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Elevação de margem profunda: aspectos biológicos e clínicos

Confira dois casos clínicos que aprofundam a técnica de elevação de margem profunda seguida de restaurações em resina.

A elevação de margem profunda (EMP) é uma técnica que visa ao reposicionamento das margens restauradoras, inicialmente localizadas em um nível subgengival, para uma posição mais coronal, acima ou ao nível gengival1. Esta técnica foi introduzida em 1998 por Dietschi e Spreafico, e também é chamada de relocação da margem cervical, elevação da caixa proximal ou relocação da margem coronal. Independentemente do termo utilizado, a técnica tem como objetivo proporcionar uma adequada visualização da margem do dente a ser restaurado, possibilitando benefícios ao isolamento do campo operatório com controle de umidade, facilitando e aumentando a longevidade dos processos adesivos, além da prevenção de um sacrifício desnecessário de tecidos de suporte2-3. Este procedimento desempenha um papel importante na Odontologia minimamente invasiva e, atualmente, representa uma importante alternativa terapêutica, particularmente em casos de dentes com grande perda tecidual3-4.

Embora seja bem estabelecido que a invasão do espaço supracrestal possa resultar em problemas inflamatórios, a determinação precisa do espaço necessário para a acomodação dos tecidos periodontais, sem provocar inflação e subsequente remodelação óssea, ainda é um tema amplamente discutido4-5. Em 1961, Gargiulo et al. realizaram um estudo pioneiro para investigar a relação da junção dentogengival em seres humanos, cujos resultados ainda são utilizados como referência na prática odontológica.

Neste clássico estudo, foi identificada uma média de 0,69 mm para a extensão do sulco gengival, que, por sua vez, não faz parte da distância biológica. Além disso, observou-se uma média de 0,97 mm para a extensão do epitélio juncional e 1,07 mm para a zona de inserção conjuntiva. Somando estas medidas, obtém-se uma média de 2,04 mm para a acomodação tecidual6. Em resumo, para evitar interferências no espaço supracrestal, é essencial manter uma distância média de 2 mm entre a crista óssea e a margem restauradora. Devemos considerar que esses números se referem a valores médios que podem variar entre pacientes e diferentes regiões.

No entanto, é importante destacar que, em muitas situações, mesmo com essa distância preservada, a margem do dente a ser restaurado pode invadir o tecido gengival que compõe o sulco, tornando-se subgengival. A EMP pode ser indicada neste contexto, visando minimizar os efeitos negativos relacionados à técnica tradicional do aumento de coroa clínica cirúrgico, como problemas estéticos, comprometimento do dente vizinho, desconforto, maior custo operacional e maior tempo de tratamento7.

A preservação de maior quantidade de estrutura dentária é a base da Odontologia Restauradora atual. Por isso, a EMP pode ser utilizada tanto para restaurações diretas em resina como para restaurações indiretas em resina ou cerâmica8-9. A técnica de EMP apresenta desafios significativos, sendo a necessidade de análise individualizada de cada caso um dos principais, o que demanda um conhecimento interdisciplinar de aspectos periodontais e restauradores.

Adicionalmente, a sensibilidade da técnica é evidente, já que exige a execução cuidadosa do isolamento absoluto em regiões de difícil acesso e o domínio dos princípios de adesão e cimentação, além da necessidade da remoção minuciosa de qualquer excesso de material restaurador que eventualmente ocorra. Para assegurar a qualidade do procedimento, é altamente recomendável a obtenção de radiografias pós-elevação de margem.

Há três diferentes situações clínicas para a realização da EMP, classificadas com base em parâmetros biológicos e técnicos que podem facilitar a tomada de decisão clínica10. Essas situações e possíveis condutas podem ser visualizadas na Tabela 1, citada no artigo original1 e adaptada mediante nossa interpretação.

As evidências disponíveis sobre o tema EMP ainda são limitadas. Estudos clínicos randomizados com acompanhamentos a longo prazo são necessários para validação da eficiência da técnica. Por enquanto, a EMP deve ser indicada com cautela, respeitando-se três critérios: isolamento absoluto efetivo do campo operatório, vedação perfeita da margem cervical com a matriz e preservação da região de acomodação do tecido supracrestal.

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DE RESTAURAÇÕES COM MARGENS SUBGENGIVAIS E POSSÍVEIS CONDUTAS

CASO CLÍNICO 1 – ELEVAÇÃO DE MARGEM PROFUNDA (GRAU I) SEGUIDA DE RESTAURAÇÃO EM RESINA DIRETA

CASO CLÍNICO 2 – ELEVAÇÃO DE MARGEM PROFUNDA (GRAU II) SEGUIDA DE RESTAURAÇÃO EM RESINA COMPOSTA INDIRETA

Referências

  1. Aldakheel M, Aldosary K, Alnafissah S, Alaamer R, Alqahtani A, Almuhtab N. Deep margin elevation: current concepts and clinical considerations: a review. Medicina 2022;58(10):1482.
  2. Dietschi D, Spreafico R. Current clinical concepts for adhesive cementation of tooth-colored posterior restorations. Pract Periodontics Aesthetic Dent 1998;10(1):47-54.
  3. Samartzi TK, Papalexopoulos D, Ntovas P, Rahiotis C, Blatz MB. Deep margin elevation: a literature review. Dent J 2022;14(10):48.
  4. Mugri MH, Sayed ME, Nedumgottil BM, Bhandi S, Raj AT, Testarelli L et al. Treatment prognosis of restored teeth with crown lengthening vs. deep margin elevation: a systematic review. Materials 2021;14(21):6733.
  5. Felemban MF, Khattak O, Alsharari T, Alzahrani AH, Ganji KK, Iqbal A. Relationship between deep marginal elevation and periodontal parameters: a systematic review. Medicina 2023;59(11):1948.
  6. Gargiulo AW, Wentz FM, Orban B. Dimensions and relations of the dentogingival junction in humans. J Periodontol 1961;32:261-7.
  7. Eggman F, Ayub JM, Conejo J, Blatz MB. Deep margin elevation – present status and future directions. J Esthet Restor Dent 2023;35(1):26-47.
  8. Dablanca-Blanco AB, Blanco-Carrión J, Martín-Biedma B, Varela-Patiño P, Bello-Castro A, Castelo-Baz P. Management of large class II lesions in molars: how to restore and when to perform surgical crown lengthening?. Restor Dent Endod 2017;42(3):240-52.
  9. Magne PSR. Deep margin elevation: a paradigm shift. Am J Esthet Dent 2012;2:86-96.
  10. Veneziani M. Adhesive restorations in the posterior area with subgingival cervical margins: new classification and differentiated treatment approach. Eur J Esthet Dent 2010;5(1):50-76.