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Implantes curtos e extracurtos são viáveis?

A utilização de implantes curtos e extracurtos tem sido sugerida como alternativa a enxertos na ausência de altura óssea, por apresentar menor morbidade, custo e tempo de tratamento na reabilitação de maxilares atróficos1,2. Implantes curtos (7 mm) eram associados à baixa taxa de sucesso e a resultados imprevisíveis3. Segundo os autores, as complicações no seguimento dos implantes de 3,75 mm x 7 mm mostraram uma falha maior (9,7%) comparada aos implantes de 10 mm (6,3%), sugerindo que implantes curtos de 7 mm trariam risco em tratamentos.

No entanto, estudos clínicos randomizados mais recentes demonstraram similaridade entre implantes curtos e convencionais em região posterior em áreas enxertadas ou não4-11. Diante da variedade de classificação usada nos estudos, em 2016, durante o consenso da Associação Europeia de Implantodontistas (EDI), estabeleceu-se a denominação implante curto para implantes menores ou iguais a 8 mm de comprimento e 3,75 no mínimo de diâmetro, e extracurtos para os implantes menores ou iguais a 6 mm12.

Aspectos como menor contato ósseo, estabilidade primária e relação coroa-implante (C/I) podem intuir pior prognóstico a longo prazo. Diante dessas controvérsias, o objetivo desta revisão foi avaliar as taxas de sobrevida de implantes curtos e extracurtos, e discutir o impacto do aumento da relação coroa-implante nas complicações biológicas e técnicas. O 6th ITI Concensus Conference, realizado em 2018, resultou em uma revisão sistemática que estabeleceu critérios para a eleição de implantes curtos ou convencionais12. A saber:

• Taxa de sucesso semelhantes (96% x 98%), que diminui em função do tempo;

• Remodelação óssea menor para os implantes curtos (+0,06 a −1,22 mm);

• Taxa de complicações cirúrgicas maior nos implantes longos associada a enxertos ósseos (32,8%) do que implantes curtos (6,8%);

• Taxa de sucesso da prótese/ implante curto foi de 98,6%, e implante longo ficou em 99,5%;

• Não recomendação de carga imediata para implantes curtos;

• Uso de implantes curtos esplintados;

• Tempo de osseointegração de seis semanas a seis meses;

• Inovações e melhorias nos desenhos e conexões para implantes curtos e extracurtos.

Dentro dessa nova abordagem, autores13 concluíram, em uma revisão sistemática e metanálise, que um ano após carga os implantes extracurtos (4 mm) tiveram comportamento igual aos convencionais instalados em área enxertada e poucas complicações.

Estes autores propõem que implantes extracurtos são a melhor escolha quando houver necessidade de aumento ósseo nos maxilares atróficos. Apesar das controvérsias, os recentes resultados com esses implantes são promissores.

Em outro estudo14, a taxa de sucesso dos implantes curtos foi de 100% após dois anos. Já o trabalho de outra equipe15, relatou que a taxa de sucesso dos implantes curtos foi de 97,6% após três anos; relação coroaimplante desfavorável; estabilidade primária inadequada e contato osso-implante estão associados à falha de implantes curtos e extracurtos15.

O uso de implantes curtos e extracurtos leva a uma proporção coroa-implante aumentada15,16. Essa proporção tem sido associada à carga não axial, pois forças oclusais induzem a um movimento flexor no qual o comprimento da coroa protética age como um braço de alavanca, causando estresse no osso peri-implantar, o que eventualmente levaria à perda óssea marginal17-18.

Todavia, estudos clínicos recentes revelaram que o aumento da proporção coroa/implante não foi acompanhado por uma maior perda óssea marginal em curto, médio e longo prazo16-19, e que uma relação coroa-implante elevada isoladamente não causa remodelação óssea clinicamente significativa20-22.

Autores23 relataram uma taxa de sobrevivência de 95,8% para implantes com uma relação coroa-implante desfavorável em um período de cinco anos em função, e concluíram que a relação coroa-implante não influenciou o desempenho clínico dos implantes.

Já outro estudo15 sugere que a observação do comportamento ósseo marginal ao redor de implantes extracurtos na reabilitação de mandíbulas posteriores atróficas nos traz um conceito contraintuitivo, sugerindo que quanto maior a relação coroa-implante, menor a perda óssea marginal, dentro de um padrão de relação até 3/1. Essa resposta inesperada do tecido ósseo pode ser explicada pela teoria de Frost24, que sugere que a resposta do osso frente à carga é favorável, desde que esta não supere a tensão máxima de resistência do osso.

Uma análise criteriosa desta literatura pode induzir a reflexões conflitantes. No entanto, a incorporação de novas tecnologias, tais como uma macrogeometria altamente eficiente, e que possibilite uma alta estabilidade primária, um tratamento de superfície que incremente e acelere a resposta óssea, além de conexões protéticas sem micromovimentação e distante da margem óssea, poderão consagrar a indicação segura dos implantes curtos e extracurtos.

Caso clínico com acompanhamento de 15 meses, com utilização de implantes Helix Short, da Neodent.

Referencias

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