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Gengivectomia: um caso com 20 anos de acompanhamento

Marco Bianchini apresenta caso de gengivectomia em paciente de 14 anos, em que apostou no crescimento facial para ajudar na conformação adequada da gengiva marginal.

A técnica de gengivectomia/gengivoplastia é bastante antiga e vem sendo utilizada há mais de 100 anos na Periodontia. Introduzida pela primeira vez em 18831-2, esta terapia foi definida como a excisão da parede mole da bolsa, sendo inicialmente utilizada para o tratamento da doença periodontal nas suas mais variadas formas. Com o passar dos anos, a técnica teve a sua indicação mais focada para a erradicação completa das bolsas supraósseas, em combinação com a gengivoplastia, para alcançar um tecido mole harmonioso com contorno fisiológico adequado3.

Atualmente, a gengivectomia tem sido mais utilizada para correção do sorriso gengival, principalmente em pacientes que finalizam um tratamento ortodôntico e acabam tendo uma migração coronal indesejada do tecido gengival em direção coronal. O problema é que esta migração geralmente ocorre também com o tecido ósseo, que vem junto com a gengiva na direção coronal, encurtando as coroas dos dentes4. A correção adequada destas sequelas estéticas acaba sendo realizada com uma cirurgia ressectiva de aumento de coroa clínica, em que se remove, além da gengiva marginal, o osso que se aproximou em demasia da junção amelocementária4.

Há cerca de 20 anos, eu atendi uma paciente que havia removido recentemente seu aparelho ortodôntico. Na época, esta paciente tinha 14 anos e eu resolvi fazer uma gengivectomia simples, apostando que o crescimento facial da mesma, com o passar do tempo, iria ajudar na conformação adequada da gengiva marginal. Por ser uma paciente próxima a mim (minha sobrinha), pude monitorar o caso de perto ao longo dos anos. As Figuras 1 a 6 ilustram este caso.

Atualmente, a correção do sorriso gengival tem virado uma febre entre profissionais e pacientes. A rede social Instagram tem contribuído muito para este fato, que ocorre, na sua grande maioria, em pacientes do sexo feminino. Com um simples toque, é possível ampliar a foto e encontrar defeitos gengivais estéticos. Pacientes extremamente jovens têm sido submetidos a intervenções desnecessárias, que seriam corrigidas naturalmente com as remodelações ósseas ocorridas durante o crescimento facial natural.

O caso apresentado nos faz refletir sobre esta questão. Não posso afirmar com certeza, mas talvez até os elementos 12 e 22 teriam sido corrigidos naturalmente com o crescimento facial, evitando totalmente a cirurgia. Acredito ser de grande importância emocional e cultural que tenhamos um maior cuidado ao indicar cirurgias ressectivas em pacientes mais jovens. Urge a nossa classe esclarecer aos pacientes e aos seus pais que as modificações corporais ocorrem naturalmente e é preciso aguardar o tempo certo para intervir cirurgicamente na correção da estética gengival.

Referências

  1. Ercoli C, Caton JG. Dental prostheses and tooth-related factors. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):207-18.
  2. Stern IB, Everett FG, Robicsek KS. Robicsek – a pioneer in the surgical treatment of periodontal disease. J Periodontol 1965;36:265-8.
  3. Deas DE, Moritz AJ, Sagun Jr. RS, Gruwell SF, Powell CA. Scaling and root planing vs. conservative surgery in the treatment of chronic periodontitis. Periodontol 2000 2016;71:128-39.
  4. Cortellini P, Bissada NF. Mucogingival conditions in the natural dentition: narrative review, case definitions, and diagnostic considerations. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):190-8.