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Peri-implantite causada pelo biofilme oculto: diagnóstico e tratamento

Guaracilei Maciel Vidigal Júnior apresenta dois casos clínicos com diagnóstico da peri-implantite causada pelo biofilme oculto.

A seguir, compartilho dois casos clínicos de peri-implantite de difícil diagnóstico e que vi pela primeira vez após 30 anos de Implantodontia, ambos foram causados pelo biofilme oculto.

CASO CLÍNICO 1

Paciente do gênero masculino, 72 anos, hipertenso controlado, sob controle periodontal há 15 anos e excelente higiene oral. Possuía implantes nas regiões do 45 (5/8,5 mm) e 46 (5/7 mm), ambos com conexão hexágono externo instalados em 2010. Foi feita prótese parafusada esplintada sobre minipilares, com espaço adequado para limpeza interdental.

A peri-implantite foi detectada na consulta de manutenção em 30 de junho de 2020. Nesta data, foi constatada uma bolsa peri-implantar de 5 mm na distal no implante 45 (Figura 1A). Foi feito jateamento com spray de bicarbonato de sódio e debridamento com cureta de titânio tipo Gracey 13-14 (Implant curettes AEII204 SX, American Eagle Instruments). Em 2021, a peri-implantite (Figura 1B) no implante 45 se tornou clinicamente visível com o tecido mole peri-implantar edemaciado (Figura 2A), com sangramento à sondagem e bolsas peri-implantares profundas (mesial de 5 mm; e vestibular, lingual e distal de 8 mm). Ainda nesta consulta, observou-se que a cerâmica da coroa do 46 estava fraturada e o paciente relatou que não estava usando sua placa oclusal.

A partir de então, o caso se tornou um enigma, pois o que levaria a um quadro inflamatório tão intenso em um paciente com boa saúde sistêmica e excelente higiene oral? Em junho de 2022 foi feita a explantação. As coroas sobre os implantes, sem nenhum biofilme bacteriano externamente aderido, foram desaparafusadas e removidas (Figura 2B). Neste momento, foi possível detectar o “biofilme oculto” sobre a superfície dos minipilares e na porção interna das coroas protéticas (Figura 3A).

Após o desaparafusamento do minipilar, o implante 45 foi removido com auxílio do implant retriever. Assim, foi possível visualizar o biofilme subgengival (Figura 3B) que, uma vez exposto ao ar, desidrata-se e praticamente “desaparece” aos nossos olhos em cinco minutos ou menos.

CASO CLÍNICO 2

Paciente do gênero feminino, 59 anos, com hipotireoidismo compensado, sob controle periodontal há 19 anos e excelente higiene oral. O implante 47 (5/13 mm) foi instalado em 2011 e foi feita, no mesmo ano, uma coroa parafusada diretamente ao implante de conexão interna triplo canal.

A peri-implantite foi detectada na consulta de manutenção em 26 de julho de 2022. Nesta data, foram observadas bolsas peri-implantares de 8 mm nas faces vestibular, mesial e distal (Figura 4A). E a mesma dúvida do caso anterior surgiu: o que levaria a um quadro inflamatório tão intenso em uma paciente com boa saúde sistêmica e excelente higiene oral? No mês seguinte à consulta de manutenção periodontal, o implante foi removido. Para isso, a coroa foi desaparafusada e, novamente, somente neste momento, foi possível detectar o biofilme oculto (Figura 4B), responsável pelo quadro de peri-implante.

Alguns fatores contribuíram para dificultar o diagnóstico destes casos: 1) ambos os pacientes apresentavam excelente higiene oral e nas consultas de manutenção não constava a presença de biofilme supra ou subgenvival; 2) ambos apresentavam parafunção e usavam placa oclusal (exceto um curto período de tempo por parte do paciente do caso 1); e 3) as interfaces entre implantes e componentes protéticos apresentam microgaps de 3 a 5 μm (Figuras 5), não visíveis ao olho humano, e que podem ter sido os responsáveis pelo crescimento do biofilme subgengival, causador da peri-implantite e da perda do implante.

Uma hipótese é se a parafunção em algum momento favorece uma abertura maior do microgap e, a partir deste momento, permitiria o crescimento do biofilme que desencadeia a peri-implantite. Alguns estudos avaliaram as características do microgap e o seu papel na infiltração microbiana na interface implante-pilar1-3 e podem tornar mais compreensível a hipótese apresentada.

A experiência é como dirigir um carro olhando pelo retrovisor. Nas próximas vezes, a remoção das coroas no início do surgimento dos sinais da peri-implantite deverá ser o primeiro procedimento do diagnóstico e do tratamento.

Referências

1. Vidigal Jr GM, Novaes Jr AB, Chevitarese O, Avillez RR. Avaliação da interface implante-conexão e seu papel na osseointegração. Braz Dent J 1995;6:17-23.
2. Sequeira AB, Silva Jr LCM, Cardoso ES, Vidigal Jr GM. Análise da interface e infiltração bacteriana entre pilares protéticos e análogos. ImplantNews 2008;5:505-10.
3. Dias ECLCM, Bisognin EDC, Harari ND, Silva CHP, Soares GA, Vidigal Jr GM. Evaluation of implant-abutment microgap and bacterial leakage in five external-hex implant systems: an in vitro study. Int J Oral Maxillfac Imp 2012;27:346-51.