Existe uma propensão maior à peri-implantite em pacientes com histórico de doença periodontal? Marco Bianchini explica.
A peri-implantite foi definida como uma condição patológica associada à placa, que ocorre no tecido ao redor dos implantes dentários, caracterizada por inflamação na mucosa peri-implantar e subsequente perda progressiva do osso de suporte1. Geralmente, essa doença é precedida por uma mucosite, pois está associada ao controle deficiente da placa e em pacientes com histórico de periodontite grave2-6.
Existem fortes evidências1-6 de que há um risco aumentado de peri-implantite em pacientes com histórico de periodontite, controle de placa deficiente e nenhum cuidado de manutenção regular após a terapia com implantes. Todos esses indicadores estão relacionados com o biofilme ou a doença periodontal propriamente dita. Assim, quando se faz um planejamento para colocação de implantes dentários, é imprescindível dar atenção maior aos “pacientes periodontais”.
A periodontite é uma doença comum e sua forma grave ocupa o sexto lugar entre os distúrbios mais prevalentes no mundo1. A literatura é rica em relatos1-3 de possível associação entre histórico de periodontite (principalmente as antigas crônica ou agressiva) e a peri-implantite. Desta forma, existem fortes evidências de estudos longitudinais e transversais de que uma história de periodontite constitui um fator de risco para peri-implantite1.
A importância clínica destes achados científicos é muito grande, pois a maioria dos pacientes perde seus dentes por doença periodontal e os repõem por meio de implantes osseointegrados. Nesses pacientes, existe uma propensão maior à peri-implantite, o que exige dos clínicos atenção especial. As Figuras 1 e 2 ilustram um caso de periodontite como fator de risco para peri-implantite.
Na Figura 1, observa-se o elemento 36 condenado por doença periodontal. Na Figura 2, observa-se o aparecimento precoce da peri-implantite em um implante colocado na mesma região do 36, que foi perdido por doença periodontal.
A conduta mais correta nesses casos é alertar o paciente do risco envolvido e colocá-lo em uma terapia de suporte mais rígida, com intervalos de tempos menores (três meses, no mínimo). Neste programa, serão realizadas consultas de manutenção para avaliações clínicas e radiográficas que possam determinar indícios de peri-implantite, viabilizando um tratamento precoce que evite danos.
Já está bem estabelecido na literatura que os cuidados de suporte regulares são um fator importante para a saúde peri-implantar. As manutenções periódicas devem ser realizadas como medidas preventivas em pacientes com histórico de doença periodontal que receberam implantes, assim como a terapia de suporte deve ser realizada após o tratamento de suposta peri-implantite. Essas medidas reduzem bastante o risco do aparecimento precoce de peri-implantite ou de recidivas em casos já tratados.
Por fim, vale lembrar que, no dia a dia clínico, muitos implantes são colocados em circunstâncias abaixo do ideal e, geralmente, em pacientes que perderam os dentes por doença periodontal. Como resultado, pode haver aumento da prevalência de peri-implantite associada a essas situações e cabe ao clínico atentar-se a isso para que esses pacientes periodontais sejam adequadamente monitorados.
Referências
1 – Schwarz F, Derks J, Monje A, Wang HL. Peri‐implantitis. J Clin Periodontol 2018;45(Suppl 20):S246-66.
2 – Berglundh T et al. Peri‐implant diseases and conditions: Consensus report
of workgroup 4 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri‐Implant Diseases and Conditions. J Clin Periodontol 2018;45(Suppl 20):S286-91.
3 – Dalago HR, Schuldt Filho G, Rodrigues MA, Renvert S, Bianchini MA. Risk indicators for peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Clin Oral Implants Res 2017;28(2):144-50. doi: 10.1111/clr.12772. Epub 2016 Jan 11. PMID: 26754342.
4 – Ferreira CF, Buttendorf AR, de Souza JG, Dalago H, Guenther SF, Bianchini MA. Prevalence of peri-implant diseases: analyses of associated factors. Eur J Prosthodont Restor Dent 2015;23(4):199-06. PMID: 26767242.
5 – Passoni BB, Dalago HR, Schuldt Filho G, Oliveira de Souza JG, Benfatti CA, Magini Rde S, Bianchini MA. Does the number of implants have any relation with peri-implant disease? J Appl Oral Sci 2014;22(5):403-8. doi: 10.1590/1678-775720140055. PMID: 25466474.
6 – Schuldt Filho G, Dalago HR, Oliveira de Souza JG, Stanley K, Jovanovic S, Bianchini MA. Prevalence of peri-implantitis in patients with implant-supported fixed prostheses. Quintessence Int. 2014;45(10):861-8. doi: 10.3290/j.qi.a32566.PMID: 25126637.
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Depto. de Odontologia – Universidade Federal de Santa Catarina; Autor dos livros O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia e Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-implantares.