A nova Odontologia com foco em saúde, diagnóstico individualizado e cuidados preventivos de alta performance.
Não há dúvidas de que o Brasil possui uma das melhores Odontologias do mundo, respeitada por sua crescente presença em publicações científicas de alto impacto, um número cada vez maior de produtos e patentes nacionais espalhando-se globalmente, e a nossa capacidade técnica de entregar resultados cada vez melhores, com alta previsibilidade e baseados em evidências científicas consistentes. Porém, infelizmente, esta Odontologia curativa ou restauradora de alta performance disponível nas diversas especialidades, como na Implantodontia, na Reabilitação Oral e na Harmonização Orofacial, entre outras, ainda é restrita a uma parcela muito limitada da nossa população. Isso porque se trata de um investimento que pode não estar ao alcance das camadas menos favorecidas financeiramente em nosso País.
Dentro deste cenário, investir em diagnóstico precoce e assertivo, métodos e testes predictivos individualizados e programas estruturados de prevenção é uma excelente alternativa para profissionais e pacientes que podem focar em saúde, em vez do tratamento da doença, seja ela a cárie, a doença periodontal ou peri-implantar, interações das doenças orais mais prevalentes com as sistêmicas, quando sabemos de maneira inequívoca que problemas bucais podem agravar ou serem agravados por distúrbios sistêmicos, como o diabetes, as cardiopatias e as disfunções gastrointestinais.
Para não fugirmos do tema desta coluna, precisamos refletir de maneira crítica e profunda sobre o presente e futuro da nossa profissão, com foco principal em ciência, alcance social, individualização e respeito aos nossos pacientes, pois a evolução tecnológica e seus benefícios deveriam estar voltados para a manutenção da saúde bucal e sistêmica, em vez de tratamentos lucrativos com resultados muitas vezes duvidosos do ponto de vista estético, funcional e de longevidade. Atualmente, há um desequilíbrio claro entre o que realmente deveria ser importante para a saúde dos nossos pacientes e a voracidade financeira das redes sociais.
Em um raciocínio lógico e simples, a prevenção visa à manutenção da saúde bucal a longo prazo, reduz os custos para os profissionais e pacientes, melhora a qualidade de vida, previne complicações locais e sistêmicas, educa de maneira consistente e preserva estruturas dentárias, mucosas e tecido gengival, além de prevenir o envelhecimento precoce bucal. Essa é uma situação dicotômica em relação à Odontologia curativa, que repara o dano, mas que se não vier acompanhada de um diagnóstico preciso e o tratamento também das causas que levaram àquele quadro clínico, será um tratamento transitório, com alto custo e baixo impacto na qualidade de vida dos pacientes no longo prazo. Isto é um fato facilmente identificável, uma vez que muitos dos tratamentos que realizamos hoje são repetições de reabilitações realizadas há pouco tempo e sem os cuidados educativos e preventivos necessários.
Muitas vozes importantes estão se levantando em nosso meio, discutindo o melhor entendimento do microbioma bucal, testes acessíveis realizados em consultório a partir de amostras de saliva e seu impacto na classificação de risco de desenvolvimento de doenças bucais e sistêmicas, realização de análises proteômicas predictivas avaliando marcadores conhecidos de risco para diagnóstico e prevenção de doenças orais, anamnese clínica e laboratorial multiparamétrica avaliando a condição psicológica dos pacientes, qualidade do sono, hábitos e distúrbios alimentares, atividades esportivas e hábitos funcionais ou parafuncionais. Afinal, somente um diagnóstico minucioso multidisciplinar focado na eliminação da causa pode gerar tratamentos efetivos e de longo prazo com altos níveis de previsibilidade, baixo custo e atendimento recorrente.
Fábio Bezerra
Especialista em Periodontia – FOB/USP; Especialista em Implantodontia – Inepo; Mestre em Periodontia – Universidade Paulista; Doutor em Biotecnologia – Unesp.
Orcid: 0000-0003-0330-2701.