A informação da posição da cabeça em relação ao espaço e da posição da maxila em relação ao crânio pode ser transmitida através de diversas ferramentas de diagnóstico.
Um dos componentes mais importantes – se não o mais importante – na relação entre o cirurgião-dentista e o técnico de prótese dentária (TPD) é a comunicação. A eficiência desta comunicação depende da correta transmissão das informações do paciente através do cirurgião-dentista para o TPD, de forma a se estabelecer um diagnóstico clínico preciso. Consequentemente, é fundamental estabelecer um correto e adaptado plano (ou planos) de tratamento e, por fim, garantir que a execução de tal plano aconteça com o menor enviesamento possível, reduzindo-se as repetições de passos e com a correta transposição do trabalho do TPD para o cirurgião-dentista.
No que diz respeito ao diagnóstico, a informação da posição da cabeça em relação ao espaço e da posição da maxila (e da mandíbula) em relação ao crânio pode ser transmitida através do somatório de diversas ferramentas de diagnóstico. São elas:
– Protocolo fotográfico completo;
– Protocolo de vídeo para análise da fonética;
– Imagem capturada pelo scanner facial;
– Impressões de estudo e análise do modelo/referências anatômicas faciais frontais e laterais (Figuras 1 e 2);
– Registo oclusal em máxima intercuspidação ou em relação cêntrica, dependendo do caso em questão (Figuras 3 e 4);
– Utilização do PlaneFinder para determinação da posição natural da cabeça (PNC);
– Montagem em articulador.
A utilização do PlaneFinder, da Zirkonzahn, para determinação da PNC (Figura 5), ou seja, a transmissão da informação sobre a posição da maxila (tridimensional) em relação ao horizonte (0º), é relativamente simples.
Todos os indivíduos possuem um sistema vestibular de coordenação muscular, que ajusta o equilíbrio e a postura do esqueleto axial de forma involuntária. Ele funciona como um nivelador tridimencional, atuando na musculatura do pescoço e ajustando a posição da cabeça em relação ao horizonte.
Assim, no PlaneFinder, ao colocar-se diante de um espelho, o paciente posiciona naturalmente a cabeça sem qualquer intervenção ou manipulação externa. Ou seja, esta posição da cabeça é sistematicamente reprodutível. Desta forma, e através da PNC, é possível registar o que o laboratório de prótese dentária necessita para montar corretamente o modelo superior: a posição da maxila em relação espacial com o crânio, quando este está posicionado em 0º (Figura 6), em vez de ser registado e montado em uma posição segundo outros planos faciais, como o Plano de Camper ou de Frankfurt (Figura 7).
Podemos aferir a exatidão desta ferramenta tanto de forma analógica como digital ao analisar o modelo superior (Figura 8), em que a rafe palatina – que se correlaciona espacialmente com o nasion (Figura 9) – define, em situações normais, a linha média esquelética. Esta ajuda a determinar ou a validar a verdadeira linha média dentária (Figuras 10 a 12).
Pode-se observar e verificar este aspecto se compararmos a posição dos dentes do paciente quando estes estão assentes sobre a forquilha do PlaneFinder, com o registo da posição dos dentes do modelo sobre a mesma forquilha (Figuras 13 a 15).
Em casos de reabilitação oral ou oclusão, devemos levar em conta a assimetria facial bilateral. Assim, são inseridos no articulador PS1 da Zirkonzahn os valores registados da angulação à direita e à esquerda do Plano de Camper (Ala-Tragus) com o plano horizontal (0º), viabilizando a correção ou validação do plano oclusal funcional bilateral do paciente (Figura 16). Desta forma, é possível realizar a montagem no articulador do modelo superior (analógica ou digitalmente) em uma posição tridimensional correta, permitindo a transposição real e individual – minimizando a introdução de valores médios – de cada paciente. Tendo o modelo superior montado, o modelo inferior é articulado e montado através do registo intermaxilar.
A utilização de outros dispositivos ou métodos de registo do posicionamento do maxilar em relação à face, como o arco facial, por exemplo, não considera as estruturas duras do crânio (tecidos duros) e as assimetrias faciais bilaterais – por exemplo, a assimetria do meato acústico externo, seja em um plano transversal ou em um plano coronal (Figura 17). Sobre esse último ponto, devemos lembrar que a articulação humana funciona a partir de estruturas assimétricas e, dessa forma, não é possível registrar sua movimentação de forma precisa a partir de dois eixos de rotação perfeitamente simétricos nos três planos do espaço. Dessa forma, ao utilizar um dispositivo que não considera tais assimetrias, estamos transmitindo informações imprecisas que influenciarão todo o processo posterior (Figura 18).
Assim, considerando tudo o que foi mencionado, devemos buscar uma comunicação de informações válidas, não aleatórias e reproduzíveis entre o cirurgião-dentista e o TPD, de forma a reduzir o somatório de pequenos erros no tratamento realizado. Dessa forma, aumentaremos a eficácia, a produtividade e a qualidade do trabalho realizado, com benefício direto para a saúde do paciente.
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Leia também “Face to face”, coluna de Diogo Viegas publicada na revista PróteseNews.
Coordenação da coluna:
Diogo Miguel da Costa Cabecinha Pacheco Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutorando em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – Faculdade de Medicina dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL), em Portugal.
Orcid: 0000-0002-6545-7875.
Autores convidados:
Tiago Silva
Doutor em Medicina Dentária e Mestre em Cirurgia e Patologia Oral pela Universidade do Porto; Especialista em Cirurgia Oral pela Ordem dos Médicos Dentistas. Docente universitário em Anatomia Humana, Neuroanatomia e Reabilitação Oral Avançada Biomimética no Instituto Universitário de Ciências da Saúde.
Udo Plaster
Técnico em prótese Dentária.
João Pedro Antunes Rodrigues Fernandes
Técnico em prótese dentária pela Escola Superior de Saúde Egas Moniz (Portugal); Professor na pós-graduação em Reabilitação Oral Avançada da Biomimetic Dentistry Portugal.
João Tiago Mourão
Professor agregado da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa.