Preparamos alguns guias de decisão e avaliação no contexto da Reabilitação Oral para tornar a prática dos especialistas cada vez mais segura e previsível.
Todos os dias, o ser humano toma milhares de decisões. Algumas são claramente importantes, outras são quase imperceptíveis dentro da rotina. As melhores escolas de administração ensinam que o sucesso nada mais é do que um conjunto de duas ou três ações corretas ao longo do dia. Na Odontologia, não é diferente. Cirurgiões-dentistas do mundo todo têm pacientes com os mais variados tipos de problemas, complexos por natureza. Neste sentido, tomar uma decisão errada pode gerar tratamentos com resultados abaixo do esperado para os pacientes.
Nos cursos de graduação, os estudantes são ensinados a não ultrapassar a linha-limite. O motivo é simples: além desta fronteira, tudo é sorte, considerando que brincar com a saúde dos pacientes não é o forte dos profissionais da Reabilitação Oral. Com a quantidade de conhecimento acumulada atualmente, não há desculpas. Ao mesmo tempo, não se pode confiar integralmente nos programas de inteligência artificial generativos, já que eles só fornecem a informação e não são capazes de tomar decisões de impacto. Faça seu próprio teste e observe bem.
Nesta edição, a revista ImplantNews traz alguns guias de decisão e avaliação no contexto da Reabilitação Oral. Todos os tópicos abaixo possuem extrema relevância na prática clínica e facilitam que os profissionais da Odontologia expliquem melhor aos seus pacientes os motivos de escolher determinados tratamentos em detrimento a outros, sempre à luz das evidências científicas e não do achismo.
Os especialistas que ainda não entraram para o clube dos devotos dos guidelines na prática odontológica terão a oportunidade de se aprofundar nas próximas páginas e, quem sabe, requisitar a sua carteirinha como novos adeptos de padrões bem elaborados e funcionais para o dia a dia clínico.
PROGNÓSTICO DENTÁRIO: MANTER OU EXTRAIR?
Nas ciências odontológicas, o prognóstico dentário sempre teve um papel de destaque, ainda mais quando ficou claro que a ausência do ligamento periodontal interromperia os estímulos ao osso alveolar, resultando na sua reabsorção e defeitos estéticos das mais variadas configurações nos tecidos moles e duros. E nenhum profissional em sã consciência se arrisca a dizer que o implante dentário é melhor ou substitui um dente. Entretanto, muitas vezes pode ser complicado diagnosticar um dente condenado, principalmente se for um elemento estratégico, como incisivos, caninos e molares. Por melhor que seja a “técnica atraumática”, sempre haverá reabsorção. Mesmo assim, existe um guia1 para que a tomada de decisão clínica seja consciente.
ALVÉOLO DE EXTRAÇÃO: E AGORA?
Baseado no guia anterior, se a decisão for pela extração dentária, agora teremos um alvéolo de extração. Nem sempre as extrações minimamente atraumáticas conseguirão manter as paredes vestibulares intactas. Ainda, algumas imagens por TCFC mostrarão pequenas deiscências ou fenestrações, criando ou aumentando os defeitos pós-extração. Se chegarmos a este nível, poderemos utilizar outro guia, classificando as futuras decisões pela espessura remanescente nas paredes alveolares e seus defeitos correspondentes2.
REBORDO ALVEOLAR JÁ CICATRIZADO: HÁ NECESSIDADE DE AUMENTO HORIZONTAL?
Nem todos os casos envolvem um dente comprometido. Rebordos alveolares cicatrizam das mais variadas formas, e os implantodontistas necessitam saber exatamente se as dimensões ósseas locais existentes são compatíveis para receber um implante dentário. Assim, cria-se a necessidade de um aumento que pode ser horizontal, vertical ou ambos. Mais uma vez, existem guias disponíveis que nos dão mais segurança nos procedimentos futuros3.
REBORDO ALVEOLAR JÁ CICATRIZADO: HÁ NECESSIDADE DE AUMENTO VERTICAL?
Alguns rebordos necessitarão de aumento vertical4.
IMPLANTES DENTÁRIOS “PROTRUINDO” NO SEIO MAXILAR
Um achado radiográfico que pode ser comum é a “protrusão” do ápice do implante dentário no seio maxilar, com ou sem sintomatologia, gerando um guia de decisão5 que leva ou não à participação de um profissional otorrinolaringologista e à manutenção/remoção do implante dentário.
Segundo o consenso6 mais recente:
1) O espessamento simples da mucosa ao redor de um implante circundando o seio maxilar não significa sinusite odontogênica;
2) Se positivo, o tratamento médico deve ser estabelecido antes da endoscopia sinusal ou remoção do implante dentário;
3) Implantes estáveis sem evidência de patologia sinusal não deveriam ser removidos rotineiramente;
4) Pacientes com implantes protruindo, mas sem evidência de patologia sinusal, poderiam ser tratados pelo cirurgião-dentista;
5) No caso de sinusite maxilar, os implantes não deveriam ser removidos, mas primeiro receber tratamento farmacológico de tentativa.
Referências
- Avila G, Galindo-Moreno P, Soehren S, Misch CE, Morelli T, Wang HL. A novel decision-making process for tooth retention or extraction. J Periodontol 2009;80(3):476-91.
- Steigmann L, Di Gianfilippo R, Steigmann M, Wang HL. Classification based on extraction socket buccal bone morphology and related treatment decision tree. Materials (Basel) 2022;15(3):733.
- Yu SH, Wang HL. An updated decision tree for horizontal ridge augmentation: a narrative review. Int J Periodontics Restorative Dent 2022;42(3):341-9.
- Misch CM, Basma H, Misch-Haring M, Wang HL. An updated decision tree for vertical bone augmentation. Int J Periodontics Restorative Dent 2021;41(1):11-21.
- Testori T, Zuffetti F, Clauser T, Scaini R, Deflorian M, Valtorta C et al. Protrusione implantare radiologicamente apprezabile a livello del seno mascellare e della cavità nasale: revisione critica e proposta di algoritmo diagnostic-terapeutico. Quintessenza Int 2021;35(4):20-8.
- Testori T, Clauser T, Saibene AM, Artzi Z, Avila-Ortiz G, Chang HL et al. Radiographic protrusion of dental implants in the maxillary sinus and nasal fossae: a multidisciplinary consensus utilizing the modified Delphi method. Int J Oral Implantol (Berl) 2022;15(3):265-75.