Guaracilei Maciel Vidigal Júnior e Marcio André Fernandes da Costa evidenciam as vantagens da osseodensificação em casos da Implantodontia.
Entre os anos de 1980 e 2000, muito se estudou sobre os mecanismos da osseointegração e os fatores que a influenciavam, concentrando-se os esforços na sua otimização muito bem consolidada nos trabalhos de Brånemark e Albrektsson. Os estudos evoluíram e, nas décadas seguintes, muitos avanços foram alcançados com o desenvolvimento das superfícies dos implantes, cujo ápice foi atingido com o uso da nanotecnologia. No entanto, houve pouca preocupação com a técnica de preparação óssea e no que ela poderia influenciar na estabilidade primária e secundária dos implantes. As brocas cirúrgicas eram, até então, desenvolvidas apenas através de adaptações de instrumentos antes utilizados para simples perfurações de outros materiais.
Em 2016, Huwais & Meyer apresentaram um modelo de técnica de preparo ósseo que se baseia nas propriedades biomecânicas do tecido ósseo (Figura 1) e que, diferentemente das técnicas de perfuração tradicionais, não perfura removendo o tecido ósseo, mas sim compactando-o e expandindo-o em todas as direções1. Dentre as características biomecânicas do tecido ósseo2 relacionadas à osseodensificação na Implantodontia atual, podemos destacar: resistência mecânica e dureza; anisotropia; viscoelasticidade; e resistência à deformação elástica e plástica.
Diante disto, e baseando-se nas características biomecânicas do osso, podemos conceituar a osseodensificação como sendo a deformação plástica gradual do tecido ósseotrabecular através de uma instrumentação óssea hidrodinâmica.
Com o sistema de brocas da Versah (Figura 2), é possível realizar a osseodensificação. Com o seu design de lâminas específico, essas brocas realizam a compactação e expansão ósseas quando utilizadas no sentido anti-horário e com irrigação abundante. Da mesma forma, quando utilizadas no sentido horário, produzem um corte ósseo mais preciso e menos agressivo ao osso, conforme mostram os trabalhos realizados em tíbias suínas e analisados através de cortes histológicos e de microtomografias1,3.
Muitos estudos histológicos e biomecânicos demonstram as vantagens desse efeito de expansão e compactação óssea, dentre eles a otimização da estabilidade primária e secundária do implante, caracterizada por uma osseointegração mais rápida através do aumento da área de contato ósseo com a superfície do implante1-5.
Outra consequência da osseodensificação, e que otimiza a estabilidade primária dos implantes, é o efeito de contração que o preparo sofre poucos minutos após a sua realização. A esse efeito deu-se o nome de springback effect¹ , que seria a tentativa do tecido ósseo retornar à sua forma inicial antes do preparo. Outro efeito importante que a compactação do tecido ósseo em todas as direções do preparo provoca é formar uma área denominada autoenxerto na periferia do preparo, permitindo o uso dessa técnica em diversas situações, como: expansão óssea de rebordos atróficos; levantamento do seio maxilar por via crestal; expansão de septos de alvéolos de molares para instalação imediata do implante; e aumento da estabilidade primária na instalação imediata de implantes.
Nesta coluna apresentamos dois casos, sendo um de instalação de um implante com as dimensões de 4,3 mm x 10 mm na região de molar (Figuras 3), cujo rebordo remanescente possuía apenas 5 mm. Com o uso da osseodensificação na Implantodontia, conseguimos expandir o osso em todos os sentidos do preparo e levantar a mucosa sinusal com a introdução de biomaterial através do preparo do implante, aumentando a região em altura e oferecendo uma estabilidade primária e um torque de instalação de 45 Ncm. As brocas do sistema Versah, quando utilizadas da forma correta e de acordo com o protocolo de osseodensificação na Implantodontia, não perfuram e nem dilaceram a mucosa do seio maxilar, proporcionando um preparo com aumento ósseo bastante preciso e seguro.
O segundo caso (Figuras 4 e 5) ilustra a instalação imediata de um implante na região do segundo molar superior, através da expansão óssea do septo alveolar, com a osseodensificação e o preenchimento do gap ósseo com biomaterial e personalização do cicatrizador. A prótese foi instalada 12 semanas após a cirurgia.
Referências
- Huwais S, Meyer EG. A novel osseous densification approach in implant osteotomy preparation to increase biomechanical primary stability, bone mineral density, and bone-to-implant contact. Int J Oral Maxillofac Implants 2017;32(1):27-36.
- Lahens B, Neiva R, Tovar N, Alifarag AM, Jimbo R, Bonfante EA et al. Biomechanical and histologic basis of osseodensification drilling for endosteal implant placement in low density bone. An experimental study in sheep. J Mech Behav Biomed Mater 2016;63:56-65.
- Mullings O, Tovar N, Abreu de Bortoli JP, Parra M, Torroni A, Coelho PG et al. Osseodensification versus subtractive drilling techniques in bone healing and implant osseointegration: ex vivo histomorphologic/histomorphometric analysis in a low-density bone ovine model. Int J Oral Maxillofac Implants 2021;36(5):903-9.
- Cáceres F, Troncoso C, Silva R, Pinto N. Effects of osseodensification protocol on insertion, removal torques, and resonance frequency analysis of BioHorizon conical implants. An ex vivo study. J Oral Biol Craniofac Res 2020;10(4):625-8.
- Oliveira PGFP, Bergamo ETP, Neiva R, Bonfante EA, Witek L, Tovar N et al. Osseodensification outperforms conventional implant subtractive instrumentation: a study in sheep. Mater Sci Eng C Mater Biol Appl 2018;90:300-7.
Guaracilei Maciel Vidigal Júnior
Especialista e mestre em Periodontia – UFRJ, e doutor em Engenharia de Materiais – Coppe/UFRJ; Livre-docente em Periodontia e especialista em Implantodontia – UGF; Pós-doutor em Periodontia e professor adjunto de Implantodontia – Uerj.
Orcid: 0000-0002-4514-6906.
Autor convidado:
Marcio André Fernandes da Costa
Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial; Especialista em Implantodontia; Mestre em Radiologia; Membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Bucomaxilofacial.
Orcid: 0000-0001-6266-5473.