Antes uma ferramenta de apoio para o cirurgião-dentista, o laser na Reabilitação Oral passou a ser insubstituível em alguns tratamentos. Entenda as principais indicações, as vantagens do uso e os caminhos desta tecnologia que deve ganhar ainda mais relevância.
Por João de Andrade Neto
Há mais de 30 anos presente no cenário odontológico, a laserterapia vem ganhando espaço na rotina clínica do cirurgião-dentista. Com uma ampla gama de opções, que variam de acordo com a intensidade e as indicações, o laser na Reabilitação Oral deixou de ser coadjuvante para assumir o protagonismo na realização de diversos tratamentos. Hoje, o equipamento tem sido utilizado em quase todas as especialidades odontológicas e deve ganhar ainda mais importância no futuro próximo.
Entre as principais vantagens da laserterapia nos procedimentos odontológicos estão a precisão e o controle nos procedimentos, a redução de dor e desconforto, um menor tempo de recuperação e de sangramento, a redução de infecções, a versatilidade do uso e, consequentemente, menos ansiedade gerada nos pacientes, além da economia de tempo do profissional. Com tantos ganhos, é fácil entender o exponencial crescimento no uso do laser na Reabilitação Oral por parte dos cirurgiões-dentistas. Mas nem sempre foi assim.
A expressão “laser” é um acrônimo de “light amplification by stimulated emission of radiation” e trata-se de um dispositivo que emite luz através de um processo de amplificação óptica baseado na emissão estimulada de radiação eletromagnética. Após décadas de estudos encabeçados por importantes pesquisadores da época, o físico norte-americano Theodore Maiman foi quem conseguiu torná-lo realidade, em 1960. Assim, iniciava-se um relevante período de estudos para a viabilização do uso do laser na área da Saúde. Durante as décadas de 1960 e 1970, foram relatadas as suas primeiras aplicações médicas, principalmente em Oftalmologia e Dermatologia. A década de 1980 foi palco dos primeiros experimentos do laser na Odontologia, em especial na utilização para cortes de tecidos duros e moles na cavidade oral. Em 1988, foi fundada a International Society for Lasers in Dentistry (ISLD), junto ao primeiro congresso de laser que aconteceu em Tóquio, no Japão.
Já na década de 1990, com a aprovação do FDA (órgão regulador norte-americano), vários tipos de lasers surgiram, como os lasers de diodo, érbio e neodímio, cada um com propriedades específicas e permitindo, assim, uma variedade de aplicações. Desde então, a laserterapia passou a fazer parte do arsenal de soluções dos cirurgiões-dentistas. Sua aceitação e incorporação ao dia a dia, no entanto, foram graduais, como qualquer nova tecnologia.
LASERTERAPIA NO BRASIL
Um dos precursores da utilização do laser na Odontologia brasileira foi o cirurgião-dentista Carlos de Paula Eduardo. Hoje professor titular sênior da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), ele estagiou na Universidade de Kyushu, no Japão, com o professor Toshio Morioka, em 1990. Ali, teve seus primeiros contatos com os lasers de alta e baixa potência, o que foi preponderante para a sua entrada no universo das pesquisas com lasers. “Essa experiência me deu embasamento científico para introduzir a tecnologia laser na minha rotina clínica diária, e os benefícios foram enormes para os pacientes. Este foi o ponto mais importante de todo o meu aprendizado no Japão”, relata.
Com 34 anos de experiência nesta tecnologia, Carlos de Paula Eduardo tem uma ampla gama de indicações para o laser na rotina clínica. “Como especialista em Dentística, eu costumo utilizar o laser sempre após os preparos cavitários em dentes vitalizados, pois a remoção de tecido cariado e o preparo da cavidade levam ao trauma após os cortes dos prolongamentos odontoblásticos, que podem gerar sensibilidade pós-operatória”, explica.
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O professor também utiliza o laser na Reabilitação Oral desde procedimentos cotidianos, como biomodulação e reparo dos tecidos moles, e também em tratamento e prevenção de mucosites, terapia fotodinâmica antimicrobiana (aPDT), fotobiomodulação na remodelação óssea, além de coadjuvante em Periodontia e Endodontia. Além dessas rotinas, o laser é um importante aliado de Carlos de Paula Eduardo em abordagens mais incomuns, como na terapia pós-Covid para perda de paladar e olfato, e no acompanhamento de pacientes submetidos ao transplante de medula óssea. De acordo com ele, a laserterapia deve ser incorporada na rotina clínica dos cirurgiões-dentistas e integrada às demais soluções visando oferecer as melhores condições aos pacientes. “É importante ressaltar que todos os procedimentos da Odontologia tradicional devem ser preservados e a tecnologia laser deve ser integrada para otimizar os resultados, proporcionando uma abordagem mais eficaz e menos invasiva no tratamento odontológico”, pontua.
