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Espiral da morte do implante (EMI)

A responsabilidade do cirurgião-dentista na prevenção da doença peri-implantar.

Esta coluna tem como objetivo principal discutir assuntos relacionados ao dia a dia do reabilitador oral, sobretudo os que trabalham com implantes osseointegráveis, com foco na manutenção da saúde bucal dos pacientes e consequente longevidade dos tratamentos realizados. Para isto, criamos uma derivação racional a partir da definição do termo “espiral da morte dental – (EMD)”, descrito por Ole Fejeskov e colaboradores no livro “Dental caries: the disease and its clinical management”, publicado em 2008. Nesta definição, os autores demonstraram de maneira assertiva as diferentes fases da evolução da doença cárie, desde a lesão primária até a exodontia, passando por fases intermediárias de lesão cariosa, restaurações, endodontia e prótese, enfatizando a necessidade de diagnóstico dos agentes etiológicos, eliminação de fatores de riscos individuais e terapia de suporte individualizada, como pilares principais para a longevidade dos tratamentos e manutenção da saúde bucal.

Não há dúvidas de que a reabilitação oral por meio de implantes dentários representa um dos maiores avanços da Odontologia moderna, proporcionando aos pacientes uma alternativa duradoura e esteticamente agradável para a substituição de dentes perdidos. No entanto, a longevidade e o sucesso deste tratamento dependem significativamente da manutenção preventiva e do acompanhamento pós-tratamento, identificando os fatores etiológicos primários e secundários que levaram à perda dentária prévia. A ausência dessas práticas pode iniciar uma sequência de eventos patológicos, como a espiral da morte do implante, que se inicia com a mucosite peri-implantar e culmina na explantação. A doença peri-implantar é uma condição inflamatória que pode ser dividida em duas fases principais: mucosite peri-implantar e peri-implantite, sendo a primeira caracterizada pela inflamação reversível dos tecidos moles ao redor do implante, similar à gengivite ao redor de dentes naturais. A sua etiologia primária está diretamente relacionada ao acúmulo de biofilme bacteriano que, se não controlado, pode progredir para a peri-implantite. A peri-implantite envolve a inflamação dos tecidos moles e a destruição progressiva do osso de suporte ao redor do implante, levando a uma perda óssea significativa.

Clinicamente, observa-se sangramento à sondagem, supuração, profundidade de sondagem aumentada e perda óssea radiograficamente visível. Se não tratada, pode progredir a um ponto irreversível, em que a manutenção do implante é comprometida, levando à necessidade de explantação.

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO INDIVIDUALIZADA

A prevenção e o manejo eficazes da doença peri-implantar requerem uma abordagem baseada na avaliação de risco individualizado, do ponto de vista local e sistêmico, com ênfase multidisciplinar. Fatores como histórico de periodontite, hábitos de higiene oral, tabagismo, diabetes mellitus e a morfologia dos tecidos peri-implantares influenciam o risco de desenvolvimento de complicações peri-implantares. Além dos fatores citados acima, recentemente temos uma evidência científica consistente demonstrando que fatores coadjuvantes, como o tipo de dieta, estabilidade emocional, utilização de medicações com efeitos colaterais bucais, tratamentos químicos ou radioterápicos e xerostomia, entre outros, aceleram e agravam a doença.

O PAPEL DO CIRURGIÃO-DENTISTA NA EDUCAÇÃO E MANUTENÇÃO

A responsabilidade do cirurgiãodentista vai além da colocação dos implantes ou realização de uma reabilitação oral de alta performance, do ponto de vista estético e funcional. Educar os pacientes sobre a importância da manutenção preventiva é crucial. Um programa de terapia de suporte pós-tratamento deve ser estabelecido, incluindo visitas regulares de manutenção, instruções detalhadas de higiene oral e intervenções preventivas profissionais, como a orientação sobre técnicas de higienização, prescrição de produtos adequados às necessidades de cada indivíduo e estabelecimento de uma proservação pós-tratamento adequada.

A orientação ao paciente deve enfatizar a natureza cumulativa dos fatores de risco e a importância da adesão a um regime de manutenção rigoroso, uma vez que o monitoramento regular permite a detecção precoce da mucosite peri-implantar, possibilitando intervenções imediatas que podem prevenir a progressão para a peri-implantite.

A espiral da morte do implante representa um desafio significativo na reabilitação oral com implantes, sendo que a educação, a classificação de risco individualizado e um eficaz programa de terapia de suporte são pilares essenciais para assegurar a longevidade dos implantes dentários e a satisfação dos pacientes. Ao assumir um papel proativo na prevenção da doença peri-implantar, os cirurgiões-dentistas podem transformar a trajetória do tratamento, garantindo resultados previsíveis, duradouros e de alta qualidade.