Diogo Viegas ilustra o uso do articulador virtual em caso clínico, comparando a montagem da arcada superior com valores médios e com arco facial digital.
A Odontologia tem sofrido uma grande evolução em um curto espaço de tempo1. Muitos dos processos analógicos que estão consolidados há décadas, como a montagem do modelo superior em articulador com arco facial, transitam lentamente para o mundo digital2. Mas será tão simples assim? Será que os códigos de validação dos programadores de software estão concluídos4? Uma das grandes vantagens da utilização do analógico é conhecermos os erros que estão associados, assim como o seu antídoto. No entanto, ele apresenta algumas desvantagens, como o tempo, a deformação dos modelos, a espessura e a estabilização do registro, o tipo de articulador usado (oclusor, semiajustável e totalmente ajustável) e o operador4.
O aparecimento de novas ferramentas digitais tem revolucionado a nossa forma de trabalhar. Uma das grandes vantagens da sua aplicação tem sido a simplificação dos processos, a redução do tempo de trabalho, a diminuição dos erros inerentes ao operador e também dos materiais. Por fim, o objetivo é aumentar o êxito5. Mas será que chegamos ao “cálice sagrado” ou estamos começando a validar a nova era digital?
No mundo digital, o modelo maxilar pode ser montado segundo a utilização de valores médios (como o triângulo de Bonwill), de uma forma arbitrária ou com recurso a arco facial5. Infelizmente, ainda não existe um fluxo de trabalho padrão para montar os moldes do paciente no articulador virtual2.
Hoje é possível, através de um dispositivo, registrar em função os movimentos mandibulares e usar essa informação para diagnóstico, confecção de restaurações ou de placas miorrelaxantes. Existem diversos no mercado, entre eles: Modjaw (Sainte- Helene-du-Lac, França), JMA Analyser+ (Zebris Medical GmbH – Isny, Alemanha), SDI Matrix (Meilen, Zurique, Suíça), Cranioplan (DASADent GmbH – Hamburgo, Alemanha), FreeCorder NXT (Orangedental GmbH & Co KG – Biberach, Alemanha) e Ignident (Ignident GMBH, Niederlassung Tegernsee, Alemanha) e Plane System (Zirkonzahn – Gais, Itália)3.
Muitos dos dispositivos que gravam a cinemática mandibular também funcionam como arco facial, e isso é uma vantagem muito importante para o cirurgião-dentista. E por que essa informação é importante? Para eliminar os erros resultantes ao arco de encerramento e, consequentemente, diminuir os ajustes necessários no dia da inserção da restauração, diminuindo também o desconforto para o paciente6. Os softwares de CAD têm se desenvolvido com a ajuda do clínico, no sentido de incorporar essa informação e simular por intermédio do articulador virtual os movimentos excursivos. A tecnologia tem sido uma aliada importante no desenvolvimento e no aprimoramento do cirurgião-dentista.
Para demonstrar melhor esse conceito, ilustro na forma de um caso clínico, por meio de uma comparação entre a montagem da arcada superior com valores médios e com arco facial digital (Modjaw).
Referências
- Blatz MB, Chiche G, Bahat O, Roblee R, Coachman C, Heymann HO. Evolution of aesthetic dentistry. J Dent Res 2019;98(12):1294-304.
- Elkady AAM, Ameen SA, Sami RN. Intraoral occlusal adjustment time and volume required for CAD/CAM crowns fabricated with different virtual mounting methods (a randomized crossover trial). BDJ Open 2023;9(1):19.
- Lepidi L, Galli M, Mastrangelo F, Venezia P, Joda T, Wang HL et al. Virtual articulators and virtual mounting procedures: where do we stand? J Prosthodont 2021;30(1):24-35.
- Adrien P, Schouver J. Methods for minimizing the errors in mandibular model mounting on an articulator. J Oral Rehabil 1997;24(12):929-35.
- Goldstein G, Goodacre C. Selecting a virtual articulator: an analysis of the factors available with mechanical articulators and their potential need for inclusion with virtual articulators. J Prosthodont 2023;32(1):10-7.
- Koralakunte PR, Aljanakh M. The role of virtual articulator in prosthetic and restorative dentistry. J Clin Diagn Res 2014;8(7):ZE25-8.
Diogo Viegas
Pós-graduado e técnico em Prótese Dentária, doutor em Ciências da Reabilitação Oral e professor assistente convidado de Prótese Fixa e Reabilitação Oral – FMDUL, em Portugal.