A terapia com implantes tem sido amplamente aplicada na reabilitação dentária há muitos anos, com resultados previsíveis a longo prazo. A longevidade e a funcionalidade dos implantes dentários dependem tanto da osseointegração ao redor do corpo da peça quanto do estabelecimento de uma barreira de tecido mole que protege as estruturas de tecido duro subjacentes e o próprio implante.

A saúde e a estabilidade da mucosa peri-implantar também afetam a estética. A cicatrização e manutenção dos tecidos epiteliais e conjuntivos ao redor dos implantes são cada vez mais reconhecidas como fundamentais para o sucesso clínico. No entanto, há pouca pesquisa sobre a função ou formação do selamento do tecido mole ao redor dos implantes dentários, e os papéis dessa interface mucosa única permanecem obscuros.

O titânio e suas ligas são frequentemente os biomateriais de escolha para a produção de implantes dentários. Embora as peças de titânio sejam utilizadas há décadas, ainda existem questões não resolvidas relacionadas à sua falha, que pode surgir por desgaste e fadiga ou doença peri-implantar e subsequente inflamação. Na literatura, existe preocupação crescente em relação ao titânio e suas ligas no contexto de como as propriedades da superfície influenciam a taxa de colonização bacteriana e doença peri-implantar. Outro fator que tem chamado a atenção dos pesquisadores é a necessidade de um detalhamento sobre os vários patógenos periodontais implicados na peri-implantite, o comportamento adesivo dos fibroblastos e como essa relação tem sido infl uenciada pelas propriedades da superfície do implante.

Numerosos estudos in vitro sobre novos materiais, técnicas de processamento e metodologias realizadas em implantes dentários têm sido destacados. Recentemente, um grupo de pesquisadores e alunos de doutorado da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, em Campinas, conduziu um estudo experimental com cultura de células, com o objetivo de responder se o tipo de tratamento de superfície do titânio influencia a viabilidade de fibroblastos induzidos osteogenicamente [veja o box com o artigo].

Esse estudo apresentou como contexto o fato de que fibroblastos periodontais e gengivais ao redor dos implantes dentários sofrem influência do tecido ósseo nativo, bem como do próprio titânio e, desta forma, poderiam ter sua capacidade de proliferação modificada. O que por consequência poderia ter influência direta sobre o selamento biológico, uma vez que os fibroblastos são as células responsáveis pela aderência tecidual ao redor dos implantes.

Os autores utilizaram discos de titânio tratados com ataque ácido sozinho ou com ataque ácido + anodização (Figuras 1). Os fibroblastos periodontais cultivados em meio de cultura osteogênica foram distribuídos em um grupo-controle (com células cultivadas em frascos de cultura) e dois grupos experimentais (com células cultivadas em contato com discos de titânio de 6 mm de diâmetro). A superfície dos discos foi submetida apenas ao ataque ácido ou ao ataque ácido + anodização, e então avaliada por microscopia eletrônica de varredura (MEV).

A viabilidade celular foi avaliada pelo teste de brometo de MTT [3-(4,5-dimetiltiazol-2il)-2,5-difenil tetrazólio] nos dias um, dois, três, sete e 14 da cultura celular. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para a análise estatística (p < 0,05). A avaliação MEV revelou que a superfície dos discos tratados apenas com ataque ácido apresentou somente características micrométricas, enquanto a superfície dos discos tratados com ataque ácido + anodização apresentava características nanométricas (Figuras 2).