Fábio Bezerra aborda a fotogrametria odontológica, uma nova tecnologia aplicada nos casos de edentulismo total reabilitados com implantes.

Se você, como eu, tem algumas décadas de vida e de carreira na Odontologia, com certeza já se deparou com novas tecnologias que mudaram profundamente a maneira como nos comunicamos, nos relacionamos, nos movimentamos, obtemos informações e tratamos os pacientes.

Seria muito difícil pensarmos nos desafios da vida moderna sem dispositivos móveis portáteis, como o telefone celular, e todos os seus aplicativos de mídias sociais, streaming e pesquisas na internet. Da mesma forma, seria difícil chegarmos ao nível de excelência da Odontologia sem os benefícios de instrumentos de magnificação, tomografias, fotografias, scanners, impressoras 3D e os mais diversos softwares que colocam esta sinfonia em harmonia no dia a dia dos consultórios.

Porém, sabemos que não é fácil nos adaptarmos ao excesso de novidades e à velocidade imposta pelos avanços tecnológicos. Por isto, o objetivo desta coluna é discutir tendências e novas tecnologias de maneira clara e descomplicada, gerando benefícios reais para a prática odontológica e facilitando a comunicação clínico-laboratorial.

Nesta edição, a abordagem será sobre fotogrametria odontológica, uma nova tecnologia aplicada nos casos de edentulismo total reabilitados com implantes osseointegráveis para melhorar a acurácia e precisão do assentamento das próteses do tipo protocolo.

Etimologicamente, o termo fotogrametria deriva de três raízes gregas: photós, que significa luz; gramma, que significa gravar ou escrever; e metria, que significa medida ou medição. Portanto, sua definição etimológica é: medições gráficas por meio da luz.

Surgida logo após a invenção da fotografia por Louis Daguerre, em 1939, o geodesista francês Arago demonstrou pela primeira vez a viabilidade de uso da fotogrametria para os levantamentos topográficos. Desde então, muitas evoluções tecnológicas ocorreram, passando pela utilização de câmeras fotográficas em aviões para mapeamento territorial, até chegarmos aos satélites e drones que utilizam estes mesmos princípios com níveis de precisão micrométricos atualmente. E você pode estar se perguntando: e o que isso tem a ver com a Odontologia e as reabilitações protéticas sobre implantes?

Atualmente, a American Society of Photogrammetry define fotogrametria como a ciência e a arte de obter medidas dignas de confiança utilizando fotografias digitais, o que torna esta tecnologia aplicável a um dos maiores desafios para o fluxo de trabalho digital em Implantodontia, que é o assentamento passivo das próteses do tipo protocolo, utilizando a fotogrametria odontológica de curto alcance (Foca) com câmeras fotográficas digitais portáteis (Figura 1).

Trata-se de um conjunto de câmeras digitais acopladas a um sistema portátil com disparo único, que faz o registro fotográfico dos pontos referenciais múltiplos instalados diretamente na boca do paciente e que tem a mesma função dos jigs de escaneamento, porém com tecnologia, acurácia e precisão diferentes – uma vez que a captura das imagens é feita de maneira quase instantânea (dez a 15 segundos), Figura 2.

O correto posicionamento da câmera é detectado quando os pontos referenciais múltiplos estão com leitura e focos corretos (tornam-se verdes na tela do computador), e a captura do posicionamento tridimensional dos implantes e abutments é feita de maneira conjunta com um único disparo (Figura 3).

Estudos recentes avaliando o nível de acurácia e precisão deste sistema têm demonstrado níveis de assentamento da estrutura protética de 5 a 10 micrômetros nos eixos X, Y e Z, o que torna esta tecnologia muito promissora do ponto de vista clínico e laboratorial (Figura 4).