Ao incentivar uma cultura de inovação, é possível facilitar a aceitação das novas tecnologias e promover um ambiente para experimentação e aprendizagem.
A Odontologia, assim como muitas áreas da saúde, tem passado por uma revolução tecnológica nos últimos anos, desde a adoção de registros eletrônicos até os avanços diagnósticos e tratamentos com o auxílio de softwares e hardwares. No entanto, essas inovações não são desprovidas de desafios, especialmente quando se trata da aceitação por parte dos profissionais e pacientes. Este texto explora a resistência enfrentada pela tecnologia na Odontologia, abordando tanto a resistência à mudança quanto a relutância em aceitar as limitações e erros inerentes às novas tecnologias.
A primeira forma de resistência é frequentemente baseada em fatores culturais e psicológicos. Muitos profissionais da área estão acostumados com métodos tradicionais e possuem anos de experiência em técnicas estabelecidas, o que pode levar à hesitação na adoção de novos equipamentos e processos1. Essa resistência à mudança pode ser atribuída a diversos motivos, como os custos envolvidos na implementação das novas tecnologias, a necessidade de aprender sua utilização eficaz e as incertezas em relação aos benefícios reais que essas tecnologias podem trazer para a prática clínica2-3.
A segunda forma de resistência está relacionada à relutância em aceitar as limitações e erros inerentes às tecnologias emergentes. Por exemplo, os escâneres intraorais, embora representem um avanço significativo em termos de diagnóstico e planejamento do tratamento, ainda enfrentam desafios, como erros na digitalização de arcadas totais e discrepâncias nos materiais usados4. Essas limitações podem afetar a precisão do diagnóstico e a eficácia dos tratamentos, o que faz com que os profissionais sejam cautelosos ao adotar essas novas ferramentas5.
A entrada da inteligência artificial (IA) no campo da Odontologia apresenta uma situação complexa: por um lado, promete eficiência e precisão sem precedentes6. Por outro lado, levanta questões sobre a confiabilidade e ética do uso de algoritmos para diagnóstico e tratamento7. Este texto busca compreender essas preocupações e também explorar maneiras de superá-las, enfatizando a importância de uma transição cuidadosa e ponderada para a incorporação de tecnologias inovadoras na prática odontológica.
À medida que avançamos, a incorporação da inteligência artificial (IA) na área da Odontologia tem o potencial de transformar significativamente o diagnóstico e o tratamento. Segundo um estudo8, a IA pode aumentar a precisão e a eficiência em vários aspectos da prática odontológica. Essa evolução contínua indica uma era em que diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados se tornam cada vez mais comuns. Além disso, à medida que a tecnologia amadurece e se torna mais acessível, espera-se que as barreiras para adoção dessas inovações diminuam. Autores9 ressaltam a importância de repositórios de dados, como o BigMouth, que facilitam essa transição ao fornecer aos profissionais uma ampla gama de informações para embasar suas práticas. Com o enfraquecimento dessas barreiras, é esperado um maior uso de tecnologias avançadas, marcando assim uma nova era de eficiência e eficácia na Odontologia.
Vencer as barreiras à adoção de novas tecnologias requer uma abordagem abrangente. A educação e o treinamento contínuos são fundamentais para familiarizar os profissionais com as novas tecnologias e suas aplicações práticas10. Esse processo de aprendizagem constante não apenas aprimora as habilidades técnicas, mas também ajuda a desmistificar as novas tecnologias, tornando-as menos assustadoras. Além disso, seguir uma abordagem gradual na adoção das tecnologias, conforme sugerido por autores11, permite que os profissionais se adaptem ao seu próprio ritmo, incorporando novas ferramentas e métodos em suas práticas de forma sustentável. É fundamental manter uma mentalidade aberta e inovadora nesse processo.
Ao incentivar uma cultura de inovação e adaptabilidade, podemos não apenas facilitar a aceitação das novas tecnologias, mas também promover um ambiente em que a experimentação e a aprendizagem contínuas sejam valorizadas. Essa abordagem holística para superar resistências pode ser o caminho para um futuro mais promissor e avançado tecnologicamente na Odontologia.
Referências
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Diogo Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutor em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – FMDUL, em Portugal.