You are currently viewing Cinco perguntas para Vagner Ortega

Cinco perguntas para Vagner Ortega

Vagner Ortega traz detalhes do curso de mestrado, os principais desafios e as tendências da Odontologia Digital para um futuro próximo.

Coordenador do primeiro curso de mestrado em Odontologia Digital do Brasil, na Faculdade São Leopoldo Mandic, o professor Vagner Ortega é um dos grandes entusiastas das ferramentas digitais na rotina clínica do cirurgião-dentista. Graduado em 1996 pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), Ortega começou a lecionar no ano 2000. Mais de 13 anos depois, foi apresentado à Odontologia Digital e, desde então, trabalha para implementar o estudo e o ensino da disciplina, sempre com foco na formação de professores, pesquisadores e empreendedores nessa área. Em conversa com a equipe da ImplantNews, Vagner Ortega traz detalhes do curso de mestrado, os principais desafios e as tendências da Odontologia Digital para um futuro próximo.

1) Você é o coordenador do primeiro curso de mestrado em Odontologia Digital do Brasil. Qual balanço você faz?
Vagner Ortega – A Odontologia Digital é uma área da Odontologia que não surgiu dentro das faculdades, mas sim na indústria. As empresas desenvolvem softwares, escâner, impressoras 3D, fresadoras e outros equipamentos tecnológicos e digitais, mas a maioria não contou com a participação da universidade. Dessa forma, chegamos a um cenário mundial em que temos diversos equipamentos e usuários praticamente autodidatas, mas não temos formação. Nosso propósito, ao montar a primeira turma de mestrado em Odontologia Digital no Brasil, em 2020, foi formar professores. Mas hoje vemos que esse curso vai além disso. Isso porque o mestre em Odontologia Digital pode estar em todos os cenários, desde a faculdade até a indústria. Assim, o balanço que eu faço do mestrado, agora com quatro anos de história, é que os nossos propósitos estão se modificando. Hoje, o mestrado em Odontologia Digital torna o aluno capacitado para ser professor e pesquisador, desenvolvedor produtos e técnicas e empreendedor. A ideia é que esse profissional, independentemente da sua atuação, saiba formar opinião com respaldo científico, entendendo como realizar uma pesquisa, além de interpretar pesquisas científicas já existentes. Sabendo que a Odontologia Digital não alcançou nem 10% dos cirurgiõesdentistas do Brasil, a nossa tarefa principal, hoje, é comunicar com embasamento científico.

2) No seu curso, é possível perceber os alunos “mais digitais”?
Vagner Ortega – O curso de mestrado é voltado para pessoas que já estão inseridas e trabalham com a Odontologia Digital. Em geral, as pessoas que procuram o curso já têm uma certa experiência, têm escâner, alguns possuem centros radiológicos, impressoras, ou já têm alguma vivência no digital. Já na graduação, implementamos na São Leopoldo Mandic a disciplina de Odontologia Digital desde 2016, então já são oito anos e nove turmas que têm esse contato. É possível notar uma progressão muito grande, pois o jovem hoje já é digital na sua formação e na sua vida. Hoje, nós já vemos os alunos aplicando isso em clínica, inseridos no cenário digital de uma maneira mais profunda, já sabendo como esse conhecimento vai ajudar na atividade profissional.

3) Você nota “resistências” ao movimento digital, por exemplo, no sentido financeiro?
Vagner Ortega – Sim, acredito que a principal resistência é à mudança. Se o cirurgião-dentista ainda não tem uma intimidade com as ferramentas, como computadores, máquinas fotográficas, escâneres e impressoras 3D, existe uma resistência ao digital. Até porque tem que haver grandes mudanças no comportamento, de saída da zona de conforto e de inseguranças. Em segundo plano, o maior empecilho – e talvez por isso o Brasil ainda não tenha grandes números de especialistas usando o digital – é o aspecto financeiro, realmente. Mas também existe um certo desconhecimento, já que o cirurgião-dentista deixa de aprender sobre a Odontologia Digital e suas ferramentas achando que a primeira atitude que ele tem que tomar é comprar equipamentos. Existem muitas ferramentas que o cirurgião-dentista pode começar a utilizar sem ter feito aquisição alguma. Obviamente, ao aprofundar a atuação, será necessário investir e esse investimento pode ser feito de forma gradual e, principalmente, consciente. À medida que a tecnologia se populariza, a concorrência vem aumentando, os preços têm diminuído e as possibilidades de financiamento e parcelamento têm aumentado. Assim, é possível notar uma progressão na inserção do cirurgião-dentista no digital.

4) A era do modelo de gesso acabou? As tecnologias que temos hoje dão conta do recado?
Vagner Ortega – As tecnologias digitais vêm para contribuir, e não necessariamente para substituir. No caso do digital, existem escâneres que justamente digitalizam o modelo de gesso convencional e jogam para o ambiente do computador. Os escâneres intraorais facilitaram bastante porque eliminam a necessidade da moldagem e do gesso em muitas situações. Mas, se você pensar em Brasil ou até América Latina, é difícil imaginar que a moldagem e o modelo de gesso vão acabar por completo. Nós temos muitas discrepâncias. Assim, eu não acredito que haja uma substituição completa do gesso, como já demonstraram Europa e Estados Unidos. O mais importante é entendermos que o escâner não é somente um equipamento de moldagem, mas sim uma forma de capturar informações do paciente. Além das estruturas anatômicas da arcada, como dentes e gengiva, o escâner captura informações como cor, relacionamento oclusal estático e dinâmico, relacionamento da arcada com a fotografia da face, escaneamento da face e com imagens tomográficas, ou seja, com utilidades além do que o gesso possibilita.

5) Qual estratégia você adota para transformar seus alunos e alunas em “multiplicadores digitais”?
Vagner Ortega – Eu não acredito que haja uma estratégia, mas o mercado já induz a isso. Estamos em um país onde mais de 90% dos profissionais não têm acesso às tecnologias que estão em plena ascensão, evoluindo rapidamente e, fatalmente, aqueles profissionais que estão tendo contato com a Odontologia Digital agora serão os divulgadores desses processos. Além disso, a maioria dos profissionais que se envolve com a Odontologia Digital se apaixona, pois encontra uma melhor Odontologia. Nós somos melhores cirurgiões-dentistas a partir do momento que entramos em contato com essas ferramentas, já que visualizamos melhor as estruturas fazemos melhores diagnósticos e planejamentos mais assertivos. Planejando e diagnosticando melhor, conseguimos executar tratamentos de forma mais previsível e mais rápida. Essa paixão pelas ferramentas digitais é um processo natural. Tenho falado para meus alunos mais jovens que a Odontologia Digital é mais deles do que nossa. Trabalhar com as ferramentas digitais é uma forma dele se destacar diante dos cirurgiões-dentistas mais antigos, sendo um ótimo caminho para iniciar a carreira odontológica. E, para os mais experientes, eu falo o contrário. Nós, que já temos mais de 20 anos de profissão e vivenciamos a parte mais artesanal e difícil da Odontologia, nesse momento, com o digital, os passos e as etapas estão sendo facilitados. Dessa forma, eu incentivo que eles exerçam a Odontologia Digital pelo prazer, aproveitando e curtindo o melhor que a especialidade pode oferecer a eles em uma “reta final” de carreira, pois essas ferramentas vieram premiar o profissional mais experiente com qualidade, agilidade e comunicação, que antes não existia. Assim, a Odontologia Digital agrada aos dois extremos da carreira profissional.