem deseja parar de fumar. No entanto, o líquido que os e-cigs contêm também pode conter toxicidade e substâncias prejudiciais, como a nicotina, metais leves, componentes orgânicos voláteis e agentes cancerígenos1.
Os e-cigs, também conhecidos como vapes ou cigarros vaporizadores, são tipicamente dispositivos acionados por bateria com um cartucho substituível que fornece um aerossol produzido pelo aquecimento de um líquido com nicotina2. Sendo assim, podem afetar negativamente o efeito de células e tecidos, causando estresse oxidativo, alterar respostas inflamatórias e induzir a fragmentação do DNA2.
O uso regular de cigarros eletrônicos contendo nicotina e sabores artificiais leva a uma resposta inflamatória aumentada, promovendo um maior estresse oxidativo e o aumento das citocinas inflamatórias por fibroblastos e células epiteliais3. Um estudo sugeriu que as concentrações de cinamaldeído presentes e disponíveis em diversos e-cigs com sabores podem suprimir a função dos fagócitos, neutrófilos e macrófagos4.
As evidências científicas e a prática clínica demonstram efetivamente que a nicotina é prejudicial para os tecidos peri-implantares5-6, assim como usuários de cigarros eletrônicos são mais suscetíveis ao risco para o diagnóstico de peri-implantite7. Os achados clínicos e radiográficos demonstraram uma maior resposta comprometida do tratamento da peri-implantite quando comparados com os fumantes de cigarros convencionais e os não fumantes.
No entanto, existe uma limitada evidência científica em dados longitudinais a fim de comprovar e determinar o seu real efeito no sucesso dos implantes dentários, assim como na taxa de falhas8. Uma revisão sistêmica reportou que, em todos os estudos encontrados, apenas homens foram incluídos como fumantes dos e-cigs, e que o uso dos cigarros vaporizadores demonstra um impacto negativo na saúde peri-implantar através da perda óssea ao redor dos implantes por análise radiográfica, assim como um aumento do acúmulo da placa bacteriana e maior porcentagem de profundidade de sondagem maior do que 4 mm8.
Por outro lado, o fluido do sulco peri-implantar demonstrou uma diferença estatística pela presença elevada de marcadores biológicos, como a TNF-α e IL-1β, aumentado para usuários de e-cigs3.
Entre pacientes diagnosticados com peri-implantite, os fumantes de cigarros eletrônicos mostraram resultados clínicos e biológicos de longo prazo menos favoráveis relacionados ao tratamento, em comparação com fumantes de cigarro e não fumantes, que tiveram os melhores resultados de longo prazo após um ano de acompanhamento7. Os biomarcadores salivares (MMP-8, IL-1β e IL-6) mostraram um declínio em todos os grupos tratados. No entanto, seus valores aumentaram aos seis meses e um ano, com um aumento adicional entre os fumantes7.
A saúde peri-implantar está comprometida entre os fumantes. Os níveis aumentados de citocinas pró-inflamatórias em indivíduos que fumam cigarros eletrônicos podem sugerir uma maior resposta inflamatória peri-implantar9. Diante disso, o uso de e-cigs aumenta a cada dia em usuários jovens e adultos, e o seu efeito clínico na saúde peri-implantar deve ser determinado. Entender se os e-cigs representam um possível risco para futuras complicações é importante para o plano de tratamento, educação do paciente e manutenção dos tecidos peri-implantares.
Referências
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- ArRejaie AS, Al-Aali KA, Alrabiah M, Vohra F, Mokeem SA, Basunbul G et al. Proinflammatory cytokine levels and peri-implant parameters among cigarette smokers, individuals vaping electronic cigarettes, and non-smokers. J Periodontol 2019;90(4):367-74.
Coordenação:
Elcio Marcantonio Jr.
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia, e coordenador do curso de especialização em Implantodontia – FOAr/Unesp; Professor colaborador do Ilapeo.
Orcid: 0000-0002-9660-4524.
Autora convidada:
Ísis de Fátima Balderrama
Cirurgiã-dentista – PUC/PR; Especialista em Periodontia e mestra em Reabilitação Oral – FOB/USP; Estágio no Depto. de Periodontia – Universidade de Malmö, Suécia; Doutoranda em Implantodontia – FOAr/Unesp.
Orcid: 0000-0002-8606-9054.