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O impacto do diabetes mellitus na Osseointegração

Responsável por diversas complicações, o diabetes mellitus também afeta diretamente os procedimentos odontológicos. Descubra como a condição afeta a osseointegração. 

O diabetes mellitus tem como definição uma desordem metabólica caracterizada pela hiperglicemia proveniente da anormalidade na secreção ou resposta das células à insulina – um hormônio produzido pelas células beta nas ilhotas pancreáticas de Langerhans¹. Esta desordem metabólica crônica pode acometer o processo de osseointegração dos implantes dentários, principalmente na fase inicial da cicatrização, que influencia positivamente no sucesso do tratamento e sobrevivência dos implantes². Além disso, sabe-se que indivíduos com diabetes descontrolado estão mais suscetíveis ao risco de peri-implantite, assim como demonstram um aumento da porcentagem da perda dos implantes osseointegrados².

Estudos mostram uma alta taxa de sobrevida dos implantes em curto prazo, porém dependente da influência quanto à dose-resposta pelos parâmetros clínicos avaliados, como sangramento à sondagem e perda óssea marginal em associação com o controle glicêmico. Além disso, valores de HbAc devem ser considerados no momento do planejamento dos implantes dentários e avaliados durante todo o acompanhamento após a sua instalação³.

O diabetes mellitus afeta negativamente o processo de osseointegração dos implantes dentários, demonstrando que a hiperglicemia pode interferir na função celular, isto é, nos osteoblastos, diminuindo a neoformação óssea e atuando paralelamente também nos osteoclastos, podendo diminuir a formação e o aumento da reabsorção óssea, o que leva à perda óssea4-5. A inibição da atividade osteoblástica em indivíduos diabéticos ocorre devido à persistência da hiperglicemia, o que demonstra esta diminuição da reparação óssea6.

Um estudo pré-clínico com animais diabéticos demonstrou que a formação óssea inicial ao redor dos implantes, ou seja, o contato osso-implante, resultou em valores inferiores através de análises histológicas, quando comparado com o animal saudável, podendo comprometer também a estabilidade biomecânica dos implantes dentários instalados7. O que se determina também é que, em áreas investigadas do contato osso-implante, a presença da condição sistêmica alterada resultante leva à redução na expressão de osteoblastos, assim como uma pronunciada redução na produção de células osteoides4.

Outro aspecto relevante e possível de interferir nos resultados da osseointegração é o tratamento de superfície dos implantes. A evolução do desenvolvimento das diferentes modificações nas microestruturas dos implantes é uma estratégia para aprimorar o reparo ósseo. Um estudo pré-clínico em ratos demonstrou que estas modificações podem favorecer a formação de novo osso em um modelo de cicatrização deficiente, quando comparado com implantes de superfície lisa8.

Implantes com superfícies quimicamente modificadas (SLActive) demonstraram efeitos positivos na osseointegração em animais diabéticos, quando comparados com os saudáveis, após um período experimental de 120 dias. Na mesma comparação, a superfície SLA demonstrou valores inferiores9. Outro estudo pré-clínico avaliou a comparação entre a superfície lisa e a SLA em animais diabéticos e saudáveis. Os resultados revelaram que o contato osso-implante foi maior no grupo saudável, quando comparado com o diabético, enquanto implantes com superfícies SLA demonstraram maior valor significativo quando comparados com os implantes de superfície lisa10.

Diante da limitada evidência científica, é possível determinar que as pesquisas correlacionando o impacto do diabetes com a osseointegração demonstram uma menor taxa de formação óssea ao redor de implantes dentários. Porém, mais estudos pré-clínicos e clínicos randomizados devem ser realizados a fim de responder as questões sobre os mecanismos que afetam a cicatrização óssea do contato osso-implante no diabetes, para desenvolver terapias previsíveis e mais efetivas.

Referências

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  3. Oliveira PGFP, Coelho PG, Bergamo ETP, Witek L, Borges CA, Bezerra FB et al. Histological and nanomechanical properties of a new nanometric hydroxiapatite implant surface. An in vivo study in diabetic rats. Materials (Basel) 2020;13(24):5693. http://doi.org/10.3390/ma13245693

  4. NemŢoi A, Trandafir V, Paşca AS, Şindilar EV, Drăgan E, Odri GA et al. Osseointegration of chemically modified sandblasted and acid-etched titanium implant surface in diabetic rats: a histological and scanning electron microscopy study. Rom J Morphol Embryol 2017;58(3):881-6. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29250668/

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