Um dos grandes nomes da Periodontia brasileira e mundial, Jamil Shibli é outro entusiasta do laser na Reabilitação Oral. Para o especialista, a tecnologia evoluiu a ponto de se tornar indispensável. “O laser é minimamente invasivo e potencializa muito os tratamentos. Hoje não é só mais um equipamento que adiciona em marketing ao consultório, ele está se tornando insubstituível em alguns tratamentos, como no da peri-implantite, na Odontologia Restauradora e na remoção de restaurações cerâmicas de dentes que já estão tratados, sem desgaste da estrutura dental. Hoje os profissionais estão usando laser para fotobiomodular a estética também, além de fazerem tratamentos restauradores”, exemplifica.
UMA FERRAMENTA VALIOSA
Os lasers são classificados de acordo com a sua intensidade (alta ou baixa), cada um com indicações específicas. Atualmente, os lasers de alta intensidade são utilizados com mais frequência em cirurgias de tecidos moles e duros, clareamento dental, redução da sensibilidade e tratamentos de doenças periodontais, cáries e lesões orais, como fibromas. Já os lasers de baixa intensidade normalmente são aplicados para alívio da dor, aceleração da cicatrização, redução da inflamação e bioestimulação.
Jamil Shibli acredita que o momento da Odontologia é o cenário ideal para o aperfeiçoamento na laserterapia. “Com o conhecimento que temos da Odontologia Restauradora, é possível utilizar o laser de alta potência, por exemplo, para remover cáries, preservando a estrutura dental, limpando e descontaminando a superfície do dente, da dentina e até a superfície radicular de microrganismos”, indica.
De acordo com Shibli, a aplicabilidade do laser de alta potência vai muito além do conhecimento popular. “O laser não é só utilizado para cirurgia, mas desde o preparo cavitário quando estamos falando em dentes, para moldagem, para aumento de coroa, tratamento de doenças periodontais e até mesmo nas reaberturas para tratar problemas de peri-implantite”, completa.
Importante nome da Odontologia Estética, ministrando palestras sobre o tema mundo afora, Luis Calicchio também utiliza a laserterapia em sua rotina. Além dos ganhos clínicos, com procedimentos bem-sucedidos, o cirurgião-dentista destaca outra vantagem da tecnologia: a economia de tempo. “Eu utilizo muito o laser de alta potência na remoção de restaurações inadequadas, trazendo muito conforto para o paciente. Isso, claro, tem tornado minhas consultas muito mais rápidas”, aponta Calicchio, que começou a utilizar o laser em 2018.
A cirurgiã-dentista Andrea Sales introduziu o laser em suas atividades há 15 anos e, desde então, percebeu os ganhos e a aceleração de processos na rotina clínica. Ela aponta o laser de érbio, que oferece precisão, menor necessidade de anestesia e redução do desconforto do paciente, como uma tendência. “O laser de érbio está sendo muito utilizado em cirurgias e vem trazendo muita inovação. Eu tenho afinidade com os processos de diminuição de sensibilidade em vários níveis. São inúmeras as modalidades em que o laser atua e pode complementar os processos de reparação, melhorando a microcirculação local, diminuindo a sensibilidade e a dor de forma não invasiva e rápida”, explica Andrea, que é doutoranda em Ciências Odontológicas, especialista em Endodontia e pós-graduada em Odontologia Estética e Digital.
IMPORTANTE ALIADO CONTRA A DOR
Com um grande poder para acelerar processos, o laser de baixa intensidade tem demonstrado satisfatórios efeitos terapêuticos no alívio da dor, redução de inflamação, aceleração da cicatrização e em condições específicas, como o tratamento da disfunção temporomandibular (DTM), parestesias e nevralgia do trigêmeo, com redução da dor e na regeneração nervosa, proporcionando alívio e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
O manejo da dor e a recuperação pós-operatória são apontados como vantagens deste tipo de abordagem. “Os lasers de baixa potência têm o efeito de analgesia e de fotobiomodulação, reduzindo o processo inflamatório resultante do corte dos prolongamentos odontoblásticos”, explica Carlos de Paula Eduardo. A fotobiomodulação foi citada por todos os entrevistados como um dos principais pontos do laser de baixa intensidade. “Um dos maiores ganhos que o laser me traz está relacionado à sua capacidade de fotobiomodulação, que atua no processo de modulação na dinâmica inflamatória e no controle da dor”, aponta Andrea Sales.
