Durante muitos anos, realizei meus projetos de enceramento de diagnóstico na técnica de adição de cera sobre modelos de gesso. Esta etapa é imprescindível para gerar um trabalho com previsibilidade e sempre deve ser preconizada ao iniciar um tratamento reabilitador. Muitas publicações e livros mostram a necessidade de construir e idealizar o esboço de trabalho final, pois guiará os passos do tratamento clínico e laboratorial. Frequentemente, observa-se muitos projetos sendo realizados em softwares (CAD/CAM), os quais oferecem velocidade e higiene do ambiente de trabalho como fortes aliados. Por outro lado, é preciso ter cuidado em algumas etapas para ser produtivo. Por isso, vou compartilhar minhas experiências deste fluxo que já executo há alguns anos no dia a dia.
O primeiro passo é selecionar o formato dos dentes que serão utilizados no projeto, baseando-se no contorno gengival do próprio paciente. Isso deve ser uma regra, pois ajuda na acomodação do dente da biblioteca sobre os dentes já existentes no arco do paciente. Essa seleção evita distorção da malha da biblioteca e também o excesso de sobrecontorno gengival entre a malha da biblioteca e a malha do arco do paciente.
Depois, costumo recortar a malha dos dentes da biblioteca, caso tenham sua base da raiz fechada (por não permitir ver a malha internamente durante o posicionamento e a readequação do contorno durante a construção do projeto). Isso agiliza o trabalho e melhora a visualização do contorno cervical dos dentes da biblioteca em relação ao contorno cervical dos dentes do paciente.
Uma vez recortada a base dos dentes, coloque-os no arco do paciente levando em consideração a melhor posição em relação aos dentes naturais em boca. Independentemente do tamanho dos elementos dentários da biblioteca em relação aos do paciente, busque a melhor posição.
Após essa etapa, regularize os tamanhos dos dentes sobre o arco do paciente. Use a ferramenta disponível do software para aumentá-los ou diminui-los, seja de maneira homogênea ou pontualmente. Faça isso para que o tamanho esteja o mais próximo e compatível com os dentes naturais. Tome cuidado com o excesso de volume vestibular, um erro muito comum em projetos de diagnósticos realizados em softwares. Dê transparência aos dentes e use também a ferramenta de medição de volume disponível no programa.
Em seguida, realize o ajuste de contorno cervical respeitando os limites do paciente, podendo utilizar as ferramentas de ajuste de forma, como demonstra o vídeo a seguir (veja box). Evite usar as ferramentas de acrescentar ou diminuir para não causar alterações no formato do dente. As ferramentas que mais utilizo nessa etapa são “Partes do Dente”, “Cúspides” ou “Cresta”, conforme o volume ou a área que será modificada.
Pouco a pouco, vou ajustando os contornos de cada dente e seguindo o contorno gengival do paciente. Nota-se uma acomodação mais realista com o arco do paciente e uma diminuição de distorção da malha do dente da biblioteca, o que torna o trabalho mais rápido e previsível. Durante este ajuste, é comum partes da malha dos dentes da biblioteca exporem a malha do arco do paciente. Neste caso, basta dar ênfase no posicionamento cervical dos dentes da biblioteca e somente depois passar para os ajustes das partes expostas. Para isso, são usadas as mesmas ferramentas de arrasto para devolver a sobreposição dos dentes do projeto sobre o arco do paciente. Usar as ferramentas de acréscimo ou desgaste altera significativamente o formato da malha dos dentes e prejudica a execução do projeto.
Feito todos esses ajustes, é hora de avaliar os contatos dentários. Nesta fase, pode-se utilizar a ferramenta “Suavizar” para não perder a largura dos dentes e preservar o sobrecontorno dos dentes da biblioteca sobre os do paciente. Ou também usar as ferramentas “Partes do Dente” ou “Cúspides”. Então, remove-se da tela o arco do paciente, deixando somente em exposição os dentes da biblioteca. Olhando a malha internamente, vou suavizando o excesso de contato proximal entre os dentes, removendo aos poucos e de maneira comedida o excesso desse contato. Assim, preserva-se a forma dos dois dentes ao mesmo tempo. Com as mesmas ferramentas, finalizo as pequenas variações dos formatos entre os dentes e o projeto chega ao fim. Terminada a construção de um novo sorriso, faço a impressão do modelo em impressora 3D enquanto dou seguimento em outra tarefa, otimizando meu tempo.
Com o uso das ferramentas digitais, o trabalho técnico tem se tornado cada vez mais rápido e com um ambiente cada vez mais limpo. Desde que iniciei meus projetos estéticos utilizando software, não me vejo mais usando gotejadores elétricos e instrumentos de desgaste, apenas ferramentas digitais.
Na próxima edição, farei uma abordagem sobre procedimentos para impressão de modelos 3D.
Abaixo, veja o vídeo sobre como fazer o ajuste cervical.
David Morita
Técnico em Prótese Dentária – Senac; Proprietário do Laboratório e Instituto de Treinamento David Morita; Segundo secretário da Assembleia Administrativa da SBO Digital.