O uso dos biomateriais têm sido cada vez mais recorrente na Odontologia, com foco em abordagens menos invasivas. André Pelegrine e Marcelo Teixeira dão seu parecer sobre o tema neste estudo de caso.
A reabilitação implantossuportada unitária em região estética representa sempre um desafio clínico, tanto do ponto de vista cirúrgico quanto protético. Em alvéolos na área de maxila anterior, a cicatrização espontânea após seis meses da exodontia repercute em perda de cerca de 35% da espessura no terço mais coronário do alvéolo¹. Assim, para essas situações, vêm sendo sugeridas técnicas de preservação de rebordo, especialmente por meio do uso de biomateriais mineralizados de reabsorção lenta. Nas situações clínicas em que é viável a instalação imediata do implante, a técnica de preservação do rebordo deve ser efetuada concomitantemente² , caso contrário deve-se trabalhar de forma estagiada.
As técnicas de preservação de rebordo, apesar de minimizarem as alterações dimensionais pós-exodontia, repercutem em uma perda volumétrica da ordem de 12% em espessura no terço mais coronário do alvéolo³ . Portanto, se o plano de tratamento estiver focado em excelência estética, um ato de sobrecorreção de cerca de 10% a 15% pelo aspecto vestibular do alvéolo está indicado com o intuito de suplantar a inevitável perda dimensional. Porém, como a sobrecorreção com a clássica técnica de regeneração óssea guiada demanda rebatimento de retalho de espessura total e provável necessidade de abordagem cirúrgica das papilas, um procedimento de sobrecorreção por meio do uso de enxerto de tecido conjuntivo parece representar a melhor opção, especialmente do ponto de vista estético.
O presente caso clínico foi abordado com embasamento nestes princípios, em que foi instalado um implante osseointegrável imediatamente após a extração de um incisivo central com histórico de trauma e consequente reabsorção radicular. O implante mostrou estabilidade suficiente para a execução da técnica de função imediata. Tal estabilidade foi mensurada por meio da análise de frequência de ressonância com o equipamento Penguin, após fixação do transdutor no implante, sendo obtido um ISQ de 66. Após a inserção do implante, o gap foi preenchido com hidroxiapatita bovina e a fase de provisionalização foi realizada com a porção coronária do próprio elemento dental extraído e a sobrecorreção vestibular feita com enxerto de tecido conjuntivo. Após quatro meses, foi confeccionada uma coroa cerâmica e, após um ano em função, pôde-se observar adequada estabilidade tecidual, sem indícios da sobrecorreção.
Referências
1. Pelegrine AA, da Costa CE, Correa ME, Marques Jr. JF. Clinical and histomorphometric evaluation of extraction sockets treated with an autologous bone marrow graft. Clin Oral Implants Res 2010;21(5):535-42.
2. Kan JYK, Rungcharassaeng K, Deflorian M, Weinstein T, Wang HL, Testori T. Immediate implant placement and provisionalization of maxillary anterior single implants. Periodontol 2000 2018;77(1):197-212.
3. Araújo MG, Lindhe J. Ridge preservation with the use of Bio-Oss collagen: a 6-month study in the dog. Clin Oral Implants Res 2009;20(5):433-40
André Antonio Pelegrine
Especialista em Periodontia e professor coordenador dos cursos de especialização e mestrado em Implantodontia – SLMandic; Mestre em Implantodontia – Unisa; Doutor em Clínica Médica – Unicamp; Pós-doutor – Unifesp.
Marcelo Lucchesi Teixeira
Mestre em Prótese Dentária – Unicastelo; Mestre em Ciências da Reabilitação – HRAC-USP; Doutor em Prótese Dentária – Fousp; Professor coordenador dos cursos de especialização e mestrado profissional em Prótese Dentária – SLMandic.