Pesquisadores da Faculdade São Leopoldo Mandic desenvolveram em 2019 um novo conceito de reconstrução óssea denominado Barbell Technique. Conheça os atuais apontamentos da técnica.
O uso de implantes osseointegráveis como ferramenta para a reabilitação de pacientes desdentados parciais ou totais tem aumentado de forma significativa nos últimos anos, conforme os dados publicados pela Associação Brasileira da Indústria de Artigos Médicos e Odontológicos (Abimo), mostrando a comercialização de mais de três milhões de implantes por ano. Paralelo a isso, o número de procedimentos cirúrgicos reconstrutivos também vem aumentando em vista da necessidade de preparar o local para receber tais fixações. Esses procedimentos visam ao aumento ósseo aposicional, ou seja, utilizam técnicas e materiais que proporcionem o ganho ósseo em espessura (aumentos horizontais) e em altura (aumentos verticais).
Contudo, dois dos maiores problemas nos procedimentos regenerativos são: criar e manter o espaço adequado para permitir o ganho ósseo de acordo com as reais necessidades do caso e, assim, possibilitar a instalação dos implantes na correta posição tridimensional determinada pelo planejamento protético. Além disso, muitas vezes as dificuldades aparecem por falta de materiais ou técnicas apropriadas para alcançar os resultados desejados. Dessa forma, o grupo tem preconizado o uso do termo “reconstrução óssea efetiva”, ou seja, de acordo com as reais necessidades.
Dentro desse escopo, pesquisadores da Faculdade São Leopoldo Mandic desenvolveram em 2019 um novo conceito de reconstrução óssea denominado Barbell Technique, o qual permite o aumento ósseo de forma efetiva previamente à instalação de implantes osseointegráveis por meio de um dispositivo de descompressão tecidual. O estudo preliminar foi publicado em abril de 2020 no periódico internacional Journal of Oral Implantology.
Na sequência dessa nota técnica, os pesquisadores realizaram um novo estudo para avaliar a eficácia do dispositivo em procedimentos de aumento ósseo horizontal bidirecional em pacientes com defeitos em maxila e mandíbula. Dez pacientes foram separados em dois grupos de acordo com a classificação de defeitos ósseos HAC (Horizontal Alveolar Change), proposta pelo grupo em 2018 e publicada no mesmo ano no periódico Brazilian Oral Research. Tal classificação leva em consideração a presença ou não de tecido medular na região dos defeitos ósseos, servindo como diretriz para determinar a melhor técnica e o tipo de material a ser utilizado na reconstrução.
Os pacientes participantes do estudo realizaram exame de tomografia computadorizada cone-beam no início do tratamento, para análise da quantidade óssea e caracterização dos defeitos. Posteriormente, aos seis meses de reparação, os pacientes foram orientados a repetir o exame tomográfico para avaliar a quantidade e qualidade do tecido ósseo formado com o uso da Barbell Technique.
Os resultados mostraram efetividade do dispositivo em permitir o aumento ósseo aposicional horizontal de forma bidirecional, independentemente da categorização inicial do defeito ósseo, demonstrado nas imagens tomográficas (Figuras 1) e nas Tabelas 1 e 2. Em ambos os grupos, os resultados mostraram ganhos ósseos superiores a 4 mm, entretanto os valores alcançados no grupo HAC 4 chamam a atenção pela característica crítica do defeito, ou seja, a ausência de tecido medular. Nesses casos, houve a necessidade de misturar o material autógeno ao biomaterial, a fim de proporcionar vascularização, células e fatores de crescimento importantes para o processo regenerativo – e que o leito receptor por si só não seria capaz de prover.
Vale ressaltar que, dentro dos princípios da regeneração óssea guiada (ROG), fatores como manutenção do espaço e estabilidade do material de enxertia são essenciais para o sucesso e a previsibilidade dos resultados. Aliada a isso, a compressão sobre o material de enxertia, em virtude da contração dos tecidos durante o período pós-operatório, associada às compressões por ação muscular, pode promover o desalojamento das partículas do biomaterial, prejudicando os resultados. Nesse ponto, o design do dispositivo Barbell se mostrou eficiente na manutenção do espaço, fazendo a descompressão dos tecidos e permitindo que o material de enxertia permanecesse no local durante todo o período regenerativo, haja vista os resultados de volume encontrados e que podem ser evidenciados clinicamente (Figuras 2).
Em breve, compartilharemos os resultados dos aumentos ósseos verticais evidenciando a versatilidade do dispositivo.
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Artigo citado: Pelegrine AA, de Macedo LGS, Aloise AC, Moy PK. Barbell Technique: a novel approach for bidirectional bone augmentation: technical note. J Oral Implantol 2020;46(4):446-52. doi: 10.1563/aaid-joi-D-19-00323.
Conteúdo disponibilizado pelo corpo docente da Faculdade São Leopoldo Mandic: André Pelegrine, Antonio Carlos Aloise, José Luiz Cintra Junqueira, Luís Guilherme Macedo, Marcelo Napimoga, Marcelo Lucchesi Teixeira e Vagner Ortega.