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Aprendizados longe da bancada

David Morita destaca a importância da vivência profissional em cursos, palestras, workshops e congressos. 

Esta seção da revista tem o título “Direto da Bancada”, no entanto, venho aqui escrever sobre a importância de aprendemos fora dela. Afinal, muitas vezes nos aprisionamos na bancada e deixamos de lado a realidade de que muita coisa se aprimora fora dela. Para isso, cursos, palestras, workshops e congressos se tornam muito importantes para aprender e saber mais sobre as tendências do mercado odontológico. Sei que, muitas vezes, nos acostumamos a fazer nosso trabalho no dia a dia sem nos preocuparmos com o que estamos realizando, se terá continuidade para os próximos anos ou até mesmo daqui a alguns meses. Isso porque entramos em uma zona de conforto e seguimos adiante. Porém, esta zona é muito perigosa porque deixamos de olhar para novos horizontes e, com isso, podemos ficar defasados e ultrapassados sob o ponto de vista do modus operandi que utilizamos em nosso laboratório.

Ao realizar uma análise sobre todas as edições que escrevi na ImplantNews, percebi que o início da trajetória trouxe muito mais material sobre estratificação do que venho escrevendo atualmente. Talvez isso se dê pelo fato de eu estar me adaptando a um novo cenário mais atual. E por que será? Porque o mundo sempre esteve – e está – em constante mudança e adaptação. Não vejo nenhum problema em fazer trabalhos estratificados, até porque eu ainda faço e sei que em muitos casos o melhor mesmo é estratificarmos. Mas a demanda vem diminuindo cada vez mais por causa dos avanços dos materiais restauradores definitivos.

Não quero usar este espaço para fazer julgamentos, tampouco condenações. Mas, nas redes sociais, eu vejo técnicos com muita experiência fazendo uso de técnicas que foram introduzidas no mercado há mais de 40 anos. Posso usar como exemplo a construção de facetas em cerâmicas feldspáticas com lâmina de platina, um trabalho extremamente artesanal e trabalhoso. Lotam cursos presenciais com filas de espera para participar, sem contar os custos operacionais e a demanda de tempo na execução. Como eu disse, não quero julgar. Mas isso é atual? Ou fazem por paixão? Isso me parece mesmo aquela paixão pelo que é “retrô”, assim como quem gosta de carro antigo. Mas quem tem um carro antigo geralmente possui um carro moderno para usar no dia a dia, e o antigo para fazer pequenos passeios durante o final de semana. Para mim, é exatamente isso que acontece com os que optam por técnicas antigas no seu laboratório: fazem uso desta moda “retrô”, mas usam máquinas modernas e desfrutam de equipamentos digitais em seu laboratório. Será que todos os cirurgiões-dentistas e pacientes sabem, ou querem saber, qual técnica foi utilizada na confecção de suas peças? Deixo esta pergunta para vocês responderem.

No ano passado, eu estive no IDS (International Dental Show), na Alemanha, o maior congresso do mundo de equipamentos e materiais na área de Odontologia e Prótese. Mais recentemente, estive no Lab Day, em Chicago, nos Estados Unidos. São eventos com o mesmo propósito, mas com dimensões completamente distintas. O IDS é gigantesco quando comparado ao evento dos EUA. Mas uma coisa em comum me chamou a atenção: nos dois eventos, o tema principal foi a tecnologia. Fresadoras, impressoras, blocos para fresagem com um apelo estético incrível, blocos para fresagem de prótese totais, impressoras 3D imprimindo próteses definitivas, impressoras de estruturas metálicas e muito mais. Isso sem falar dos materiais de recobrimento para a finalização de peças definitivas. Havia muito mais corantes e pigmentos para finalizar peças de zircônia e dissilicato de lítio do que pós de cerâmica para recobrimento das peças.

O IDS possui espaço para as maiores empresas do setor, que ocupam grandes estandes e ficam isoladas entre si, com showrooms para expor equipamentos e materiais, além de auditórios onde são ministrados workshops e conferências. Você pode entrar à vontade e apreciar, um pouco diferente do que conhecemos dos eventos aqui no Brasil. Já a feira comercial do Lab Day é simples quando comparada ao que conhecemos dos congressos realizados no Brasil. Lá os estandes são praticamente mesas pequenas com uma testeira de identificação e nada mais. Mas todos tinham ali um objetivo em comum: fazer negócios e parcerias.

Ao adentrar os estreitos corredores da feira, pude ter uma ideia das tendências do mercado odontológico no mundo, especialmente tecnologia ligada à impressão e fresagem. Uma infinidade de blocos de zircônia multilayer, blocos de dissilicato e resina de impressão 3D para restaurações definitivas. Lá vi também duas empresas mundialmente conhecidas por produzirem gesso de altíssima qualidade e que hoje vendem resinas para impressão de modelos. Por que será? Olhava uma linha de estandes e via uma empresa vendendo fresadora, outra impressora, outro abrasivo para acabamento de dissilicato de lítio e zircônia, e outra de pigmentos para maquiagem de restaurações definitivas. Pouquíssimas empresas de dentes para montagem de prótese totais. No lugar destas empresas, notei algumas vendendo blocos de fresagem para próteses totais ou resinas para impressão de próteses totais. Mais uma vez, eu pergunto: estou vendo demais ou enxergando tendências?

Para entender um pouco mais do que estava vendo ali com os meus próprios olhos, comecei a puxar conversa com diversas pessoas que cruzavam meu caminho. Cheguei à conclusão de que a maioria dos técnicos que ali estavam possui equipamentos digitais em seus laboratórios, e grande parte possui mais de um equipamento. Você deve estar se perguntando: “Onde? Nos Estados Unidos?”. E a resposta é “não”. Nos Estados Unidos isso já é normal, até pelo poder de compra ser mais favorável. Estou falando das Américas Latina e Central, que tinham grandes delegações de congressistas buscando novas tecnologias para seus laboratórios. Fiquei fascinado com o que pude perceber lá.

Mas é claro que nem tudo são flores. Lá comprovei o que venho percebendo do cenário atual em nossa Odontologia. A grande maioria tem queixas sobre o processo da digitalização. E esta queixa está ligada à falha no processo digital. E onde está a falha? No desenho das peças elaboradas no software. Porque o desejo é que, depois da fresagem ou impressão da peça, seja necessária apenas a finalização. No entanto, ao contrário da finalização, muitos ajustes de forma e refinamento anatômico ainda são feitos após a fresagem. Mas isso não está ligado à falha de fresagem ou impressão, pois os equipamentos estão cada vez mais eficientes e capazes de reproduzir os detalhes que são desenhados através dos softwares – o que me faz chegar à conclusão de que estamos vivendo uma fase na qual os conhecidos como “cadistas” estão deixando a desejar e encaminhando os trabalhos para os equipamentos sem os critérios técnicos já conhecidos na Odontologia. Estou falando de anatomia, função e estética. A tecnologia veio para ajudar, mas não podemos esquecer o que já temos na literatura sobre os conceitos que devem ser desenvolvidos na Reabilitação Oral. Mas este é um assunto que vou deixar para a próxima edição.