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A beleza da simplicidade

Diogo Viegas apresenta caso que ilustra bem que o conceito de um planejamento bem feito pode resultar realmente em uma reabilitação minimamente invasiva. 

“Less is more”. Em português, “menos é mais”. Essa frase foi adaptada em 1947 pelo arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, que desenvolveu o estilo internacional e criou edifícios icônicos no século 20, sempre com base nas linhas simples, mas funcionais, estruturas de aço e vidro1.

Confúcio postulava: “A vida é realmente simples, mas insistimos em torná-la complicada”. Leonardo da Vinci, mestre do Renascimento, referia-se à “simplicidade como a sofisticação suprema”. Ao longo dos séculos, vários filósofos, artistas, cientistas e cidadãos comuns procuraram na natureza formas de simplificar, diminuir a entropia e reduzir ao essencial. Os edifícios tornaram-se retos, os carros ficaram aerodinâmicos e com menos botões, o mobiliário escandinavo foi adaptado em todo o mundo e a meditação passou a fazer parte dos nossos dias. A Odontologia não foi exceção. Após anos de reabilitações totais, intervenções que desgastavam a estrutura dentária e obrigavam a desvitalizações em massa estão perdendo cada vez mais espaço para o “Less is more”2-3.

O planejamento interdisciplinar dos casos nos fez atingir outro patamar na Reabilitação Oral. O trabalho em conjunto de protesistas, periodontistas, ortodontistas e técnicos de laboratório, com um planejamento digital, nos dá ferramentas para projetar a posição final dos dentes, o que possibilita mantê-los o mais intocáveis possível4-5. Através de tecnologias atuais, como Digital Smile Design, Exocad Smile Creator, Invisalign Smile Arquitect, Biotech Smilecloud, escaneamento facial, entre outros, é gerado um arquivo do tipo .STL para simular e ensaiar várias posições dentárias finais com o intuito da abordagem ortodôntica e restauradora ser minimamente invasiva6.

O relato a seguir teve como objetivo enfatizar o trabalho multidisciplinar na resolução de casos restauradores, com a apresentação da aplicação deste conceito em um caso clínico. O paciente queixava-se de diastemas generalizados (Figuras 1 e 2). Foi realizada uma simulação pelo cirurgião-dentista com o objetivo de encerrar os espaços existentes com facetas nos quatro incisivos superiores, tendo como base a proporção anterior e análise de Bolton para ajudar a atingir a melhor estética e função para o paciente (Figuras 3 e 4)7-8.

Após o mock-up colocado na boca (Figura 5), a primeira queixa do paciente foi a espessura do bordo incisal. A capacidade proprioceptiva da língua detectou a restauração provisória sobrecontornada, juntamente com alteração na fonética. O paciente não validou o mock-up e foi necessário alterar o plano de tratamento, que consistia em tratamento ortodôntico para fechar o diastema e uso de laminados nos incisivos laterais.

Com o recurso de um software de alinhadores, foi gerado um plano de tratamento de 14 alinhadores com encerramento de todos os diastemas de ambas as arcadas (Figuras 6 e 7). A forma dos incisivos laterais não era favorável esteticamente, mas os caninos e os centrais ficavam em boa posição. Neste momento, o plano reabilitador passou de quatro para duas facetas. Recorrendo à simulação digital, foi possível realizar o planejamento da posição final dos dentes 12 e 22 (Figuras 8 a 12), com alteração do torque, terminando com o bordo incisal mais palatinizado do que os dentes adjacentes.

Este caso ilustra bem que o conceito de um planejamento bem feito pode resultar realmente em uma reabilitação minimamente invasiva. A combinação da análise do set-up ortodôntico digital e da simulação dentária digital permitiu o planejamento do movimento dos dentes 12 e 22 especificamente, diminuindo a possibilidade de erro e de um tratamento mais invasivo. Este é um bom exemplo de que a abordagem ortodôntica e restauradora resulta em uma dentição estética, funcional e saudável.

Referências

  1. Okten AI. Minimalism in Art, Medical Science and Neurosurgery. Turk Neurosurg 2018;28(2):307-12.
  2. Farias-Neto A, de Medeiros FCD, Vilanova L, Chaves MS, de Araújo JJFB. Tooth preparation for ceramic veneers: when less is more.
  3. Blatz MB, Chiche G, Bahat O, Roblee R, Coachman C, Heymann HO. Evolution of aesthetic dentistry. J Dent Res 2019;98(12):1294-304.
  4. Spear FM, Kokich VG. A multidisciplinary approach to esthetic dentistry. Dent Clin North Am 2007;51(2):487-505.
  5. Norris RA, Brandt DJ, Crawford CH, Fallah M. Restorative and Invisalign: a new approach. J Esthet Restor Dent 2002;14(4):217-24.
  6. Olçer US Y, Yuzbasioglu E, Albayrak B, Özdemir G. Digital smile design as a communication tool for predictable clinical results: an update and review. J Exp Clin Med 2021;38(S2):123-8.
  7. Bolton WA. Disharmony in tooth size and its relation to the analysis and treatment of malocclusion. Angle Orthod 1958;28(3):113-30.
  8. Aulakh R. The anterior ratio: the missing link between orthodontics and aesthetic dentistry. Case Rep Dent 2013;2013:470637.