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A fotografia de face como ferramenta diagnóstica bidimensional

Nesta edição, Maristela Lobo estreia a coluna Visão Multidisciplinar, um espaço para debater ferramentas, técnicas e abordagens que abrangem todas as especialidades da Odontologia.

Fotografia de face: Maristela Lobo apresenta sequência de fotos para que os profissionais façam o protocolo completo. 

O diagnóstico é a base de toda estratégia terapêutica, e requer atenção e documentação adequadas. Há 20 anos, utilizo a fotografia como ferramenta diagnóstica em Odontologia, para isso são necessários alguns detalhes importantes: fidelidade (ausência de distorção), padronização e estratégia para registrar aspectos importantes relacionados à queixa principal do paciente.

A fidelidade na aquisição de imagens pressupõe o uso de lentes do tipo macro 100, que não distorcem a face ou o ambiente intraoral, bem como iluminação e temperatura de cor adequadas ao que se propõe avaliar. No caso das fotos de face, a luz rebatida no teto simula o ambiente natural, o sol que ilumina as faces de cima para baixo de maneira difusa.

A padronização se refere à posição natural da cabeça e às posturas de aquisição das imagens, bem como a utilização de um fundo negro sem reflexão de luz, isolando a influência de cores da roupa do paciente. Acessórios devem ser removidos, bem como maquiagem e cabelos sobre o rosto. São detalhes muito importantes quando se pensa em fotografia como registro diagnóstico.

E quando falo de estratégia para capturar dados referentes à queixa principal do paciente, me refiro à orientação quanto às mímicas, posturas labiais, sorrisos e posturas faciais que indiquem sinais clínicos importantes na observação do caso. Quatro posturas labiais são fundamentais à percepção diagnóstica: lábios selados, lábios em repouso (com o paciente falando a palavra “ema”), sorriso social (posado) e sorriso máximo (do tipo “gargalhada”), Figura 1. As fotos frontais com as quatro posturas labiais devem ser feitas com o paciente em posição natural da cabeça. Quando o paciente realiza essas posturas labiais, é possível direcionar o diagnóstico à observação de questões clínicas importantes:

A. O selamento labial (se é passivo ou se existe esforço excessivo do músculo mentual na projeção do lábio inferior para o selamento);
B. A exposição de incisivos em relação ao espaço interlabial e ao lábio superior em repouso (e a provável ptose dos tecidos faciais em direção à linha média e ao solo e/ou o alongamento do lábio superior, com predominância de exposição de incisivos inferiores);
C. O alinhamento das comissuras labiais, do estômio e a consonância de curvas labiais ao sorrir, tanto em sorriso posado quanto em sorriso máximo. Muitas vezes, as assimetrias labiais ficam evidentes apenas em sorriso máximo e não são detectadas em consultório, pois o paciente só expõe sorriso posado ao cirurgião-dentista que está examinando e fotografando.

As quatro posturas labiais devem ser fotografadas em cinco perspectivas faciais: frontal, 45 graus para a direita, 45 graus para a esquerda, perfil direito e perfil esquerdo (Figura 2). Em todas as perspectivas, o paciente deve manter os olhos abertos e a cabeça em posição natural (com o plano de Frankfurt paralelo ao solo). São 20 fotos no total, considerando quatro posturas labiais e cinco perspectivas faciais (Figuras 3). Essas fotos permitem a observação e o registro das proporções faciais, dos contornos, das hierarquias de projeção de lábios e pogônio, e da dinâmica de excursão labial e função muscular perioral.

Adicionalmente, as fotos das seis principais mímicas faciais (Figuras 4) auxiliam no diagnóstico da dinâmica muscular da face, não só para fins estéticos, mas para a percepção funcional de possíveis desequilíbrios e assimetrias relacionados à disfunção ou hiperfunção de alguns músculos. Um exemplo: assimetrias de sorriso envolvendo lábio inferior frequentemente estão relacionadas ao músculo platisma. Por fim, faço fotos de cinco posições adicionais para verificar o deslocamento dos tecidos faciais (em função da flacidez de ligamentos de retenção e deslocamento de coxins de gordura) e observar características de nariz, mento e ápice malar (Figuras 5).

Ao todo, são 31 fotos para os profissionais que fazem o protocolo completo. Essas fotos podem ser utilizadas no diagnóstico em quaisquer especialidades odontológicas, considerando que envolvem a área de atuação do cirurgião-dentista. Nas colunas seguintes, pretendo esmiuçar de que maneira essas fotos são utilizadas para o correto diagnóstico facial, a fim de melhorar a nossa percepção enquanto reabilitadores.