Aspirado de medula óssea: Guaracilei Maciel Vidigal Jr. debate o uso de terapias celulares alternativas de regeneração óssea na Odontologia.
Sonhamos com o dia em que poderemos implantar dentes naturais produzidos em laboratório em nossos pacientes. Porém, nossa realidade ainda passa por procedimentos reconstrutivos cirúrgico-protéticos onerosos, demorados e complexos – muitas vezes ótimos, mas não perfeitos. Algum dia, nosso sonho poderá ser contemplado, provavelmente, pela tecnologia das células-tronco, mas nossa realidade ainda envolve o uso de outros biomateriais, tais como: enxertos, membranas e implantes.
Os protocolos para uso clínico de células-tronco no reparo de defeitos ósseos alveolares (número de células, local de obtenção, número de passagens para expansão das células-tronco e forma de aplicação na área da lesão) ainda não foram definidos. Alguns estudos em animais já mostraram seu efeito benéfico na osseointegração¹ e regeneração óssea². Entretanto, estudos em humanos são necessários.
Já o aspirado de medula óssea (AMO) é um procedimento amplamente usado há mais de 50 anos em Medicina, no tratamento de lesões e fraturas ósseas³. O mecanismo de regeneração óssea associado ao aspirado de medula óssea não envolve somente as células-tronco presentes no local, mas também outras células presentes no estroma da medula óssea, como células precursoras de osteoblastos, osteoblastos já formados, além de sangue e tecido adiposo, que contêm células-tronco adultas com capacidade de se transformarem em células formadoras de osso.
A aspiração da medula óssea é feita após anestesia local, com uma agulha especial na crista do ilíaco, com o paciente em decúbito lateral. O procedimento é realizado com um kit apropriado para aspiração da medula óssea (Figura 1), composto por uma agulha de transplante de medula óssea (Figura 2) e a cânula (Figura 3) com a empunhadura (Figura 4). Com o objetivo de aumentar a concentração celular, o aspirado pode ser concentrado após centrifugação, gerando o aspirado de medula óssea concentrado (AMOC).
Autores (4) compararam o efeito da associação do AMOC com uma hidroxiapatita (grupo-teste) versus a hidroxiapatita sem o AMOC (grupo-controle), em cirurgias de levantamento de seio maxilar em humanos, e observaram maior formação de osso e menor número de partículas do biomaterial quando associado ao AMOC do que no grupo que recebeu somente hidroxiapatita. Um estudo5 comparou o efeito do AMO no tratamento de alvéolos de extração. No grupo-controle, o alvéolo foi preenchido pelo próprio coágulo sanguíneo local, enquanto no grupo-teste o alvéolo foi preenchido pelo AMO do ilíaco. Após seis meses, os alvéolos tratados com o AMO apresentaram uma diferença significativamente menor em perda de altura e de espessura óssea do que os alvéolos preenchidos com o próprio coágulo.
A pesquisa em terapias celulares no tratamento de diversas doenças tem aumentado significativamente desde o início deste século, em função da necessidade de oferecermos terapias mais seguras, rápidas e com menor custo para os pacientes e sistemas de saúde. Neste sentido, a pesquisa em terapias alternativas de regeneração óssea é um caminho sem volta na Odontologia e, mais especificamente, na Implantodontia. Na próxima coluna, apresentarei um protocolo de aplicação do AMO em defeito ósseo alveolar.
Referências
- Alqahtani NA, Chandramoorthy HC, Shaik S, Syed J, Chowdhary R, Antony L. Bone marrow mesenchymal stromal cells (BMMSCs) augment osteointegration of dental implants in type 1 diabetic rabbits: a X-ray micro-computed tomographic evaluation. Medicine 2020;56(4):148.
- Carrera-Arrabal T, Calvo-Guirado JL, Passador-Santos F, Costa CES, Costa FRT, Aloise AC et al. Vertical bone construction with bone marrow-derived and adipose tissue-derived stem cells. Symmetry 2019;11:59.
- Tavassoli M, Crosby WH. Transplantation of marrow to extramedullary sites. Science 1968;161(3836):54-6.
- Pasquali PJ, Teixeira ML, Oliveira TA, Macedo LGS, Aloise AC, Pelegrine AA. Maxillary sinus augmentation combining Bio-Oss with the bone marrow aspirate concentrate: a histomorphometric study in humans. Int J Biomater 2015;2015:121286.
- Pelegrine AA, Costa CES, Correa MEP, Marques Jr. JFC. Clinical and histomorphometric evaluation of extraction sockets treated with an autologous bone marrow graft. Clin Oral Implants Res 2010;21(5):535-42.
Guaracilei Maciel Vidigal Júnior
Especialista e mestre em Periodontia e Doutor em Engenharia de Materiais – Coppe/UFRJ; Livre-docente em Periodontia e especialista em Implantodontia – UGF; Pós-doutor em Periodontia e professor adjunto de Implantodontia – Uerj.
Orcid: 0000-0002-4514-6906.