Apesar de existirem diversas complicações peri-implantares, elas podem ser potencialmente reduzidas com planejamento e retornos periódicos do paciente.
Apesar dos implantes dentários apresentarem taxas de sucesso superiores a 80%1, também apresentam complicações que podem interferir na biomecânica, estética e saúde dos tecidos peri-implantares. Dentre as complicações biológicas, estão as doenças que acometem os tecidos peri-implantares.
A peri-implantite é uma doença infecciosa com sinais clínicos inflamatórios relacionados a sangramento difuso/ supuração à sondagem associada à perda óssea radiográfica além da esperada durante a fase de remodelação óssea fisiológica2. Esta condição apresenta intensa progressão e severidade, principalmente quando comparada à doença periodontal3. Além disso, a doença peri-implantar está associada a diversos fatores indicadores de risco que predispõem o indivíduo a desenvolver a doença como histórico prévio de doença periodontal4-5, coroas sobre implante cimentadas com excesso de cimento6, seleção inadequada de pilar protético, falta de passividade da estrutura metálica, posicionamento tridimensional inadequado do implante7, ausência de mucosa ceratinizada8, tabagismo4,7,9-10 e diabetes mellitus4,11.
Frente a isto, diversas técnicas de tratamento para a peri-implantite vêm sendo sugeridas na literatura. No entanto, ainda não há superioridade e consenso dentre as descritas. Acessos cirúrgicos são indicados para melhor eliminar os irritantes locais e auxiliar no reparo do defeito ósseo12. Adicionalmente, métodos mecânicos, químicos e físicos para remoção e descontaminação do biofilme também são fortemente sugeridos. Diante da dificuldade de tratamento e agressividade da progressão da peri-implantite, é recomendado inserir os pacientes reabilitados com coroas implantossuportadas em programas de terapia peri-implantar de suporte, com radiografias periapicais anuais e rigorosos exames clínicos12-13.
Além das complicações biológicas, as complicações biomecânicas também acometem frequentemente os implantes dentários. Dentre elas, destacam-se a ausência de passividade da infraestrutura protética, fratura do implante, seleção inadequada do componente protético, sobrecarga oclusal, afrouxamento/fratura dos parafusos de retenção protética e fratura da prótese. Todas estas complicações podem ser prevenidas pelo adequado planejamento cirúrgico e protético, respeito às recomendações do fabricante, diagnóstico e tratamento de hábitos parafuncionais, adequado posicionamento tridimensional do implante, adequado ajuste oclusal, redução da extensão de cantiléver, minucioso exame clínico para inspeção visual e radiográfica, e consultas de manutenção para constante inspeção do tecido peri-implantar e sistema de coroas implantossuportadas.
Na atualidade, complicações relacionadas aos implantes dentários não se isolam a falhas biológicas e mecânicas. A exigência dos pacientes em relação à estética tem sido uma queixa frequente. Portanto, grande atenção deve ser dada em relação ao aparecimento e evolução dos defeitos peri-implantares15-17. As falhas estéticas podem estar relacionadas ao deslocamento apical da margem da mucosa peri-implantar18, perda de papila, perda do volume vestibular e alterações de coloração e textura15.
Múltiplos fatores causais influenciam sua ocorrência e desenvolvimento, tais como áreas que sofreram trauma, implante dentário mal posicionado, fenótipo peri-implantar fino, insuficiente largura e espessura da mucosa ceratinizada, e inadequada altura e espessura da crista óssea peri-implantar19-21. Diante de um defeito peri-implantar, as técnicas de tratamento são complexas e variam de acordo com a causa. O profissional deve associar, além do enxerto de tecido mole, o diagnóstico da etiologia do defeito peri-implantar para que a manipulação tecidual e o plano de tratamento sejam de fato assertivos.
Apesar de existirem diversas complicações associadas aos implantes dentários, elas podem ser potencialmente reduzidas com um adequado planejamento e estabelecimento de retornos periódicos do paciente para minucioso exame clínico e radiográfico. Recomenda-se, portanto, o estabelecimento de consultas de terapia peri-implantar de suporte com periodicidade individualizada para controle e prevenção das complicações e doenças peri-implantares.
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Coordenação:
Elcio Marcantonio Jr.
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia, e coordenador do curso de especialização em Implantodontia – FOAr/Unesp; Professor colaborador do Ilapeo.
Orcid: 0000-0002-9660-4524.
Autora convidada:
Carolina Mendonça de Almeida Malzoni
Mestra em Periodontia, especialista e doutoranda em Implantodontia – Faculdade de Odontologia de Araraquara (FOAr/Unesp).