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As cerâmicas estratificadas deixarão de existir?

Cerâmicas estratificadas: David Morita conta que ainda existe uma grande resistência por parte de alguns técnicos em aceitar as mudanças que o mercado oferece.

A cada dia, é mais perceptível uma grande mudança nas execuções das restaurações definitivas de cerâmica. Eu venho da época em que tudo era estratificado, pois meu início foi com as metalocerâmicas. Depois, comecei a fazer metal free na técnica de cerâmica aplicada sobre troquel de revestimento, passando pela extinta alumina e, logo em seguida, para as estruturas de zircônia. Neste período, tudo era feito com a técnica de aplicação de cerâmica sobre estas estruturas. Pouco tempo depois, iniciou-se um novo método para as restaurações livres de metal. As cerâmicas injetáveis começavam a tomar o mercado, e novas possibilidades de confecção começaram a surgir. Mesmo assim, a demanda era pequena e poucos laboratórios dispunham desta tecnologia.

Apesar deste cenário, uma nova tendência começava a se transformar e não parou mais. Minha base foi a estratificação, e não tenho dúvidas de que ainda faremos peças estratificadas. Mas a pergunta é: por quanto tempo? Um material que transformou o universo dos trabalhos de prótese sem dúvidas foi o sistema IPS e.max, que trouxe para o laboratório a possibilidade de realizar trabalhos definitivos apenas com pinturas na superfície da peça, com um resultado altamente natural.

Sei que muitos técnicos ainda preconizam a estratificação em seus trabalhos e, dependendo da estrutura que se elege em construir, a estratificação ainda é a melhor opção. Custos, materiais, tecnologia, região e conhecimento, entre outros fatores, ainda são determinantes na escolha de qual tipo de restauração será elaborada em cada serviço prestado. Porém, o acesso à tecnologia e o aumento de máquinas e recursos digitais dentro dos laboratórios têm mudado muito esta concepção de trabalhos definitivos. Há pouco tempo, a única estrutura que tínhamos para múltiplos elementos em substituição do metal era a zircônia totalmente opaca, e só podíamos usar para estrutura. Para a construção estética, uma estratificação era considerada obrigatória.

Hoje, isso tem mudado muito o mercado, e as zircônias têm ocupado mais espaço dentro dos laboratórios, substituindo a antiga metalocerâmica. Isso mesmo que eu disse: substituindo. Atualmente, temos diversos tipos de zircônias no mercado, e as que mais ganham espaço são as denominadas Multilayer. Elas oferecem cores que consistem em dentina e esmalte em sua extensão, possibilitando ao técnico uma grande redução da quantidade de cerâmica aplicada e, muitas vezes, a extinção completa de qualquer tipo de estratificação de cerâmica sobre a peça. Basta uma aplicação de pintura sobre a superfície da restauração, e esta já está pronta para instalação em boca.

Se considerarmos o valor de investimento para produzir uma estrutura metálica, comparado à zircônia, este valor é muito baixo. Ele exige pouco maquinário para desenvolver estruturas metálicas e, para realizar o trabalho em zircônia, é necessário um investimento muito maior. No entanto, o custo operacional para confecção de estruturas metálicas dentro do laboratório é muito grande, além da necessidade de uma demanda maior de mão de obra. Hoje, muitos técnicos desenvolvem peças em zircônia em seus próprios laboratórios com um investimento muito pequeno, pois eles terceirizam o serviço em grande centros de usinagem em diversos laboratórios no Brasil. Eles fazem apenas o investimento no software, desenham suas próprias peças e encaminham o STL para algum centro de usinagem, finalizando o trabalho em seus próprios laboratórios.

Ainda existe uma grande resistência por parte de alguns técnicos em aceitar as mudanças que o mercado oferece. Talvez seja por falta de conhecimento, por ausência da tecnologia ou até mesmo por medo. Todo este conjunto de fatores pode ser uma grande justificativa para continuar produzindo da sua maneira, mas é incontestável que a tendência é fazermos mais pinturas e menos estratificação porque a técnica de pintura é prática, previsível, reversível e muito mais fácil de aprender, se comparada à estratificação de cerâmica. Quanto tempo demora para alguém aprender a fazer uma estratificação e quanto tempo demora para alguém aprender a maquiar um peça? Deixo estas perguntas para sua reflexão.