Jamil Shibli e Luiz Carlos Zanatta mostram que os implantes curtos são opções de tratamento às cirurgias mais invasivas com alto grau de morbidade.
Com o advento dos implantes osseointegráveis, a Odontologia avançou bastante e novas perspectivas surgiram para a reabilitação de áreas edêntulas. A Implantodontia vem proporcionando próteses mais estáveis e com melhor retenção, o que eleva o resultado estético e funcional. Porém, a utilização de implantes osseointegráveis é comprometida pelo processo de reabsorção óssea que, muitas vezes, torna-se uma contraindicação temporária. Além dos fatores de risco, estruturas anatômicas importantes, como o seio maxilar e o nervo alveolar inferior, podem limitar a disponibilidade óssea para a instalação de implantes osseointegráveis.
A atrofia do rebordo alveolar é uma das patologias mais importantes gerada pela perda do elemento dental e pode ser causada por fatores como trauma, doença periodontal e perda de estruturas ósseas durante exodontias. Na região posterior da mandíbula e na região posterior de maxila, à medida que o processo de reabsorção acontece, a proximidade do canal mandibular ou o assoalho do seio maxilar em relação à crista óssea tornam-se mais evidentes, muitas vezes resultando em uma altura óssea incompatível para a colocação de implantes regulares. Técnicas cirúrgicas invasivas, tais como levantamento de seio maxilar, enxertos ósseos, transposição do nervo alveolar e distração osteogênica, são necessárias para restabelecer a geometria óssea ideal para instalar implantes regulares (comprimento maior ou igual a 8,5 mm e diâmetro maior ou igual a 3,5 mm).
Várias técnicas cirúrgicas de enxertia e aumentos ósseos, assim como novos desenhos de implantes, têm sido desenvolvidas na tentativa de resolver este problema. Implantes curtos têm sido sugeridos como opção de tratamento às cirurgias mais invasivas com alto grau de morbidade e que demandam longo tempo de tratamento.
Implantes curtos foram definidos como dispositivo com comprimento intraósseo de 8 mm ou menos. A possibilidade do tratamento de áreas maxilares através de procedimentos menos invasivos e com boa previsibilidade tem conferido importância ao estudo do implante curto. Complementarmente, modificações no tratamento de superfície e na macrogeometria dos implantes, assim como o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas e o melhor conhecimento de biomecânica aplicada a estes implantes, aumentaram o sucesso e a sua sobrevida.
Uma revisão sistemática recente¹ apresentou a previsibilidade dos implantes curtos em reabilitações implantossuportadas, desde que haja um correto planejamento cirúrgico-protético. Porém, apesar de todo o desenvolvimento de novos tratamentos de superfície, macrogeometrias e desenhos de espiras dos últimos anos, uma remodelação óssea na região de crista óssea marginal peri-implantar ainda pode ser observada independentemente destes avanços. Fisiologicamente, a resposta biológica ao trauma relativo aos procedimentos cirúrgico-protéticos ainda poderá ser constatada após um ano da reabilitação protética. É esperada uma remodelação óssea marginal que pode atingir valores aproximados de 1,5 mm no primeiro ano e 0,2 mm nos anos seguintes, o que poderia ser um problema na utilização de implante curto, principalmente com conexão hexagonal. Esta estabilidade peri-implantar será responsável pela manutenção dos tecidos moles ao redor do conjunto implante- pilar e é considerada um dos parâmetros de avaliação de sucesso e longevidade estética e funcional dos implantes.
Atualmente, a colocação de implantes curtos, quando ponderados fatores como influência biomecânica, número de implantes e arco antagonista, tem apresentado taxas de sobrevida comparáveis com implantes de comprimentos convencionais. Outra preocupação em relação aos implantes curtos é a eficiência na dissipação das cargas mastigatórias, para isso a metodologia de elementos finitos tem sido muito empregada.
Portanto, os implantes curtos são uma alternativa viável por ser uma abordagem cirúrgica mais simples, menos invasiva, mais rápida e de resultados previsíveis. Atualmente, ao avaliar fatores como influência biomecânica, número de implantes e antagonista, a colocação do implante curto tem apresentado taxas de sobrevida comparáveis a implantes de comprimento convencional. Apesar de sua utilização ser possível em quantidade óssea vertical limitada, requer uma espessura óssea do rebordo alveolar adequada. Tendo esses pontos em mente, implantes curtos podem ser uma ótima opção para áreas limítrofes.
Coordenação:
Jamil A. Shibli
Professor titular do programa de pós-graduação – Universidade Guarulhos (UnG); Livre-docente do Depto. de CTBMF e Periodontia – Forp/USP; Doutor, mestre e especialista em Periodontia – FOAr/Unesp.
Orcid: 0000-0003-1971-0195.
Autor convidado:
Luiz Carlos Zanatta
Doutor e mestre em Implantodontia – UnG; Coordenador dos cursos de especialização em Implantodontia – Espeo e Faoa; Professor dos cursos de especialização em Implantodontia – Unip e Universidade Católica de Murcia, Uruguai.