As evidências científicas de que a técnica de transplante de células viáveis da medula óssea produzem resultados positivos em termos de maturidade e manutenção do volume ósseo já estão consolidadas.
A Implantodontia como especialidade tem por finalidade permitir o apoio de próteses sobre implantes dentários osseointegráveis. A partir desta afirmação, muitas questões podem ser levantadas, porém uma delas, em especial, representa um desafio rotineiro para os especialistas: o que fazer quando não existe volume ósseo suficiente para instalarmos o implante determinado pelo planejamento reverso da prótese?
Nestes casos, os procedimentos de enxerto ósseo têm sido a opção mais estudada e utilizada nas últimas décadas, podendo ser classificada de acordo com a origem do material de enxertia em: 1) autógena, quando são utilizados enxertos ósseos do próprio indivíduo; 2) alógena, quando os enxertos ósseos são provenientes de indivíduos diferentes da mesma espécie; 3) xenógena, quando são utilizados enxertos ósseos de indivíduos de espécies diferentes; e 4) sintética, quando são utilizados enxertos produzidos em laboratório.
Outra forma de classificarmos os enxertos poderia ser quanto à presença de células viáveis, desta forma teríamos apenas o enxerto autógeno como previamente celularizado e todos os outros tipos como não celularizados. Historicamente, os enxertos autógenos possuem as melhores condições reconstrutivas e, durante muitos anos, foram denominados “padrão-ouro” para estes procedimentos.
Seguindo esta linha de raciocínio, se quiséssemos obter melhores resultados com qualquer tipo de enxerto ósseo que não fosse autógeno, teríamos de utilizar métodos de carreamento celular prévio ao procedimento de enxertia, sendo esta ação denominada terapia celular. Neste ponto, outras questões começaram a surgir, como: qual o melhor tipo de célula? Existem diferenças no potencial de carreamento celular entre os enxertos alógenos, xenógenos e sintéticos?
Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic vem conduzindo uma série de pesquisas experimentais e clínicas há mais de dez anos para tentar responder estas questões. O grupo utilizou a medula óssea como tecido doador de células, sendo utilizadas várias técnicas para enriquecimento de enxertos, como o uso da medula óssea in natura ou concentrada após aspiração, isolamento celular por gradiente de densidade ou fração celular mononuclear e também isolamento e expansão de células-tronco mesenquimais da medula óssea. Como arcabouço, foram utilizados nos estudos os enxertos xenógenos de origem bovina e equina, tanto em situações de enxertos aposicionais como interposicionais.
Os resultados das pesquisas pré-clínicas apontaram para o fato de que, quando se associa medula óssea ao enxerto xenógeno, sempre se alcança níveis maiores de tecido ósseo neoformado, quando comparado ao uso do enxerto xenógeno sozinho. Além disso, as pesquisas mostraram que os resultados dos grupos em que foi utilizado o concentrado do aspirado da medula óssea foram muito próximos aos do grupo em que foram utilizadas células-tronco cultivadas. Esta evidência impulsionou estudos clínicos como o publicado em 2016, pelos pesquisadores da Mandic e mais dois alunos do mestrado em Implantodontia da São Lepoldo Mandic, Thiago Sousa Almada e Paulo José Pasquali (leia aqui).
Neste estudo, foi avaliada a influência do uso do concentrado do aspirado da medula óssea associada a enxertos xenógenos particulados na reconstrução da região anterior da maxila (Figuras 1 a 3). Os resultados mostraram que, após quatro meses de cicatrização, o uso do concentrado medular aumentou a tendência de mineralização da área enxertada (Figura 4).
Outros estudos foram realizados pela equipe da Mandic, avaliando-se a mineralização em cirurgias de seio maxilar e as reconstruções utilizando blocos ósseos xenógenos. De forma geral, os resultados confirmaram o aumento da porcentagem de tecido mineralizado neoformado quando há associação da medula óssea ao enxerto xenógeno.
Outros estudos na mesma linha de pesquisa estão sendo finalizados em 2020 na São Lepoldo Mandic e tiveram por objetivo analisar a expressão de proteínas osteogênicas por meio da análise imuno-histoquímica dos espécimes histológicos armazenados no Biobanco da faculdade, provenientes de estudos anteriores. Os resultados destes estudos permitiram aprofundar o conhecimento já adquirido.
Como exemplo, temos a tese de mestrado do aluno Daniel Hermologer. O estudo avaliou a expressão das proteínas osteogênicas osteocalcina e RUNX-2 em pacientes submetidos à reconstrução óssea na região anterior da maxila, por meio de enxertos xenógenos particulados associados ao aspirado do concentrado de medula óssea. O artigo, que foi derivado de um estudo de 2016, foi submetido para publicação em junho deste ano. Os resultados atuais permitiram entender que a associação de células da medula óssea não apenas aumenta a quantidade de tecido mineralizado vital, mas também expressa maiores níveis de proteínas osteogênicas.
As evidências científicas de que a técnica de transplante de células viáveis da medula óssea, associada a enxertos xenógenos na reconstrução maxilomandibular, produz resultados positivos em termos de maturidade e manutenção do volume ósseo já estão consolidadas. Novos estudos nesta linha de pesquisa terão como finalidade demonstrar a forma como isto acontece, principalmente analisando as vias de sinalização celular.
Mais conteúdo:
Pelegrine AA, Teixeira ML, Sperandio M, Almada TS, Kahnberg KE, Pasquali PJ et al. Can bone marrow aspirate concentrate change the mineralization pattern of the anterior maxilla treated with xenografts? A preliminary study. Contemp Clin Dent 2016;7:21‑6.
Confira o artigo original aqui.
Conteúdo disponibilizado pelo corpo docente da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic, sob coordenação do Prof. Dr. Marcelo Napimoga.