Luis Calicchio tem uma abordagem semelhante e costuma utilizar a laserterapia para controle da dor, melhora e aceleração do processo de cicatrização em casos cirúrgicos. “Na área restauradora, eu utilizo o laser de baixa potência no controle da sensibilidade dentinária, tanto para pacientes que apresentam retrações gengivais quanto para aqueles que estão passando por processo restaurador. Geralmente, utilizo o laser pós-preparo e pós-cimentação, e o laser de baixa potência no controle da dor em pacientes com aftas, úlceras traumáticas e quadros virais, como estomatite”, descreve.
PRÓXIMOS PASSOS DO LASER
Com tantas indicações de uso, é natural imaginar que o laser ocupe um lugar cada vez mais de destaque na Reabilitação Oral. A seu favor, ainda conta a rápida evolução tecnológica, que possibilita avanços e aperfeiçoamentos nos aparelhos. Com isso, a tendência é de popularização do uso. Para isso, é importante que seja uma ferramenta cada vez mais viável. “Eu não tenho dúvida de que a popularidade do laser só crescerá. Ele nunca esteve tão visível, sendo democratizado e se tornando acessível financeiramente, além de suas possibilidades clínicas tão em evidência”, opina Andrea Sales.
Outro ponto essencial para que a laserterapia se consolide nos consultórios odontológicos é a curva de aprendizado. Assim, os especialistas apontam os caminhos para que os cirurgiões-dentistas entendam cada vez mais sobre a ferramenta e, desta forma, consigam extrair todas as vantagens do laser na Reabilitação Oral. “O Brasil é um dos países com maior índice de publicações na literatura mundial. Diversos centros espalhados pelo País estão capacitando nossos colegas, a fim de que os lasers de alta e baixa potência sejam utilizados com grande segurança, gerando benefícios aos nossos pacientes”, indica Carlos de Paula Eduardo.
Além de cursos, outra modalidade educacional tem grande potencial de contribuição para os cirurgiões-dentistas: os eventos presenciais. Com capacidade única de reunir grandes profissionais, com conhecimentos e abordagens complementares, compartilhando conhecimento em atividades multiformatos, os eventos são uma excelente opção para a atualização profissional. “Eventos sobre o assunto são fundamentais para que possamos entender as aplicabilidades do laser. Ainda acho um campo pouco explorado e distante da grande massa de cirurgiões-dentistas”, opina Luis Calicchio. Seguindo a mesma linha, Carlos de Paula Eduardo reforça a necessidade de constante atualização do conhecimento. “Minha recomendação é que os colegas continuem a estudar mais e mais para a utilização correta desta tecnologia”, finaliza o professor.
CONGRESSO MUNDIAL DE LASER: UM MARCO NO USO DA LASERTERAPIA NO BRASIL
Com o laser na Reabilitação Oral em alta, os cirurgiões-dentistas brasileiros ganharam uma importante opção para ingressar definitivamente neste universo. A WFLD – World Federation for Laser Dentistry, entidade reconhecida internacionalmente como referência na área de laserterapia, escolheu o Brasil para sediar a 18ª edição de seu congresso mundial. Assim, o WFLD 2024 acontecerá de 11 a 13 de novembro no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, e promete ser um marco para a comunidade odontológica.
O evento contará com mais de 70 speakers de renome internacional, sendo mais de 30 ministradores estrangeiros e mais de 40 professores brasileiros, todos referências em determinadas áreas de pesquisa do laser, visto que o Brasil é um dos líderes mundiais na publicação do laser na Odontologia. Esse grupo se reunirá para discutir as inovações e aplicações da laserterapia, levando a prática odontológica à alta performance.
O cirurgião-dentista Aldo Brugnera Junior, presidente desta edição do Congresso Mundial de Laser, reforça que a programação científica foi elaborada com base em up-to-date, ou seja, novos usos da aplicação do laser para somar conhecimento aos profissionais. Além disso, os speakers abordarão mais de 20 procedimentos que podem ser incorporados na rotina clínica dos cirurgiõesdentistas, garantindo economia de tempo e benefícios para os pacientes.
“A programação científica foi formatada para o clínico geral e para o especialista. Ela tem um módulo muito forte sobre o tratamento da peri-implantite, com a participação de sete profissionais do mundo inteiro falando sobre o tema, além de um consenso final e um trabalho publicado, com as definições da aplicação do laser como auxiliar terapêutico nessas patologias”, explica Brugnera.
