É possível confeccionar pinos e núcleos de fibra em CAD/CAM?
Nathalia Ramos – Natal (RN)
A Odontologia adesiva vem substituindo procedimentos invasivos que debilitam o remanescente dental por técnicas mais conservadoras e estéticas. Se existir férula de pelo menos 2 mm de remanescente, é possível pensar em executar a restauração direta sobre esse remanescente ou mesmo construir um núcleo coronário, desde que sejam utilizadas técnicas adesivas. Assim, é possível a confecção de uma coroa com o mínimo de intervenção no dente remanescente.
Diante da ausência de férula, a evidência científica tem a indicação convencional para a confecção de um núcleo metálico fundido (Figura 1). Com o uso das coroas em cerâmica pura, os pinos e núcleos metálicos passaram a ser questionados e a busca por um substrato estético passou a ser fundamental. As opções eram os pinos pré-fabricados dos mais diversos tipos, normalmente materiais com coloração escura e, portanto, esteticamente desfavoráveis. Os pinos de fibra de vidro ganharam espaço devido à possibilidade de obtenção de um substrato parecido com o dente natural.
Além da estética desfavorável, os núcleos metálicos fundidos podem levar o remanescente radicular mais rapidamente à fratura, diante de forças parafuncionais. Com pinos de fibra, o colapso se dá, via de regra, nos núcleos coronários. Ou seja, eles possibilitam o reparo, dando sobrevida à raiz remanescente. Por outro lado, são considerados excessivamente frágeis. Outra estratégia são os pinos de fibra “híbridos”, confeccionados pela técnica direta/indireta, customizados e polimerizados fora da cavidade bucal. Essa técnica propicia melhor estrutura e maior resistência, porém ambos só devem ser indicados para dentes com férula.
A busca por um pino mais resistente e estético que viabilize sua utilização em dentes sem férula possui outra opção, que é a confecção a partir de blocos pré-fabricados de fibra de vidro (75% a 80%) e resina epóxi (20% a 25%) para fresagem pela técnica CAD/CAM (Figura 2). Este material oferece maior resistência e, com isso, pode ser indicado para dentes sem férulas. Espera-se que esse pino tenha resistência capaz de suportar cargas funcionais e, mesmo diante de cargas parafuncionais, possam proteger o remanescente radicular, uma vez que apresentam características mecânicas e estéticas próximas a de dentes naturais. Assim, é um material promissor com vantagens mecânicas e estéticas importantes, ainda que com pouca evidência científica. A questão é: como executar este procedimento? Posso fazer um escaneamento do conduto radicular?
EXISTEM DOIS CAMINHOS PARA A OBTENÇÃO DESTE PINOS E NÚCLEOS DE FIBRA:
1. Fluxo totalmente virtual, com escaneamento do remanescente radicular. Para isso, o equipamento deve ser capaz de capturar toda a extensão do conduto desobstruído. Esse é um desafio para o operador e para alguns equipamentos disponíveis. Condutos muito longos e/ou diâmetro muito reduzido dificultam a obtenção do modelo virtual com fidelidade. Um conduto radicular não deve ser ampliado, nem planejado um pino curto em função da limitação do escaneamento (Figuras 3 e 4). Os parâmetros dos pinos não devem ser alterados: dois terços do remanescente ou metade da implantação óssea e espessura de um terço do diâmetro da raiz. Mudanças nesses parâmetros carecem de comprovação clínica com estudos in vivo confiáveis. Estudos que indicam diminuição do comprimento do pino, em função da adesão, são na sua maioria relatos de casos sem evidência científica. A modelagem do pino e núcleo poderá ser executada com programas específicos, como o exocad, ou do próprio fabricante do escâner (Figuras 5 a 7).
2. Outra opção para quem ainda não faz uso do escâner intraoral pode ser a modelagem em resina acrílica autopolimerizável do pino e núcleo pelos métodos analógicos convencionais, obtendo um padrão em resina acrílica. Este modelo pode ser escaneado e digitalizado para, então, ser fresado.
Temos poucas marcas comercias de blocos de fibra disponíveis no mercado nacional. A FiberCad Post & Core, da Angelus (Maringá/PR), tem se mostrado promissora (Figura 8). No mercado internacional, temos a italiana Trilor Bioloren como exemplo. Assim, fica claro que os pinos fresados são uma realidade, tanto para quem possui um escâner quanto para quem ainda não o possui, uma vez que laboratorialmente o pino em resina pode ser digitalizado e fresado, em vez de ser submetido a um processo de fundição. O escaneamento é possível, viável e o resultado é muito promissor (Figuras 9 e 10).
Coordenação:
Eduardo Miyashita
Professor titular do Depto. de Odontologia, disciplina de Prótese Dental – Unip/SP; Doutor em Odontologia Restauradora – Unesp/SJC.
Orcid: 0000-0002-1098-714X.
Autores convidados:
Paulo Vicente Rocha
Mestre e doutor em Reabilitação Oral – FOB-USP; Professor associado IV do DPCI – FO-UFBA.
Orcid: 0000-0002-2005-4562.
Rosa Amoedo
Mestra em Prótese Dentária – Unitau; Professora da residência em Reabilitação Oral – ABO Bahia.
Orcid: 0009-0005-7874-3239.