Nivaldo Vanni conta que, atualmente, existem diversos centros de pesquisas e ensaios clínicos em andamento no Brasil e no mundo sobre a cannabis medicinal.

Recentemente, durante um curso, uma aluna comentou que gosta de associar tratamentos alternativos à sua prática clínica com cannabis medicinal. Essa afirmação ficou na minha cabeça e perdura até agora, fazendo com que eu traga essa dúvida para discussão. Em 2020, quase leigo ao iniciar minha jornada nessa nova ciência da cannabis medicinal, eu via uma euforia que misturava ciência e estudo com marchas de legalização, feiras e congressos, além de um viés bastante ativista na busca pela legalização do uso recreativo.

Naturalmente, essa mistura salta aos olhos das pessoas desinformadas e também das preconceituosas. Além disso, essa confusão atrapalha o bom caminhar da busca científica que envolve o uso medicinal, inclusive na Odontologia.

AVANÇO DOS RESULTADOS E BUSCA PELAS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Com o passar do tempo, após a arrojada decisão da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), foi possível iniciar os tratamentos, além do crescimento das evidências clínicas e da busca pela terapia por parte de profissionais e, principalmente, de pacientes. Logo começaram também os trabalhos e estudos científicos, aumentando a cada dia o conhecimento dos mecanismos de ação dos canabinoides e suas interações com outras substâncias.

Atualmente, temos diversos centros de pesquisas e ensaios clínicos em andamento no Brasil e no mundo. No âmbito global, a cannabis está sendo muito bem vista e aceita, mudando regras inclusive em países fundamentalistas. Sabemos que o sistema endocanabinoide regula nossos sistemas nervoso, imune e endócrino, sendo ativado sempre que necessário para manter a homeostasia corporal, liberando seus neurotransmissores endógenos sob demanda, modulando com seus receptores e promovendo o equilíbrio.

Sabemos também que o CBD, o canabidiol, um dos principais e mais abundantes canabinoide, sinaliza com dezenas de receptores no nosso corpo. Esse canabinoide sem poder de psicoatividade eufórica sinaliza com receptores de serotonina, dopamina e potássio, entre outros, e confere um interessante poder na regulação corporal.

Devido a essa ótima relação com diversos receptores, o canabidiol tem efeitos sistêmicos importantes, como antioxidação, neurogênese, redução de inflamação, melhora de imunidade, analgesia, melhora de sono, bem-estar, redução de ansiedade, saciedade e redução de compulsão, entre outros.

INTEGRATIVIDADE

Vemos hoje uma busca cada vez maior pela saúde integrativa, que visa à melhora pela adequação de hábitos e atividades física e de bem-estar, indicando um tratamento de dentro para fora, com a correção dos maus hábitos que nos adoecem e nos geram doenças metabólicas. E nessa nova e coerente busca pela vida saudável, com cuidados na alimentação, exercícios, sono e felicidade ou fé, há um foco no metabolismo, nos metabólitos, hormônios e minerais. Ou seja, há uma busca pela melhora da bioquímica para encontrar um maior equilíbrio, diminuindo inflamações crônicas e aumentando a longevidade.

Mas, não seria isso uma promoção homeostática? E o sistema endocanabinoide tem justamente a vocação de promover a homeostasia. Diante de tamanha relação, o desconhecimento da “Endocanabinologia”, termo que está sendo adotado por estudiosos, deixa seguramente o profissional desprovido de ferramentas, ações e entendimentos primordiais para uma boa promoção de equilíbrio e, consequentemente, da saúde integral.

A velocidade do conhecimento nesta área é alta. Em breve, muitas evidências clínicas terão o embasamento científico, uma vez que os resultados positivos se multiplicam, além do crescimento constante de pacientes e profissionais que atuam com a cannabis medicinal. Este é o momento do cirurgião-dentista se atualizar e se diferenciar, agregando esse diferencial na sua rotina clínica.