Victor Montalli ressalta que a vacinação contra a Covid-19 é a principal estratégia coletiva para a diminuição de novos casos da doença.
No início de janeiro de 2021, o Brasil iniciou a imunização da população contra o SARS-CoV-2 – vírus causador da Covid-19. Inicialmente, a estratégia sanitária foi imunizar os profissionais de saúde, com o intuito de salvaguardar os profissionais que atendem a população nos hospitais, além de estarem mais expostos diariamente ao risco de contaminação. Dentre estes, os cirurgiões-dentistas e equipe de saúde bucal (ASBs e TSBs) foram considerados como parte do grupo prioritário para fazer parte da vacinação contra a Covid-19, mas até o momento da conclusão desta edição (5 de março de 2021), os profissionais da Odontologia têm encontrado dificuldades em serem vacinados por conta da escassez do imunizante em diversos municípios brasileiros.
Vale esclarecer que, apesar de muitos de nós não estarmos efetivamente na “linha de frente” do atendimento da população que busca ajuda nos hospitais, estamos potencialmente expostos diariamente à contaminação pelo vírus SARSCoV- 2 no ambiente de trabalho, devido à pandemia. Na etimologia da palavra, pandemia é o estado de transmissão de doença infecciosa que se espalha muito rapidamente e acaba por atingir uma região inteira, um país, continente etc. Portanto, mesmo que o paciente não tenha os sintomas, pode ser portador do vírus e contaminar o ambiente de atendimento, expondo a equipe e outros pacientes ao risco de transmissão cruzada.
Dessa forma, vale ressaltar que a vacinação é a principal estratégia coletiva para a diminuição de novos casos e/ou, caso a pessoa seja infectada, que os sintomas da doença sejam abrandados. Até o momento, existem duas vacinas autorizadas para serem distribuídas no Brasil: a CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o laboratório Butantan; e a vacina da farmacêutica inglesa AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e Fiocruz, a AZD1222.
Quanto à eficácia, ambas são comprovadamente eficientes – e isso é o que importa. Lembremos: é um movimento coletivo para diminuir a transmissão e os casos graves. Os estudos destacam a necessidade de se manter o protocolo de duas doses, para uma taxa maior de eficácia. Torcemos para que as pessoas que já tomaram a primeira dose tenham a segunda e que, em seguida, todos tenham acesso à vacina.
A biossegurança é a segurança da vida e, se a vida está sendo prejudicada por algum motivo, acho válido discutirmos nesse espaço. De acordo com a Portaria no 485, 2005 – NR 32 do Ministério da Saúde, todos os profissionais de saúde devem ser imunizados.
Não me cabe comentar questões políticas em uma coluna de biossegurança, mas peço licença ao leitor para fazer uma rápida ponderação: uma parte significativa das centenas de milhares de mortes no Brasil pela Covid-19 poderia ter sido evitada, não fosse o negacionismo sobre a real gravidade da doença e a falha imperdoável na comunicação à população sobre a importância das estratégias coletivas necessárias ao seu enfrentamento.
O nosso Sistema Único de Saúde é um modelo de gestão em saúde criado e focado em todos os brasileiros, e nessa pandemia ficou clara a sua relevância como uma peça importante na promoção da saúde da população como um todo. Espero que, de tantas lições que estamos tirando da pandemia, uma delas seja a valorização e o fortalecimento do nosso SUS.
A preocupação mais recente é com as novas mutações do vírus e a possibilidade de algumas vacinas não serem eficazes para algumas variantes. Para isso, precisamos lembrar que cada coronavírus carrega no seu interior o seu genoma, que corresponde ao RNA, constituído por “30.000 letras”, os aminoácidos.
À medida que os vírus se replicam, pequenos erros de cópia surgem naturalmente em seus genomas, e essas “letras” podem modificar o material genético, resultando em mutações. Uma linhagem de coronavírus normalmente acumula uma ou duas mutações aleatórias a cada mês. Algumas mutações não têm efeito nas proteínas do coronavírus produzidas pela célula infectada. Outras mutações podem alterar a forma de uma proteína, alterando ou excluindo um de seus aminoácidos, os blocos de construção que se ligam para formar a proteína.
Através do processo de seleção natural, mutações neutras ou ligeiramente benéficas podem ser transmitidas de geração em geração. Na Tabela 1, algumas variantes recém-descobertas são apresentadas.
TABELA 1 – PRINCIPAIS VARIANTES DO CORONAVÍRUS REGISTRADAS ATÉ O MOMENTO
Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/02/09/variantes-da-covid-19-entenda-como-o-perfil-das-vacinas-influencia-naeficacia-contra-as-mutacoes.ghtml.
Estudos recentes sugerem que algumas vacinas tiveram sua eficácia reduzida contra algumas dessas mudanças no SARS-CoV-2, mas ainda foram capazes de induzir uma resposta do sistema de defesa do nosso corpo contra elas. A cada semana, surgem novos estudos a esse respeito, portanto vale a pena ficar atento.
O importante é entender que, quanto mais rápida for a abrangência da vacinação, menos tempo se dá ao vírus para que novas mutações aconteçam. O momento é de frear a transmissão, seja pela ampliação da cobertura vacinal, seja pela perseverança nos cuidados de prevenção já amplamente conhecidos.
Não é impressionante a velocidade da ciência? Até meados de março de 2020, o mundo pouco sabia sobre a Covid-19. Passamos por um ano desafiador, de muito aprendizado e em menos de um ano a população mundial está enfrentando esse vírus com o desenvolvimento de vacinas. Entre erros e acertos, estamos evoluindo como sociedade e a nossa profissão se mantém detentora de boas práticas de biossegurança em prol da saúde de todos. Agora, com a vacina, a nossa esperança está aumentada!
Victor Montalli
Doutor em Ciências Médicas, área de concentração em Patologia – Mestre e pós-doutorado em Patologia bucal, e professor dos cursos de graduação e pós-graduação – SLMandic.