Outro foco importante do congresso é a fotobiomodulação. De acordo com o presidente do congresso, o Brasil possui mais de 40 mil lasers de baixa potência. “Nós vamos ter especialistas, como a professora Sajee Sattayut, da Malásia, Arany Praveen, dos EUA, e o brasileiro Antonio Pinheiro, abordando a atuação em idosos, aplicações na cavidade bucal pós-lesões, para sensibilidade dentinária, herpes, afta, pós-operatório cirúrgico, pós-implante e peri-implantite. Além deles, o norte-americano Chukuka Enwemekaa vai debater uma área nova, a descontaminação de tecidos somente com a luz, que é a mais recente tendência nos EUA”, destaca Brugnera.
Mais de 95% dos speakers do Congresso Mundial de Laser têm PhD, o mais alto grau acadêmico concedido em muitos países ao redor do mundo, e contam com mais de 30 artigos científicos publicados, em média.
HARMONIZAÇÃO OROFACIAL EM EVIDÊNCIA
A popularização da prática da Harmonização Orofacial coincide com o crescimento da utilização da laserterapia. Tendo isso em vista, o Congresso Mundial de Laser planejou atividades paralelas e complementares, com dois cursos de imersão elevando o laser ao protagonismo na prática da Harmonização Orofacial. Coordenado por Sônia Aykroyd (EUA), o primeiro dia de atividades voltadas à HOF terá abordagens conceituais, planejamentos e as principais tendências para o uso do laser na especialidade. No segundo dia, a atividade coordenada pela brasileira Patricia Freitas (USP) reunirá grandes referências para debater desde a terapia com endolaser até o rejuvenescimento facial na HOF.
A terceira atividade será um curso de imersão internacional de nível avançado voltado para a atualização em novas tecnologias lasers, promovido pela própria WFLD, e com certificado da entidade. Os cursos são opcionais e acontecem simultaneamente ao congresso.
FAÇA PARTE DESTA EVOLUÇÃO
Com previsão de receber mais de 700 participantes, o Congresso Mundial de Laser terá atividades nos formatos de conferências científicas, apresentações orais de painéis e workshops corporativos. Segundo Brugnera, o evento também terá uma característica particular: os speakers estarão mais acessíveis, com integração entre professores e participantes ao longo do evento, desde almoços no local até reuniões com pesquisadores. “Este é um evento de casos clínicos e de trabalhos científicos, com muita exposição de conteúdos nestes formatos. Este não é um congresso feito só para professores, mas também para usuários do laser”, explica Brugnera, que presidiu a World Federation for Laser in Dentistry entre 2012 e 2016.
Ainda de acordo com o presidente, o evento é uma excelente oportunidade para os profissionais que já atuam com o laser e para aqueles que ainda não estão integrados à tecnologia, mas que desejam iniciar. “Se o cirurgião-dentista já trabalha com laser, é um momento nobre para ir ao evento, ver e tirar dúvidas sobre algumas técnicas que ele gostaria de melhorar no seu uso clínico. E também é um grande momento para quem está querendo entrar no mundo do laser, pois vai ter acesso à informação atualizada sobre o bem-estar que o laser é capaz de oferecer através da integração com todas as técnicas da Odontologia. Afinal, hoje nós temos muitos fabricantes de laser no Brasil, o que tem gerado uma grande diminuição de custo e vem tornando a tecnologia acessível para todos os cirurgiões-dentistas”, pontua Brugnera.
Vale lembrar que Congresso Mundial de Laser acontece pela primeira vez no Brasil. Em 2023, o evento foi realizado na Polônia. “O Brasil tem uma história dentro do uso do laser na Odontologia. Só aqui, temos mais de 15 universidades que pesquisam e publicam em larga escala sobre o tema no exterior. Além disso, na última edição, realizada na Polônia, foram 350 participantes, sendo mais de 50 brasileiros, e outros 33 professores brasileiros se apresentando. A disputa da sede estava entre Brasil e China, mas a repercussão dos trabalhos brasileiros fez a diferença”, finaliza Brugnera.
Anteriormente, Japão, Alemanha, Hong Kong e França foram algumas das sedes do tradicional encontro da WFLD. Portanto, esta é uma oportunidade única de acompanhar os maiores nomes da laserterapia mundial em solo brasileiro e expandir os horizontes dos cirurgiõesdentistas no campo da Odontologia a laser.
Acesse o site da WFLD 2024 e faça parte da revolução do uso do laser: www.wfld2024.com.br